Opinião

Influenciadores virtuais: um coach personalizado para cada indivíduo?

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Os influenciadores virtuais têm-se multiplicado, com exemplos como Lil Miquela ou Imma Gram. São figuras geradas por IA que vão acumulando milhares de seguidores que lhe reconhecem valor porque se adaptam ao seu figurino.

Até aqui, nada de mais, pois trata-se de uma extensão para virtual daquilo que já conhecemos a nível pessoal (influenciadores reais). Mas o próximo passo é a personalização total: um influenciador ou coach virtual que agrega grande parte das necessidades dos consumidores, desde aconselhamento de compras a sugestões de bem-estar.

Um coach virtual totalmente personalizado e desenhado de acordo com o gosto de cada “utilizador”? Na verdade, aqui fará mais sentido falar em cliente em vez de utilizador, uma vez que não é o “influenciador” quem define os tópicos de ajuda, tipologia de linguagem e comunicação, frequência de interação e respetivo grau de profundidade, mas sim o recetor das mensagens.

Neste quadro, poderemos ver reunidas as seguintes características num coach virtual:

  • Disponibilidade constante, estando acessível 24/7 para aconselhamento sobre qualquer assunto selecionado pelo cliente.
  • Com base nos hábitos, preferências e comportamento de cada consumidor, pode recomendar produtos, experiências e serviços;
  • Tenderá a recorrer a uma interação empática e quase emocional para criar laços afetivos com os clientes e aumentar o seu grau de dependência;
  • É multimodelar, pois abrange várias áreas da vida do consumidor, desde saúde, fitness, aplicações de investimento, leituras, viagens, alimentação, etc..

Os primeiros adeptos desta tendência serão, naturalmente, todos aqueles que, já hoje “tratam por tu” a IA. No fundo, serão os que se consideram tecnologicamente aptos e que adotaram a interação com a IA como um meio natural de convivência, mas também profissionais ocupados que valorizam a eficiência. Além disso, aderirão com maior facilidade todos aqueles que, já hoje, procuram aconselhamento especializado.

Imaginemos que um coach virtual, perante a nossa solicitação, nos programa um conjunto de tarefas semanais ou mensais com base em objetivos diversos (físicos, profissionais, sociais e culturais), por nós identificados. Agora, imaginemos que, perante esse cenário, nos tornamos mais eficientes, organizados e literatos pela maior eficiência na tomada de decisões, experiência personalizada e melhor orientação ou ainda pela redução da sobrecarga de informação e do tempo de pesquisa. Se validarmos a experiência como positiva ela terá repercussões à escala global.

As ferramentas que todos conhecemos de gestão de tarefas, agenda, memos e apontamentos sobre assuntos diversos, planeadores de objetivos, etc… poderão esbarrar todas num único interlocutor: que fala, é simpático, está sempre atualizado, disponível, é eficiente e não se esquece de nos colocar a par do que é preciso, no tempo exato, com mensagens claras e adaptadas ao nosso gosto.

Estará aqui o esboço do perfil do professor do “futuro”?

É certo que não há “bela sem senão”, pois contribui para a perda de autonomia na tomada de decisão, aumenta o risco de bolhas algorítmicas, que limitam a diversidade de opções ou que podem vir a causar possíveis problemas éticos relacionados com privacidade e manipulação.

Mas também é certo que será cada um de nós a decidir!

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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