Opinião

Internacionalizar a Morais Leitão: desafios e oportunidades*

Nuno Galvão Teles, presidente do conselho de administração da Morais Leitão

Os nossos concorrentes estrangeiros apresentam frequentemente soluções one size fits all, aplicando e replicando a minuta muito trabalhada. No entanto, a experiência demonstra-nos que é necessário montar soluções à medida dos interesses do cliente e em que a minuta já testada não funciona ou não é facilmente adaptável (especialmente em mercados emergentes).

É aí que conseguimos jogar os nossos trunfos e de forma bastante competitiva. Os nossos concorrentes estrangeiros apresentam frequentemente soluções one size fits all, aplicando e replicando a minuta muito trabalhada. No entanto, a experiência demonstra-nos que é necessário montar soluções à medida dos interesses do cliente e em que a minuta já testada não funciona ou não é facilmente adaptável (especialmente em mercados emergentes). É aí que conseguimos jogar os nossos trunfos e de forma bastante competitiva.

Na Morais Leitão, a internacionalização tem sido um desenvolvimento contínuo ao longo dos últimos 15 anos. O que nos levou a internacionalizar? Duas razões principais. Primeiro, quisemos acompanhar os nossos clientes nos seus investimentos externos. As empresas portuguesas têm tido uma história de abertura de sucesso aos mercados, e tem sido uma honra acompanhá-la. A relação advogado-cliente é uma relação de confiança, sendo natural que um cliente queira a segurança de ter consigo o seu advogado de sempre ao entrar num mercado desconhecido.
Segundo, é importante lembrar que o mercado jurídico português é limitado por natureza. Para quem tem a ambição de continuar a crescer, a limitação das fronteiras geográficas constitui um obstáculo.

Existem também áreas de direito já muito desenvolvidas e maduras em que o crescimento dentro de Portugal é mais desafiante. A internacionalização permite-nos crescer, alcançar novos mercados e expandir a nossa base e clientes. Numa outra perspetiva, é também relevante para as empresas nacionais que tenhamos esta experiência transfronteiriça, com conhecimento de outros mercados e outros panoramas regulatórios. Desafia o que conhecemos e temos no plano estritamente nacional.

Para a internacionalização, optámos primeiro por investir em relações de proximidade com escritórios globais; apostámos na pertença  uma associação mundial de sociedades de advogados independentes, a Lex Mundi, e desenvolvemos uma intensa rede de networking inbound e outbound. Finalmente, criámos uma rede internacional própria, a Morais Leitão Legal Circle, com escritórios locais em Angola, Moçambique, Cabo Verde e Singapura. Recentemente, celebrámos ainda uma parceria exclusiva em Timor-Leste.

Para a escolha destes mercados contribuíram, cumulativamente, vários fatores: o interesse de investimento dos nossos clientes e potenciais clientes, o interesse destes mercados em Portugal e a similitude de língua e de regimes jurídicos. No caso de Singapura, decidimos estar presentes num dos centros financeiros mais importantes da Ásia que, além de ter um número impressivo de multinacionais representadas localmente, desempenha um papel cada vez mais importante nos fluxos de investimento para África.

Esta aposta em escritórios locais representa bem a proximidade ao cliente e a compreensão das especificidades de cada mercado que temos como prioridades. Não basta estar em Lisboa e ter acesso às leis de um determinado país, é preciso talento local, que saiba e conheça a interpretação que é feita das normas, que conheça as instituições.
O know-how e a experiência internacional numa determinada área são uma mais-valia relevante para o cliente. A melhor oferta possível para as necessidades específicas de cada cliente é esta combinação de conhecimento local com expertise internacional. É por isso que, na Morais Leitão, trabalhamos com equipas mistas, transversais aos vários escritórios da rede, constituídas para cada projeto. Esta diversidade tem um valor tangível para o cliente que se quer internacionalizar.

Queremos que a experiência com a marca Morais Leitão Legal Circle seja sempre associada a um serviço jurídico de excelência e adaptado às necessidades do cliente, independentemente da geografia.

É óbvio que a prestação de serviços jurídicos ao mais alto nível em várias geografias é um desafio diário que implica não só ter os melhores profissionais mas também uma cultura comum transversal aos vários escritórios, que garanta uma experiência consistente de qualidade. É um caminho exigente, mas o único que permite esta consistência na resposta ao cliente.

Este movimento estratégico não se deveu apenas à nossa vontade de crescer. Quisemos alinharmo-nos com os desafios globais do mercado jurídico, ser uma sociedade líder na prática jurídica lusófona. É um posicionamento que garante a sustentabilidade da nossa sociedade a longo prazo, já que permite diversificar o risco do mercado jurídico associado a uma determinada jurisdição ou área de prática. Como trabalhamos frequentemente com equipas jurídicas mistas (incluindo advogados de várias jurisdições), conseguimos mitigar o risco de uma área ou país ter mais ou menos atividade, sempre respeitando as regras deontológicas locais.

Por outro lado, trabalhar em jurisdições diversas não só amplia o nosso conhecimento como desafia as nossas equipas a pensar de forma criativa. Esta exposição constante torna-nos mais inovadores e competitivos, trazendo valor direto aos nossos clientes. O nosso propósito é oferecer soluções jurídicas que criem valor e impulsionem negócios num contexto global. Tem, aliás, crescido o número de operações em que coordenamos o trabalho de advogados de outras jurisdições, para lá da nossa rede de escritórios. Os advogados da Morais Leitão têm uma abordagem internacional, refletindo a diversidade dos mercados em que atuam, e atuam com padrões de serviço globais.

A qualidade de serviço que as sociedades de advogados de topo portuguesas oferecem aos seus clientes está equiparada às melhores sociedades de advogados a nível global, nomeadamente as que fazem parte do chamado magic circle. Ainda que o tema se vá esbatendo, com novos challengers, há por vezes uma certa ideia feita de se achar que o serviço prestado por uma sociedade de advogados inglesa ou norte-americana é melhor do que uma sociedade de advogados portuguesa de topo. E não é assim, bem pelo contrário. Conseguimos aliar rigor jurídico com uma capacidade de pensar e oferecer soluções fora da caixa.

Os nossos concorrentes estrangeiros apresentam frequentemente soluções one size fits all, aplicando e replicando a minuta muito trabalhada. No entanto, a experiência demonstra-nos que é necessário montar soluções à medida dos interesses do cliente e em que a minuta já testada não funciona ou não é facilmente adaptável (especialmente em mercados emergentes). É aí que conseguimos jogar os nossos trunfos e de forma bastante competitiva. É até curioso que essas mesmas sociedades de advogados do magic circle venham cá recrutar os nossos jovens advogados. Já perceberam que os jovens advogados portugueses têm muito talento…

Esta abordagem integrada permite-nos promover sinergias e oferecer serviços consistentes e competitivos, independentemente da geografia. São inúmeras as transações em que conseguimos assegurar assessoria jurídica simultânea em várias jurisdições, em claro benefício do cliente (seja a nível de honorários seja numa perspetiva de análise jurídica transversal do negócio). Internamente, é evidente que a nossa forte presença internacional é também benéfica para a própria equipa.

Ao podermos proporcionar oportunidades de experiência global e desenvolvimento de carreira, podemos atrair e reter os melhores talentos. Os jovens advogados, em particular, muitas vezes desejam trabalhar em ambientes jurídicos diversos e ganhar exposição a práticas jurídicas internacionais. Para a Morais Leitão, isso é altamente positivo: temos advogados com mundo, com ligações internacionais fortes, o que nos ajuda a ter uma equipa dinâmica e motivada, capaz de oferecer um serviço excecional aos nossos clientes em muitos mercados.

Costumamos dizer que somos uma sociedade de advogados internacional com sede em Lisboa. Com os nossos clientes, conseguimos planear e construir pontes de crescimento, inovação e sucesso em qualquer mercado, mantendo uma ligação firme às nossas origens e valores essenciais, tanto em Portugal como nos mercados internacionais. É essa a marca da internacionalização portuguesa, aberta e simultaneamente com um chão muito próprio, que abraçamos com orgulho.


Nuno Galvão Teles colabora com a Morais Leitão desde 1987, sendo sócio desde 1995, nas áreas de comercial e M&A, mercado de capitais e energia, área na qual tem uma vasta experiência. É atualmente o presidente do conselho de administração da sociedade. A sua ligação ao setor energético remonta ao princípio dos anos 1990. Interveio nos últimos 20 anos, apoiando o governo ou empresas do setor, nas mais importantes transformações ocorridas em Portugal no setor energético. Presta assessoria a diversas empresas e bancos em matéria de fusões e aquisições e de mercado de capitais. Nos últimos anos teve um papel ativo em importantes operações de fusões e aquisições realizadas em Portugal ou executadas no estrangeiro por empresas portuguesas, tendo igualmente coordenado a equipa de advogados responsável por algumas das mais relevantes privatizações executadas em Portugal, nomeadamente nos setores de energia, pasta de papel, autoestradas e indústria do cimento. Preside à mesa da assembleia geral da Business Roundtable Portugal, uma associação das maiores empresas portuguesas constituída em junho de 2021.

 

*Pré-publicação do livro “71 Vozes pela Internacionalização”, da coleção coordenada pelo ISCTE Executive Education.

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