Opinião

Investimentos bilionários, fusões, aquisições e o Marco Legal de Start-ups

Daniela M. Meireles, empreendedora e business advisor

O mercado brasileiro segue em ritmo aquecido. De acordo com o hub de inovação aberta Distrito, somente em agosto, as start-ups brasileiras receberam aporte de US$ 772 milhões, volume de investimento três vezes maior do que no mesmo período ano passado.

O setor de fintechs segue à frente com um total de 178 milhões de dólares de investimento realizado até ao momento. Logo em seguida, em ordem de crescimento e captação de investimentos estão o setor de varejo (retailtechs), de saúde (healthtechs), as imobiliárias (proptechs) e educação (edtechs).

Nos últimos oito meses, houve 457 rondas de investimento que ultrapassaram os 6,6 bilhões de dólares, volume 346% superior ao ano passado. O ecossistema recuperou e trouxe de volta mega rondas com valores superiores a 100 milhões de dólares. O SoftBank, fundo chinês, participou em três das quatro maiores rondas de investimentos realizadas este ano.

A star-tup QuintoAndar captou 120 milhões de dólares na sua ronda série E, liderada pelos fundos Greenoaks Capital e Tencent. A Movile, dona de start-ups como iFood e Sympla, recebeu um aporte de R$1 bilhão do Prosus, grupo de internet holandês. Nos últimos três anos, a companhia teve um crescimento médio anual de 80% em receita e realizou mais de 30 negócios de investimentos e fusões e aquisições.

Um movimento em alta no Brasil tem sido o investimento de risco e a aquisição integral de start-ups por parte de grandes empresas. Além de alimentar sua estratégia de inovação e acelerar a disrupção dos seus modelos de negócios, essas grandes companhias têm procurado absorver o talento e competências dos empreendedores. As próprias corporações têm criado os seus fundos de capital de risco corporativo livrando-se da existência de intermediários.

A pandemia trouxe a urgência da transformação digital, a migração dos negócios do mundo presencial para o mundo online. Da forma mais dura, antes jamais inimaginável, as grandes empresas viram-se obrigadas a inovar para sobreviver. Investir diretamente em start-ups foi a saída mais rápida e eficiente que encontraram na busca por inovação.

Seguindo esse movimento, o Magazine Luiza desde o ano passado já adquiriu 21 start-ups de diversos segmentos, de fintechs a start-ups de conteúdo e games. A liquidez das big techs no Brasil aliada à transformação digital nas grandes corporações também tem favorecido a maturidade e o crescimento do mercado de fusões e aquisições.

Durante o mês de agosto foram realizadas 26 novas operações de fusões e aquisições (M&A). Considerando os primeiros oito meses de 2021, o volume de operações concluídas é 85% maior se comparado com o mesmo período do ano passado.

Todos aqueles que desejam saber mais sobre o mapa de start-ups brasileiras, podem encontrar dados interessantes através da Startup Scanner. Criada pela Liga Ventures, e apoiada estrategicamente pela PWC, a plataforma já conta com mais de 16 mil start-ups cadastradas. A Startup Scanner apresenta mapeamentos dos ecossistemas de Start-ups nas áreas de pet, desporto, construção, educação, retalho, condomínios, governo, mobilidade, saúde, imobiliário, alimentação, vendas e energia.

Através do site, pode acompanhar a distribuição das start-ups por ano, cidade e estado de fundação e por categoria de atuação. Além disso, também pode criar sua lista de favoritos, acompanhar os movimentos e sugerir a adição de novas start-ups.

Outra boa notícia é que o Marco Legal das start-ups entrou em vigor no dia 31 de agosto. Após dois anos de tramitação no Congresso Nacional, a lei LC182/21 foi sancionada há três meses pelo presidente Jair Bolsonaro.

O objetivo do projeto é estimular o setor, facilitando negócios e investimentos para pequenas empresas e start-ups. Entre outras medidas, trouxe:

# a definição legal das start-ups e o reconhecimento dessas empresas como parte do ecossistema de inovação do Brasil. Empresas e sociedades cooperativas poderão ser classificadas como start-ups quando forem atuantes na inovação aplicada a produtos, serviços ou modelos de negócios; e que tenham receita bruta de até R$ 16 milhões no ano anterior e até dez anos de inscrição no CNPJ.

# exigência de que as start-ups declarem em seu ato constitutivo o uso de modelos inovadores ou que se enquadrem no regime especial Inova Simples, previsto no Estatuto das Micro e Pequenas Empresas, de receita bruta máxima de R$ 4,8 milhões;

# criação de normas que facilitam o acesso das start-ups a licitações de órgãos públicos;

# simplificação da forma de se constituir uma sociedade anónima (SA), modelo ideal para a captação de investimentos e que permite as empresas atuar com livros digitais;

# maior segurança ao investidor-anjo. O mesmo será remunerado por seus aportes e não precisa stornar-se sócio, mesmo que o investimento realizado seja superior ao capital social. O investidor-anjo poderá participar nas deliberações de forma consultiva e ter acesso às contas, ao inventário, balanços, livros contabilisticos e à situação do caixa. Caso o investidor não faça parte da administração da start-up, o mesmo também não responderá por dívidas e passivos da empresa;

# possibilidade dos investidores optarem pela compra futura de ações ou resgatar títulos emitidos pela star-tup;

# maior tempo para retorno dos investimentos, de cinco passou para sete anos. As partes podem pactuar remuneração periódica ou a conversão de aporte em participação societária;

# possibilidade dos fundos de investimento atuarem como investidor-anjo;

# processo simplificado de pedido de registro de marcas e patentes por meio do portal Redesim. As solicitações das start-ups para pedidos de patente ou registo de marca junto ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) serão a partir de agora analisadas em caráter prioritário;

Apesar de todas conquistas mencionadas, ainda há muito a conquistar a favor das Start-ups no Brasil. Digamos que, por ora, o Marco Legal das Startups é um bom começo.

Ainda temos três meses pela frente até ao final do ano. Apesar das incertezas quanto à pandemia, política e economia no Brasil acredito que os altos investimentos que têm sido realizados pelos fundos, assim como as fusões e aquisições que vem sendo realizadas por grandes empresas brasileiras, devem fazer de 2022 o ano das start-ups.

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Daniela Meirelles

Daniela Meirelles

Daniela Meirelles é empreendedora, business advisor, mentora de start-ups e palestrante (Branding, Empreendedorismo e Liderança). Foi fundadora da DBRAND, consultora de branding, marketing e inovação; fundadora/CEO da Yuppy, start-up de media, marketing e eventos; mentora nos programas Startup Rio, Startup Weekend e Founder’s Institute; palestrante; e também atua na organização do II Chapter da Singularity University, no Rio de Janeiro. Tem 15 anos de experiência em marketing, branding e desenvolvimento de novos negócios. Desenvolveu inúmeros projetos para pequenas, médias e... Ler Mais..

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