Opinião
Jovens líderes de amanhã

Há uma frase atribuída a Albert Einstein que gosto particularmente: “Stay away from negative people. They have a problem for every solution”. Infelizmente não existe nenhuma prova que Einstein tenha alguma vez escrito ou dito esta frase, mas para mim é um dos meus “life motto” favoritos.
Ora, 2020 dificilmente será recordado por muitos como um ano positivo, mas tal como numa moeda que tem sempre duas faces, é também nos momentos de maior adversidade que surgem as soluções mais audazes.
Os desafios sem precedentes causados pela Covid-19 estão a ser enfrentados diariamente por todos nós, mas há na minha opinião uma geração que ficará marcada por este acontecimento, como outras anteriormente ficaram marcadas por momentos como o 11 de Setembro, o aparecimento da internet ou a queda do muro de Berlim – a geração Z. Esta geração será moldada pelo tempo turbulento em que crescem, no meio de uma enorme incerteza económica e de uma crise ambiental global.
Um recente estudo do grupo americano Cassandra realizado a mil jovens entre os 13 e os 17 anos, questionou que perspetiva tem esta geração sobre temas como acesso à universidade, planos de vida e futura carreira profissional após a pandemia. É interessante observar que, apesar dos desafios significativos que a Covid-19 criou, esta geração encara o futuro com uma atitude realista, mas positiva.
No que respeita aos planos de acesso à universidade, 60% não esperam alterar os seus planos, enquanto que 24% dizem que seus planos de estudos já mudaram ou que estão inclinados a alterá-los. Em relação à carreira profissional, 75% acham que vão nascer novas oportunidades profissionais como resultado da Covid-19, e 66% acreditam que sua geração terá mais chances de trabalhar remotamente ou como freelancer do que as gerações passadas – e a maioria acredita que irão superar positivamente este desafio. Em relação aos planos de vida, 73% sentem que a pandemia não afetará negativamente a sua procura de sucesso e a sua felicidade.
Apesar deste sentimento geral positivo, o que observamos globalmente é um mercado de trabalho que se encontra volátil e, se a pandemia e a subsequente instabilidade económica se arrastarem por muito tempo, levará ao crescimento exponencial de fenómenos como a gig economy. E, ainda que por um lado a geração Z aprecie a flexibilidade e até liberdade que este ambiente económico proporciona, por outro lado consideram negativa a falta de segurança que lhe está inerente.
É no meio deste cenário, que outro tema ganha espaço de discussão – o de um rendimento básico universal (Universal Basic Income/UBI). Segundo a organização We Move Europe, a gravidade da crise pandémica exige ações determinadas e soluções ousadas. Num inquérito recente, a maioria dos europeus demostraram o desejo da criação por parte dos seus governos de um UBI para atenuar os impactos negativos da Covid-19. Entre a população portuguesa, o nível de aceitação do UBI é de 86% tendo em consideração os impactos económicos da pandemia – e apontam como principais benefícios: redução de ansiedade para o futuro (51%); capacidade de pagar necessidades básicas (41%)
E, em alguns países europeus, este não é apenas um novo tópico de discussão. A Finlândia e a Noruega realizaram já experiências, e na Alemanha 2 milhões de pessoas candidataram-se a um projeto-piloto de UBI a iniciar-se na primavera de 2021.
É neste clima de incerteza que teremos que ter a capacidade de responder e criar novas soluções – e esta geração é possivelmente a que está melhor preparada para lidar com as turbulências do futuro pós-Covid. É uma geração nativa digital, com elevado nível de educação, são criativos, inovadores, pragmáticos, operam muitas vezes em multitasking ainda que com curtos períodos de atenção.
Têm mais em comum com os seus pares internacionais do que qualquer outra geração anterior e são consumidores cada vez mais conscientes, dispostos a pagar mais por produtos que sejam social e ambientalmente responsáveis.
Se pensarmos no futuro pós-Covid, a geração Z poderá ficar conhecida como a geração resiliente que se adaptou a viver durante um período difícil, mostrando que é possível superar crises sem deixar colapsar a vida. Se aprender esta lição, é possível que a geração Z cresça tornando-se nos líderes capazes de nos conduzir às mudanças que o mundo necessita.
Tendo em conta a missão da Associação Começar Hoje, e a importância que é dotar esta geração com competências de liderança, a Associação Começar Hoje desenhou a iniciativa Escola de Líderes – BootCamp. Será um programa que permitirá o contacto entre jovens e líderes/gestores de hoje, promovendo a partilha de conhecimento que gere mudanças positivas comportamentais. Porque os jovens de hoje serão os nossos líderes de amanhã.
*E vogal do conselho fiscal da Associação Começar Hoje
Licenciado em Design de Comunicação, Dário Fonseca é um entusiasta da inovação como uma ferramenta eficaz para transformar a sociedade. Trabalhou durante 12 anos numa multinacional, e desde 2014 tem estado ligado ao ecossistema de empreendedorismo – tendo fundado empresas nas áreas de eLearning, eCommerce, IOT, Big Data&AI. Faz voluntariado e colabora regularmente com ONG’s portuguesas. É vogal do conselho fiscal da Associação Começar Hoje.