Entrevista/ “A internacionalização está implantada nos portugueses”

Com pouco mais de um ano de atividade, a Startup Portugal tem a seu cargo a dinamização da estratégia nacional para o empreendedorismo. Simon Schaefer, que lidera a equipa e conduz os destinos do projeto, passa em revista o ano que está a terminar e analisa o ecossistema empreendedor nacional e as potencialidades inovadoras do país.
Quais foram os momentos mais marcantes no ecossistema empreendedor português ao longo deste ano?
Para nós, o destaque do ano para o ecossistema foi e é o Web Summit. O extraordinário trabalho de equipa que o Web Summit está a fazer na promoção do ecossistema para um grupo diversificado de stakeholders internacionais é inestimável para Portugal. O segundo momento foi ter convencido a Mercedes Benz a abrir o seu Digital Delivery Hub, em Lisboa. Penso que vale a pena realçar como a unidade de serviços digitais recém-formada, de uma empresa global tão relevante, aumentará a consciencialização e impactará o nível de conhecimento, e é justo referir o esforço incrível de três ministérios num curto espaço de tempo (com apenas 48 horas de reviravolta) que provou a vontade de Portugal abraçar o novo mundo do trabalho e da tecnologia!
Quais são as principais lacunas que encontra na atuação governamental no que toca ao apoio prestado à inovação, ao empreendedorismo, às start-ups nacionais?
Acreditamos que há muito a fazer na simplificação da administração e serviços. Se compararmos com outros países europeus, como a Estónia, que estão à beira da introdução da sua própria moeda virtual depois de lançar com sucesso um sistema de registo de empresas online e em inglês, temos muito que nos atualizar. Para olhar fora das fronteiras num mercado onde o tamanho do mercado é o elemento mais crucial do sucesso, Portugal pode posicionar-se como um país líder na Europa, e Portugal deve fazê-lo, devido ao seu tamanho. Esta situação é muito comparável a Israel, e no caso desse pequeno do país, o governo tem desejado inovar desde os anos 70. Com resultados significativos no ecossistema do empreendedorismo e com impacto global para start-ups israelitas.
A boa notícia aqui é que o governo está disposto a inovar, tal como os esforços incansáveis de todos os envolvidos na divulgação de Portugal durante o Web Summit provaram. A ótima notícia é que Portugal tem o ADN: a internacionalização está implantada nos portugueses, como em poucos países do mundo, por isso espero que os portugueses apoiem o governo a ir ainda mais longe no esforço de preparar o país para o futuro.
A mudança na secretaria de Estado da Indústria provocou alguma alteração nas vossas relações com o governo?
Resposta simples: não provocou. A Startup Portugal tem estado historicamente bem ligada com as instituições que governam o país e, como a Startup Portugal ainda é jovem, com um ano de idade, ainda estamos a aprender e crescer todos os dias. A nova Secretária de Estado da Indústria, Ana Lehmann, tem sido extremamente solidária neste esforço.
A Startup Portugal conseguiu colocar em prática os programas a que se propôs para 2017?
Sim! Fomos capazes de fazer não só o que planeamos, mas também de aumentar os nossos esforços. Uma coisa que começou a acontecer este dezembro foram as nossas missões no estrangeiro com start-ups locais em feiras como Slush (Helsinki), TechCrunch Disrupt (Berlim) e The Next Web (Nova Iorque). Acho que isso não foi amplamente anunciado no início do ano. E temos muito mais para vir.
Quais as metas da Startup Portugal para 2018? Qual vai ser o vosso maior desafio?
O maior desafio pessoal será o crescimento da equipa com sucesso, como em qualquer outra start-up. Estamos num ponto comparável a termos atingido a série A e, agora estamos, realmente, a trazer mais velocidade para a nossa operação, e mais volume. Mas o nosso maior desafio será garantir que escutamos, que ouvimos na rua o que falta às start-ups e que encontramos soluções para esses problemas.
Qual o impacto das start-ups na dinamização da economia nacional?
O impacto é muito maior do que parece à primeira vista. Algo a saber sobre este assunto é que uma start-up, mesmo que falhe nove das 10 vezes, segundo a regra da velha guarda dos fundos de capital de risco, está a competir num nível internacional de serviço, de product design, de preços, de marketing e de angariação de investimentos.Todos os envolvidos, bem-sucedidos ou não, aprendem muito e mesmo que a maioria das start-ups falhe, o efeito na força de trabalho e na sociedade é imenso. Então, posso argumentar, que é várias vezes maior que a contribuição mensurável que as start-ups têm no PIB de Portugal.
Qual seria para si o cenário ideal para o ecossistema empreendedor nacional daqui a cinco anos?
Que Portugal se estabeleça como o país mais relevante da Europa para se encontrar e desenvolver um negócio inovador.
Que erros mais comuns identifica nos empreendedores portugueses?
O mesmo que em todos os lugares, exceto nos Estados Unidos (onde as pessoas são muito boas nisso): um pitch mau.