Opinião
Keep it simple (Take 2)

Há uns dias, com o meu chapéu de docente na CLSBE, escrevi um texto (muito versão professor…) sobre a necessidade que as marcas têm de ser simples na forma como apresentam as suas propostas a quem querem atrair.
Uns dias depois, desafiei os alunos da licenciatura em gestão, como teste final da disciplina, a fazerem um essay sobre o que deveriam as autoridades fazer para levar as pessoas a ter o melhor comportamento possível no combate á pandemia que enfrentamos.
Recebi os essays ontem à noite.
Comecei a ler.
Acreditam que o conceito que mais encontrei em todos eles foi a necessidade de transmitir conceitos claros e coerentes, através de mensagens fortes e simples ?
E não foi certamente por eu o dizer nas aulas…mais terá sido pela necessidade que todos nós temos que nos ajudem a tomar decisões e que nos facilitem a vida com mensagens simples e promessas fáceis de perceber!
Entretanto vou vendo as notícias.
Vou lendo o que se diz e escreve sobre a pandemia.
Tentando perceber o que devo ou não fazer.
E não é fácil!
Acredito que para todos já há três coisas claras:
- Devemos usar máscara sempre que estamos perto de outros;
- Precisamos de lavar ou desinfetar as mãos com muita frequência;
- Temos de manter a distância social dos outros com quem convivemos.
Mas quanto ao resto…
Quando comparado com o que nos foi pedido na primeira vaga, o papel dos cidadãos tem graus de dificuldade acrescidos.
Para além do cansaço e da saturação que vamos sentindo, há uns meses o que tínhamos de fazer era claro, a decisão não era nossa, diziam-nos de forma clara e inequívoca o que tínhamos de fazer – ficar, sempre, em casa, até novas ordens
Nesta segunda vaga aumenta o nosso poder de decisão e com isso os nossos graus de liberdade…e os da ansiedade dela decorrentes!
As autoridades dão-nos a responsabilidade de ficar (como dever cívico) em casa, mas ao mesmo tempo desafiam-nos a manter a nossa vida o mais normal possível para que a economia continue viva.
Tarefa difícil, que coloca em todos um ónus de escolha que se calhar não queríamos ter – muito mais fácil seguir uma ordem básica e inequívoca como foi “fiquem em casa sempre”.
Agora, estão interditas as deslocações entre concelhos… exceto se houver um bilhete para um espetáculo.
Nos restaurantes podem estar sentadas seis pessoas numa mesa, mas na nossa casa só podem estar cinco.
Ao sábado temos de estar em casa às 13h, mas depois podemos sair no domingo outra vez até às 13h… para depois voltar a ter de estar em casa até às 23h
As reuniões familiares representam 60 e tal por cento dos pontos de contágio… ou apenas 10 e pouco por cento?
O País está dividido em quatro zonas… mas há duas delas para as quais as restrições são iguais.
E nos últimos feriados de 01 e 08 de dezembro deveríamos ficar em casa, mas há tolerância de ponto na função pública, as empresas foram convidadas a fazer o mesmo e as escolas foram encerradas.
Se não foi, parece mesmo que foi para nos desafiar a ir passar o fim de semana nas zonas com baixo risco e assim deteriorar a situação nessa zona…
Será possível?
Não invejo, nem por um segundo, a sorte de quem tem, neste momento, de tomar decisões.
Já se percebeu que temos de afastar as pessoas, mas que não se pode fechar a economia.
E sabemos que as decisões são tomadas num processo de tentativa e erro, com poucos dados sobre os resultados reais das várias medidas possíveis
Mas as contradições e as complicações das mensagens passadas não ajudam!
Se as medidas que definem integrarem contradições;
Se o que é pedido não for bem compreendido pelas pessoas a quem se destina;
Se o conteúdo do que é dito for xoxo;
Se a mensagem que é passada for alterada quase diariamente;
O resultado não é certamente o melhor.
Ficamos todos baralhados, enervados, e quiçá perdemos a confiança em quem nos lidera e deixamos de os seguir.
E esse risco, agora, Portugal não pode correr.
Deixo um apelo a quem de direito.
Por favor relembrem que para que uma mensagem seja forte e poderosa tem de ser consistente, fundamentada, integrando uma proposta de valor relevante para os destinatários… e entregue de uma forma simples e persistente! Obrigada.