Opinião
Lean Innovation: aprender rapidamente e minimizar o risco

Na Beta-i, quando falamos de inovação, sabemos que temos uma responsabilidade acrescida, pois, para além de ser um tema que nos é muito querido, é também um tema no qual temos colocado muitos recursos e apostado de forma consistente.
Felizmente não somos apenas nós, como é óbvio, e pode mesmo dizer-se que Portugal tem feito um caminho muito positivo no campo do empreendedorismo e da inovação, e Lisboa em particular é hoje uma das mais importantes capitais empreendedoras da Europa. De facto, dados recentes, recolhidos pelo ‘Global Startup Ecosystem Report’, apontam no sentido de 76% das start-ups de Lisboa terem 2 a 3 fundadores, o que coloca a cidade no 3º lugar mundial neste ranking em particular.
E qual a relevância disto? De acordo com o mesmo estudo, as start-ups com 2 a 3 fundadores são as que mais facilmente se conseguem impor e acabam por ter percursos muito acima de qualquer outra combinação ou métrica de fundadores, o que coloca Lisboa numa boa posição quanto à taxa de sucesso das suas start-ups.
Assim, Portugal parece estar bem colocado para ser um país de escolha para o arranque de novas start-ups globais, pois somos cada vez mais capazes de reter e atrair os recursos necessários para criar uma start-up de alcance global. A digitalização da economia tem permitido às start-ups revolucionar várias indústrias, nomeadamente fintech, educação, e-commerce, medtech, entre muitas outras.
Lean Innovation
Esta constante interação com as start-ups ajuda-nos também a refinar o nosso próprio processo de inovação e a forma como tiramos partido desse processo para montar programas que respondam ao que os nossos parceiros nos pedem.
Uma start-up é uma organização com uma solução inovadora, desenhada para crescer rapidamente, mas que ainda está à procura de um modelo de negócio escalável.
Os modelos tradicionais do processo de inovação baseiam-se principalmente na metodologia linear de planeamento intensivo e na busca da perfeição, para posterior lançamento no mercado. O modelo de LEAN innovation parte de um conceito diferente, o MVP, ou Produto Viável Mínimo, sujeito a uma rápida fase de teste, idealmente em condições reais de mercado. A ideia é ir refinando o conceito inicial, de forma rápida e de custo controlado, ao mesmo tempo que se incorporam learnings reais de mercado.
De forma simplificada, o que diferencia uma start-up de uma PME é o facto da start-up ainda estar à procura do seu modelo de negócio e de ter um nível de incerteza muito mais alto. Leia-se PME como sendo uma nova sapataria, cafetaria, food-truck, etc. Este tipo de negócios apresenta, é certo, a incerteza de implementar um negócio já conhecido noutro sítio. Mas uma start-up, numa fase inicial, nem sabe que forma terá o seu produto final.
Tipicamente, na génese de uma start-up está um problema no mercado que os seus fundadores consideram como estando mal resolvido. A equipa tenta resolver de forma criativa este problema, desenvolvendo uma solução que seja viável, sustentável e desejável.
No processo, a start-up vai afinando a sua proposta de valor, a comunicação com os seus clientes, o seu modelo de receitas, a sua principal base de custos, os recursos e parcerias chave que tem que garantir, para pôr tudo em andamento.
O maior desafio de 99% das start-ups é conseguir fazer isto antes de esgotar os seus (parcos) recursos. É assim uma corrida contra o tempo, até à sustentabilidade ou eventual investimento. Na Beta-i, desenvolvemos, no processo de apoiar centenas de start-ups, uma metodologia que reduz o risco da start-up não chegar ao seu produto, acelerando a aprendizagem da organização, muito importante para criar uma solução que tenha ressonância no mercado. Chamamos a esta metodologia LEAN innovation.
Constatámos que todas as áreas que tocam no empreendedorismo, desenvolveram as suas próprias abordagens para acelerar e melhorar o processo de inovação. Da engenharia vem a LEAN startup (nome a que a LEAN innovation vai buscar inspiração), processo popularizado por Eric Ries num livro com o mesmo nome. Do design, temos o Design Thinking, que formaliza o método usado pelos designers para chegarem às suas criações mais interessantes. Por fim, da gestão vem o Business Model Innovation, autoria de Alex Osterwalder e Yves Pigneur.
Todas estas abordagens incluem elementos e perspetivas únicas, mas que em parte se sobrepõem. Na verdade, como originam de áreas diferentes, usam termos diferentes para conceitos semelhantes. O que traz de novo o LEAN innovation é precisamente a uniformização dos termos e a convergência conceptual entre estas três abordagens.
Pilares Conceptuais
Quando se fala de um método, importa estabelecer as suas bases e metodologias. Neste caso, os pilares conceptuais da LEAN Innovation são:
- Foco no cliente: é imperativo ter bem claro para quem se está a desenvolver uma solução ou produto. Apesar de parecer óbvio, a maioria das start-ups recém-nascidas tem pouco claros tanto a definição do problema que pretende resolver, como os clientes que irão comprar essa mesma solução. Interessa aqui caracterizar os segmentos, através das suas dores, sonhos e comportamentos, mais do que idade, género ou localização.
- Validação contínua: a humildade em relação ao conhecimento do cliente ou do mercado são características importantes para um empreendedor. Julgar-se dono da verdade e não validar, com um zelo quase científico, dá rapidamente azo à construção de um produto que interessa a pouca gente e acrescenta pouco valor. Uma das tarefas que mais reduzem o risco da start-up é acumular e estruturar o conhecimento sobre o seu produto, vendas, canais de distribuição, produção, etc., de forma contínua.
- Iterar até ao sucesso: é preciso ter claro que não se acerta à primeira e que o produto se vai afinando e ajustando às condições de mercado. As vontades, modas e necessidades vão evoluindo e o empreendedor deve acompanhar de perto esta evolução, testando incrementalmente melhorias e pressupostos (ideias de melhorias que podem ser testadas) de forma contínua. O empreendedor tem de se capacitar de que não existe um produto acabado, mas, no máximo, um produto atualmente bem-adaptado aos clientes e mercado.
- Competir com o modelo de negócio: o produto é apenas o ponto de partida na relação com o cliente. Mais interessante (e protegido) do que isso é conseguir apresentar uma solução que transcenda o produto e seja um sistema (por exemplo, que ligue vários produtos num, dando assim origem a uma solução mais completa). Pense-se na Hilti que, em vez de vender ferramentas, oferece às empreitadas o serviço de disponibilizar, distribuir e manter ferramentas.
Pensar a inovação desta forma implica mudar a forma como as pessoas desenvolvem as suas iniciativas ligadas à inovação, criando um processo rápido de teste e aprendizagem.
Para uma start-up, quando uma marca ainda não é um património e os produtos e processos não estão ainda estabelecidos, o erro é uma condição natural para empreender. Todas as novas empresas nascem sob o espetro do insucesso e precisam de provar que estão munidas das ferramentas para competir no mercado. Desse ponto de vista, lançar um produto para validação (MVP) coloca pouca coisa em causa, já que não existem ativos como marca, gama de produtos ou ‘goodwill’ em risco de serem comprometidos por um eventual fracasso.
De facto, a ideia de desenvolver de forma rápida um protótipo para colocar no mercado não tem como objetivo avaliar o seu sucesso ou fracasso, mas antes aprender o mais rapidamente possível, de forma a ajustar a versão final.
O caminho para a inovação é conhecido, mas é preciso um determinado grau de coragem, persistência e paciência que o tornam sempre difícil. Viver com o incerto vai muitas vezes contra a nossa natureza, mas pode trazer frutos e recompensas bem mais interessantes.