Entrevista/ “Ligamos empreendedores ao mercado”

Instalada em Portugal há cinco anos, a InnoEnergy tem uma relação forte com o mundo das start-ups. Ligar os empreendedores ao mercado, ajudando-os a criar negócios sustentáveis e que acrescentem valor, é a aposta da empresa, como explicou ao Link to Leaders a sua country manager.
A InnoEnergy apresenta-se como uma Knowledge and Inovation Community. Em que consiste exatamente uma KIC?
A InnoEnergy (IE) foi criada em 2010 e é apoiada pelo European Institute of Innovation and Technology (EIT), uma instituição da Comissão Europeia criada em 2009. A EIT pretende responder ao paradoxo da inovação europeia nas últimas décadas: apesar de a Europa ter investigação financiada de alta qualidade, a transferência de tecnologia para o mercado europeu não atingiu os níveis ambicionados, e consequentemente com menor impacto no número de postos de trabalho criados e crescimento económico. Para responder a este desafio o EIT estabeleceu várias Knowledge and Innovation Communities (KICs, entre elas a InnoEnergy, na área da energia sustentável) para promover a inovação em áreas prioritárias na Europa, através da operacionalização do triângulo do conhecimento – integração do ensino superior, criação de negócios e o mercado – para resolver alguns dos maiores desafios que a Europa enfrenta atualmente. A KIC InnoEnergy foi a vencedora do concurso público em 2010 na área da energia sustentável.
A KIC InnoEnergy foi a vencedora do concurso público em 2010 na área da energia sustentável. A nossa missão é construir um quadro operacional sustentável e duradouro entre os atores do triângulo do conhecimento no setor de energia sustentável, garantindo que a sua integração seja mais eficiente e tenha um maior impacto na criação de emprego, crescimento e competitividade do sistema energético europeu. Os três objetivos estratégicos de qualquer atividade em que investimos são aumentar a eficiência no uso de energia (€ / kWh), aumentar a segurança na operacionalização dos sistemas energéticos em toda a cadeia de valor e reduzir emissões de gases de efeito estufa (GHG / kwh).
Quais são as vossas principais áreas de inovação?
A nível europeu, a InnoEnergy tem seis roadmaps de investimento prioritário nas seguintes áreas temáticas: instrumentalização nuclear, redes elétricas inteligentes e armazenamento de energia, eficiência energética nas cidades e edifícios (incluindo mobilidade sustentável), energias renováveis, eficiência no uso de combustíveis químicos e biomassa, e tecnologias limpas para o uso de carvão e gás. Em Portugal, apoiamos parceiros, sobretudo, nas áreas das energias renováveis, redes elétricas inteligentes e cidades e edifícios Inteligentes.
Que tipo de atividade desenvolve no mercado nacional?
Em Portugal, desenvolvemos as três atividades principais, à semelhança dos outros escritórios na Europa: educação, projetos de inovação e criação de negócios.
No que concerne a educação, contamos com a participação de parceiros portugueses em quatro programas de mestrado e um programa doutoral na área das energias renováveis. Em 2017, 83 novos alunos IE ingressaram no Instituto Superior Técnico, a universidade parceira em Portugal, distribuídos pelos mestrados ENTECH – Energy Technologies, RENE – Renewable Energy, Clean Fossil and Alternative Fuels Energy e Select – Environomical Pathways for Sustainable Energy Systems. Destes, 26 são do sexo feminino. Os estudantes provêm de 32 nacionalidades diferentes.
Em relação aos projetos de inovação, estamos neste momento a apoiar três consórcios liderados por parceiros portugueses, nomeadamente pela EDP, GALP Energia e Principal Power Europe, nas áreas de renováveis, tecnologias limpas para o uso de carvão e gás e redes elétricas inteligentes, com o objetivo de produzir inovações tecnológicas que contribuam para responder aos objetivos estratégicos já mencionados.
Na área da criação de negócios, apoiamos atualmente, através dos programas de aceleração Highway® e Boostway®, nove empresas portuguesas em diversas áreas tecnológicas, eficiência energética, renováveis, armazenamento de energia, entre outras. Esta atividade apoia empreendedores e PME´s na sua entrada no mercado e/ou na expansão para novos mercados europeus.
A InnoEnergy orgulha-se de reunir inventores e indústria, recém-licenciados e empregadores, investigadores e empresas, empreendedores e mercados… De que forma isso vai acontecer no mercado nacional?
Já está a acontecer! Exemplo disso é um estudante de mestrado ou doutoramento que se torna empreendedor, apoiado pela atividade de criação de negócios, ou que possa trabalhar no consórcio de um projeto de inovação.
O motor da inovação é o mercado onde as empresas e a indústria sentem necessidades cada vez mais urgentes de reinventar os seus negócios e repensar a sua relação com os seus parceiros. A nossa contribuição consiste em ouvir o mercado e encontrar formas de resposta através da ligação entre os pilares da inovação, formando engenheiros com uma forte formação em negócios, investindo no desenvolvimento de soluções tecnológicas de elevado risco com o parceiro comercializador e ajudando as PME a ultrapassarem as barreiras normalmente existentes na entrada dos seus produtos no mercado. O objetivo principal é que a inovação chegue ao mercado com impacto positivo.
Que tipo de apoios disponibilizam aos empreendedores e às start-ups nacionais que pretendam desenvolver ecossistemas de energia com ofertas inovadoras?
A InnoEnergy liga empreendedores ao mercado, ajudando-os a criar negócios sustentáveis e que acrescentem valor. O nosso modelo de negócio baseia-se no investimento de fundos e conhecimento em troca de participação capital ou royalties de vendas. Operamos no sentido de alavancar estas empresas para o mercado, estabelecê-las, para depois podermos fazer uma saída bem-sucedida e voltar a reinvestir esse capital.
São quatro as características que nos distinguem em relação às restantes aceleradoras: temos cobertura europeia, somos especialistas em energia sustentável, apoiamos as ventures, desde o plano de negócio à primeira venda, e temos dois pacotes completos de apoio, os programas de aceleração Highway (para empreendedores e start-ups no início) e Boostway (para empresas estabelecidas à procura de consolidar os seus negócios).
Os nossos programas de aceleração para start-ups ajudam as ventures numa perspetiva holística que incorpora as dimensões do produto, do mercado, das pessoas e das finanças. Em termos de produto, ajudamos em questões como a diligência prévia, mapeamento versus produtos/serviços concorrentes, proteção de propriedade intelectual, melhoramento ou desenvolvimento tecnológico, projetos-piloto e comercialização.
No que concerne ao mercado, fazemos a avaliação de oportunidades, posicionamento no mercado, business case, encontro do consumidor e validação, modelo e plano de negócio e comercialização. Na área dos recursos humanos, damos apoio na avaliação de equipa, formação, melhoramento de equipas e constituição legal. Em termos de capital, damos acesso a capital semente e à comunidade de Venture Capital e redes de Business Angels.
O mercado das start-ups é importante para a empresa?
O ecossistema empreendedor europeu é dinâmico e, em Portugal, tem-se vindo a verificar um crescimento muito relevante na área da energia, muito alavancado pelo acesso, cada vez maior, a novas fontes de financiamento e à mudança que varre o sector da energia. Na IE, a atividade de criação de negócio conta com mais de 100 parceiros na Europa que colaboram connosco no esforço de apoiar as start-ups a terem impacto no mercado. Trabalhar em inovação tem um elevado risco associado à permanência das empresas no mercado, tipicamente realizámos investimento em apenas uma empresa em 10 que nos contactam.
Quais os projetos mais relevantes em que estiveram envolvidos?
A atividade da InnoEnergy em Portugal começou em 2011, altura em que foi lançado o primeiro programa de mestrado na área das Energias Renováveis (MSc RENE). Desde então, as três principais linhas de negócio – Educação, Criação de Negócio e Projetos de Inovação – foram gradualmente inseridas no ecossistema português, a um ritmo rápido e com resultados surpreendentes. Exemplo disso é o último ano letivo, no qual o Instituto Superior Técnico recebeu mais estudantes do que qualquer outra das universidades que fazem parte do consórcio da IE.
A nossa reputação no ecossistema empreendedor português pode também ser medida através das ventures que já têm financiamento e que nos procuram pelos nossos ativos intangíveis. O número de start-ups que apoiamos subiu de seis para 10, em 2016, com uma taxa de sobrevivência de 100%. Conseguimos também fechar negócio com importantes players na área das Venture Capital em Portugal, como a Caixa Capital ou a Portugal Ventures, entre outros.
Nos projetos de inovação, destacamos o apoio a um consórcio que é liderado por um parceiro português, a Principle Power, que está a desenvolver a fase comercial de uma solução eólica offshore de águas profundas. A Principle Power já assegurou o investimento do U.S. Department of Energy (USA) e da Agência Francesa de Meio Ambiente e Gestão de Energia (ADEME), entre outros.
Quais são os vossos principiais parceiros no mercado nacional?
Os parceiros acionistas portugueses da InnoEnergy são o Instituto Superior Técnico, a GALP Energia e a EDP – Energias de Portugal, totalmente ativos nas nossas atividades pela Europa. Adicionalmente aos nossos acionistas, trabalhamos ativamente com mais de duas dezenas de parceiros portugueses, de diversos setores, desde empresas, a associações, universidades, instituições financeiras, clusters, laboratórios de investigação e consultoras.
Que planos tem para a empresa em Portugal?
Alavancada numa estratégia de crescimento, a direção é consolidar a nossa posição e reconhecimento no ecossistema da inovação portuguesa através da partilha de boas práticas e da criação de valor para as nossas empresas. Já temos planeados diversos eventos para 2018, entre eles o Reverse Pitch, um evento de inovação fechado pioneiro em Portugal. Nesta iniciativa, as empresas de grande dimensão apresentam a uma audiência de empreendedores os desafios que têm por resolver relacionados com energia e tecnologias limpas. A primeira edição, que teve lugar em 2016, contou com os top players Autoeuropa, Prio e Tabaqueira e demonstrou resultados positivos visto que uma das empresas envolvidas contratou dois projetos pilotos de dois empreendedores presentes. Estiveram presentes 27 start-ups selecionadas de Portugal, Espanha, Polónia Bélgica e França.
Respostas rápidas:
O maior risco: O elevado risco associado à inovação.
O maior erro: Não arriscar.
A melhor ideia: Depois de alcançada a cultura de excelência na organização, introduzir a noção de que falhar promove o desenvolvimento de novas ideias e a autonomia dos colaboradores.
A maior lição: Inovar requer paixão.
A maior conquista: A capacidade de escutar ativamente.