Entrevista/ “Já só pensamos em como chegar ao primeiro milhão de faturas e a cada vez mais clientes”

André Pedro, CEO do Manie

“Existem vários mercados que já analisámos e onde faz sentido a existência de uma plataforma como o Manie. Acreditamos que, em 2025, estaremos também em Espanha”, revelou André Pedro, CEO do Manie, que está a fechar uma ronda de investimento para expandir a sua solução que automatiza a gestão de contratos de eletricidade e gás.

Na sequência dos aumentos constantes e da volatilidade dos preços da energia em Portugal, surgiu uma solução para fazer frente a este cenário que afeta as famílias portuguesas, principalmente nos meses mais frios do ano.

Desde o seu lançamento em setembro de 2024, o Manie já permitiu poupanças até 300 euros mensais nas contas de eletricidade, além de ter economizado mais de 50 mil euros anuais aos consumidores portugueses nas suas faturas de energia. Atualmente conta com mais de 5 mil utilizadores.

A start-up, fundada por uma equipa com experiência em plataformas como o ComparaJá, angariou 100 mil euros de financiamento inicial e está a fechar uma nova ronda de investimento para suportar o seu plano de expansão, afirmou André Pedro, cofundador e CEO do Manie, ao Link to Leaders, revelando que querem chegar ao mercado espanhol ainda este ano.

Como e quando surgiu a ideia de criar o Manie?

O Manie nasceu da nossa frustração com os processos lentos e complicados de mudança de contratos de energia, cheios de chamadas intermináveis, trocas de documentos e falta de transparência. Eu, o João, o Francisco e o José tivemos experiências pessoais onde, após horas ao telefone e envio de documentação, enfrentámos cobranças incorretas e falta de apoio. Percebemos que a burocracia e a complexidade eram desnecessárias e decidimos criar uma solução digital, onde o utilizador pudesse trocar de fornecedor em minutos, eliminando o trabalho manual e, acima de tudo, assegurando uma poupança direta nas suas faturas.

Hoje, continuamos a trabalhar para simplificar toda a experiência, permitindo que qualquer cliente possa mudar ou otimizar o seu contrato com um clique, tornando um processo que deveria ser sempre rápido e intuitivo. Acreditamos que o processo agora está muito mais simples do que o processo que é considerado o standard do mercado. No entanto, acreditamos que ainda o vamos conseguir tornar melhor e mais simples e claro, que este será o caminho para um novo e melhor standard.

“O objetivo ao dia de hoje é ajudar os utilizadores a alterarem o seu contrato de eletricidade e gás e pouparem dinheiro imediatamente, e garantir que estão sempre no melhor contrato para o seu perfil de consumo”.

Qual o objetivo?

O objetivo ao dia de hoje é ajudar os utilizadores a alterarem o seu contrato de eletricidade e gás e pouparem dinheiro imediatamente, e garantir que estão sempre no melhor contrato para o seu perfil de consumo. Também estamos a trazer mais transparência para o mercado não só do lado da procura, mas também do lado da oferta das comercializadoras. Queremos conseguir trabalhar com as comercializadoras na otimização dos seus custos de marketing e de operações, de forma a que possam ser mais eficientes, resultando em preços mais baixos para os utilizadores.

Quais têm sido os maiores desafios?

Os maiores desafios têm sido técnicos e operacionais. Técnicos no sentido de assegurar que o processo encaixa com as várias comercializadoras, que são feitas todas as verificações necessárias e que é rápido – o Francisco e o José fizeram um excelente trabalho a montar e melhorar o nosso produto, superando estes desafios. Operacionais no sentido de garantir uma resposta rápida a dúvidas de clientes, a otimizar o processo de alteração de contrato e a explicar e trazer mais literacia energética aos nossos clientes e ao mercado – o João tem atuado muito em todos os processos e temos, neste momento, o melhor processo de onboarding do mercado.

“O utilizador pode optar por uma troca de contrato única, com análise das melhores ofertas e ativação totalmente online ou ativar o Autoswitch, um serviço que garante que está sempre com a tarifa mais vantajosa”.

Como funciona a plataforma? Tem algum custo e como é que permite uma poupança direta nas faturas de energia?

No Manie, basta uma fatura de eletricidade ou gás para começar a poupar. O utilizador pode optar por uma troca de contrato única, com análise das melhores ofertas e ativação totalmente online ou ativar o Autoswitch, um serviço que garante que está sempre com a tarifa mais vantajosa. No Autoswitch Basic, monitorizamos o mercado trimestralmente sem custos; já o Autoswitch Pro oferece uma análise diária por €7,99/mês. Em qualquer opção, eliminamos o trabalho de comparação, garantindo que o cliente paga sempre o menos possível pela sua energia. Para as empresas, temos o Manie Business, uma solução personalizada, onde cobramos uma percentagem sobre a poupança gerada, criando um modelo sustentável e escalável para todos.

Qual o vosso modelo de negócio, visto que o uso da plataforma é grátis?

O nosso modelo de negócio é simples, transparente e divide-se em três. No modelo gratuito para o consumidor, recebemos a nossa receita das comercializadoras, de acordo com o consumo que temos em cada comercializadora – não interessa se é o cliente A ou B, mas sim o consumo, alinhando os incentivos entre os clientes, o manie e as comercializadoras. No Autoswitch Pro, o utilizador paga uma fee mensal, para garantir que tem uma análise diária do mercado e troca diária de contrato, se for mais benéfico. No modelo Business, recebemos uma fee das empresas, e somos os seus gestores energéticos. É sempre importante ser transparente neste ponto e consideramos que o temos sido com os nossos milhares de clientes.

“No início de fevereiro, teremos a nossa app disponível que responderá a muitas das questões dos utilizadores ao longo do processo e trará mais dados e novidades para todos os utilizadores”.

Como tem sido a recetividade à plataforma?

Tem sido incrível! Obviamente que tínhamos as nossas métricas internas e externas para os primeiros meses até ao final de 2024 e fechámos o ano com milhares de utilizadores a usarem a nossa plataforma e já vamos agora com mais de 200 mil faturas processadas! Pareciam números completamente surreais há 4 meses e agora já só pensamos em como chegar ao primeiro milhão de faturas e a cada vez mais clientes.

No início de fevereiro, teremos a nossa app disponível que responderá a muitas das questões dos utilizadores ao longo do processo e trará mais dados e novidades para todos os utilizadores.

O que vos distingue de outros serviços existentes no mercado? Qual o vosso diferencial?

Felizmente, existem outras soluções no mercado que ajudam os consumidores a poupar na sua fatura de eletricidade e gás e a perceber cada vez mais sobre energia – desde simuladores online a plataformas telefónicas, existem várias alternativas. O que nos distingue de tudo o que existe ao dia de hoje é simples.

Simplicidade, ou seja, basta uma fatura para o utilizador ter acesso às melhores ofertas do mercado. Rapidez, quero com isto dizer que, no máximo, em 3 segundos, o utilizador consegue perceber logo se está a pagar ou não o melhor preço pela sua energia. Personalização, ou seja, cada caso é um caso e por isso não gostamos de respostas pré-definidas e insistimos na fatura – queremos ajudar e analisar cada caso específico. E segurança, já que os dados dos utilizadores são apenas partilhados com as comercializadoras com quem terão contrato de energia, com as quais os utilizadores concordaram. Os dados das faturas, ao não haver processo de switch, não são partilhados com nenhuma entidade – criamos até um e-mail único para os nossos clientes, para proteger o utilizador contra spam ou venda de dados! Levamos a segurança dos dados muito a sério.

“Acreditamos que, em 2025, estaremos também em Espanha”.

Qual a vossa estratégia de expansão?

Queremos expandir rápido, mas com controlo. Existem vários mercados que já analisámos e onde faz sentido a existência de uma plataforma como o Manie. Acreditamos que, em 2025, estaremos também em Espanha.

Angariaram 100 mil euros de financiamento inicial. Como foi o processo?

Foi um processo relativamente rápido, o que era essencial para nós! O facto de ter sido um ticket pequeno, com um investidor estrangeiro que está muito habituado a este tipo de investimento em que não há ainda muito provado, também ajudou. Foi também positivo para nós termos falado com muitos investidores em Portugal e fora de Portugal, discutir a nossa ideia, ouvir muitos “nãos”, mas ouvir muito feedback que nos ajudou a repensar algumas coisas no que estávamos a fazer.

Têm prevista uma nova ronda de investimento? Se sim, para quando e qual o objetivo?

Temos prevista uma nova ronda sim, que está a decorrer e quase finalizada! Teremos dois grandes objetivos: consolidar o mercado português e expandir para o mercado espanhol. Para isto, precisaremos de muita ajuda e teremos muitas vagas abertas – algumas já estão, mas teremos mais, muito em breve.

Projetos para o futuro da start-up?

Tudo é um projeto para nós, neste momento! Isso é a parte desafiante e incrível para nós os quatro e para as cinco pessoas que já trabalham connosco. Queremos ser uma empresa central na gestão energética de todos, não só de consumidores e empresas mas também de comunidades de energia, produtores, comercializadores, regulador, distribuidor, entre outros. Queremos desafiar o mercado, queremos trazer ideias novas e promover um aumento do conhecimento em todas as pessoas que usam o nosso serviço!

“Vejo o Manie a criar uma nova forma de olhar para algo que é uma commodity e na forma como compramos e vendemos esta commodity e, claro, no preço que pagamos por ela”.

Como vê o Manie dentro de 5 anos?

Vejo o Manie a criar uma nova forma de olhar para algo que é uma commodity e na forma como compramos e vendemos esta commodity e, claro, no preço que pagamos por ela.

É fácil ser-se empreendedor em Portugal?

É uma pergunta difícil por falta de termo de comparação. Há obviamente coisas a melhorar. Portugal deve olhar para mercados mais desenvolvidos em empreendedorismo para poder melhorar, mas também já se fez imenso nos últimos anos e tenho a certeza de que um empreendedor há 5, 10, 15 anos tinha muito mais dificuldades do que nós temos agora. Podemos ser mais rápidos a melhorar enquanto país, mas isso não é só no empreendedorismo.

Que conselhos/dicas dão a outros jovens que também querem lançar os seus projetos?

O clássico clichê para arriscarem. Só quando arriscarem é que vão perceber se o que desenvolveram de facto funciona ou não, porque só aí é que vão estar 100% dedicados ao que querem criar.

Respostas rápidas :
Maior risco:
Termos deixado trabalhos estáveis para criar algo do zero.
Maior erro: Não termos começado o Manie mais cedo!
Maior lição: Tomar decisões rápidas mas alterar decisões ainda mais rapidamente, se virmos que não está a resultar.
Maior conquista: O produto que temos até agora e o que esperamos conquistar a partir daqui.

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