Leadership Summit Lisbon: de que tipo de líderes precisa o mundo?

As lideranças de todo o mundo estão em crise. Afinal, de que tipo de líderes precisamos?

Decorreu ontem, no Centro de Congressos de Lisboa, a primeira edição do Leadership Summit Lisbon, uma conferência sobre liderança que contou com a presença de mais de 500 pessoas. Sob a ideia de que as lideranças por todo o mundo estão em crise, os vários oradores tentaram responder a questões como: “de que tipo de líderes precisamos? Com que visão? Com que valores?”.

Foi o caso de nomes como Marisa Miraldo, Mark Gallagher, Nadim Habib e Edson Athayde. Para a professora de medicina no Imperial College London, Marisa Miraldo, a liderança do futuro passa por criar empresas sustentáveis na saúde dos seus funcionários. “Se os líderes de hoje procuram que as suas empresas sejam sustentáveis ambientalmente, os líderes de amanhã vão mostrar que as suas empresas são sustentáveis na saúde”. O conceito de sustentabilidade na saúde pode ser estranho para a maioria das empresas, mas há razões, segundo a professora, para isto fazer parte do futuro das organizações.

Os dados apresentados por Miraldo mostram que as pessoas que sofrem de stress no trabalho, e que têm pouco controlo sobre este, têm duas vezes mais probabilidades de morrerem de doenças cardiovasculares. Esta é uma das razões mais importantes para que se aposte no bem-estar e na saúde dos funcionários. Mas antes desta ideia ser aperfeiçoada nas empresas, Marisa  Miraldo deixou o conselho: os cidadãos têm de ser líderes da sua própria saúde.

Teceu ainda algumas críticas ao setor da saúde, referindo que é uma esfera pouco aberta à inovação, que não aposta na colaboração e um serviço onde todos os pacientes são tratados da mesma maneira, como se de peças pertencentes a uma linha de montagem se tratassem.

Sendo a ansiedade um dos problemas de saúde que atualmente afeta uma grande fatia da população ativa, Nadim Habib, professor da Nova SBE, começou a sua apresentação com a pergunta “o que mudou nos últimos anos para nos sentirmos mais ansiosos?”. A resposta é simples: o ritmo de mudança está a acelerar, a periodicidade dos intervalos de mudança é cada vez maior e a “maioria dos nossos líderes foram ensinados que o objetivo é comandar e controlar” e “num regime de mudança sente-se a perda de controlo”.

Defendendo que a maioria dos líderes de hoje em dia têm um skill set de antigamente, Habib refere que é fulcral que – para além das hard skills – os líderes tenham as soft skills aprimoradas, visto que estas são um dos componentes chave para o desenvolvimento das empresas.

Num clima de constante mudança, os líderes precisam de mais tempo para decidir e demoram mais tempo a ponderar as suas decisões. Este ambiente é o extremo oposto do que se quer. A ideia principal transmitida pelo professor da Nova SBE é que os líderes têm de ser mais rápidos e ágeis.

Ainda num contexto de rapidez e agilidade – com uma apresentação intitulada “Leadership in the fast lane” (Liderança na faixa rápida) – subiu ao palco Mark Gallagher, antigo jornalista e locutor do mundo da Fórmula 1 e CEO da Perfomance Insights, para falar sobre as semelhanças entre o ecossistema de que faz parte e o mundo dos negócios.

“Prazos bastante curtos, um mundo em constante mudança em que todos os anos mudam o regulamento e onde se tem de criar um produto novo”. Foi assim que Gallagher apresentou o universo em que se encontra. As parecenças com o ecossistema empresarial são visíveis e o antigo jornalista usou o exemplo de Ayrton Senna, um dos melhores pilotos de Fórmula 1 (F1) de todos os tempos, para exemplificar o trabalho que tem de ser desenvolvido por um líder.

Antes de se tornar piloto de F1, Senna corria em karts. Num dia de chuva, em que Senna estava a treinar, teve um acidente ao volante de um destes carros por causa do piso molhado. A partir daí, todos os dias em que chovia Senna treinava com o objetivo de nunca mais se despistar. Com esta meta, o piloto tornou-se um dos melhores condutores de karts em dia de chuva e, mais tarde, um dos melhores condutores de F1 com a pista molhada.

A ideia por trás desta pequena história é que – tal como Senna – os líderes têm de aprender com os seus erros anteriores e não ter medo de os enfrentar, tratando sempre de desenvolver as suas competências e atacar as fraquezas do negócio. A razão para Ayrton Senna se ter tornado um dos melhores condutores de sempre na sua modalidade, foi saber que tinha um dom. Mas isso, por si só, não era suficiente para ser um dos melhores, tratando assim de desenvolver e aperfeiçoar a sua condução.

Gallagher partilhou ainda algumas das mudanças que o mundo da F1 enfrentou ao longo dos anos como:

– O “boom” da Internet, que retirou grande parte do valor da publicidade televisiva;
– A proibição da publicidade ao tabaco, que era responsável por 70% das receitas geradas pelas equipas;
– A crise financeira de 2008;
– Os problemas que o conceito de sustentabilidade ambiental trouxe ao mundo da F1.

Destes problemas nasceram soluções e a completa transformação do modelo de negócio da indústria. Para as equipas abriram-se mais possibilidades de gerar receitas, como a McLaren que, neste momento, tem uma equipa de engenheiros a trabalhar a tempo inteiro na análise de dados, e a Williams que, surpreendentemente, desenvolveu uma incubadora para bebés prematuros fácil de transportar.

Ficou a promessa de que para o ano vai haver mais uma edição do Leadership Summit, onde a organização espera reunir mais profissionais para partilharem e trocarem as suas ideias sobre liderança.

Leia também a entrevista de Mark Gallagher ao Link to Leaders.

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