Entrevista/ 5 questões a Pau Garcia-Milà, CEO da Founderz
Na semana em que oficializa a entrada em Portugal e em que anunciou o lançamento de um programa online de Inteligência Artificial, em parceria com a Microsoft, Pau Garcia-Milà, CEO da Founderz, responde às cinco questões propostas pelo Link to Leaders.
A escola digital Founderz apresentou esta semana o seu programa 100% online, personalizado e flexível, e que tem como objetivo dar resposta à procura de conhecimentos técnicos em inteligência artificial, machine learning e prompt engineering. Trata-se de uma colaboração com a Microsoft que visa democratizar o acesso à formação nas tecnologias que estão a marcar a atual tendência global.
Cofundada por Pau Garcia-Milà e Anna Cejudo, a escola internacional de negócios digitais pretende transformar o modelo educativo tradicional e criar a melhor experiência educativa online apoiada na utilização de novas tecnologias, como a IA ou o metaverso. Atualmente, a Founderz tem uma comunidade internacional superior a 7 mil alunos em mais de 20 países. Pau Garcia-Milà aceitou o desafio Link to Leaders para falar de inovação e liderança, e aconselhar as start-ups sobre erros que não devem cometer.
O que é para si inovação?
Normalmente, quando pensamos em inovação, imaginamos ideias disruptivas e muito diferentes de tudo o que já vimos anteriormente. Claro, isso é inovação, mas há muito mais. Inovação é também desenvolver nova tecnologia ou processos; levar produtos a novos mercados; aplicar tecnologia já existente em setores onde ainda não tinha chegado, e por aí fora.
Por isso, quando nos questionamos sobre o que é inovar, devemos adotar uma perspetiva mais abrangente. Para mim, inovar é encontrar formas revolucionárias de adicionar valor e resolver problemas reais da sociedade.
Dito isto, é importante distinguirmos o conceito de inovação do de empreendedorismo. Há milhares de empresas que nascem todos os anos como empreendedoras, mas que não inovam. E empresas com anos de história que inovam incessantemente. No nosso caso, tínhamos claro que a Founderz, a nossa escola de negócios online, teria uma forte componente de inovação. Não só porque utilizamos as mais recentes tecnologias para proporcionar a melhor experiência de aprendizagem, mas também porque criamos programas que antecipam as necessidades do mercado de trabalho e preparam os nossos alunos para o futuro.
“(…) os líderes devem ser flexíveis, desejosos de aprender e capazes de se adaptar conforme as circunstâncias”.
Qual a competência fundamental para exercer a liderança nos dias de hoje?
Penso que em 2023, com o boom tecnológico que as Inteligências Artificiais generativas trouxeram, tornou-se mais claro do que nunca: a adaptabilidade. Num mundo em constante mudança, especialmente nos campos tecnológico e de negócios, os líderes devem ser flexíveis, desejosos de aprender e capazes de se adaptar conforme as circunstâncias. Para ser um bom líder, não basta adaptar-se às mudanças, é preciso antecipá-las e ser proativo na busca de soluções.
Uma ideia que gostava de implementar?
Neste momento, gostaria de implementar as novas IAs na plataforma educativa da Founderz, o projeto em que estou focado atualmente, que é uma escola de negócios online. O nosso objetivo é proporcionar a melhor experiência de aprendizagem e, com a mais recente tecnologia em inteligência artificial, poderíamos alcançar uma plataforma mais personalizada e eficaz para cada indivíduo.
Por exemplo, ocorre-me usar a IA para avaliar os pontos fortes e áreas de melhoria de cada aluno; identificar diferentes estilos e ritmos de aprendizagem na nossa comunidade; personalizar o conteúdo para se ajustar aos interesses de cada aluno, entre outros.
Uma das nossas mais recentes inovações na plataforma foi o Z, um chatbot desenvolvido com o GPT-4, que responde em tempo real a todas as dúvidas dos alunos.
“Apresentar um projeto fora de tempo desgasta as possibilidades de investimento”.
Que argumentos não devem faltar numa start-up para atrair investimento?
Para atrair investimento, existem quatro pilares fundamentais que devemos evidenciar ao apresentar a nossa start-up: uma proposta de valor clara e diferenciada. Não precisa ser a ideia mais inovadora, mas deve resolver um problema real para um público específico; um mercado-alvo grande e em crescimento; um modelo de negócios viável e, acima de tudo, escalável. Os investidores procuram projetos com maior potencial de retorno e crescimento exponencial; e uma equipa dedicada e com experiência no setor. Essencial para dar mais credibilidade e segurança ao projeto.
Um conselho adicional seria abordar os investidores no momento certo. Devemos entrar em contato com diferentes tipos de investidores ou instrumentos de investimento no momento apropriado para cada um. Por exemplo, não faz sentido abordar Business Angels quando o projeto está prestes a ser lançado, mas ainda não tem tração. Ou não devemos abordar mecanismos de dívida se o projeto está numa fase inicial e está a ter prejuízos. Apresentar um projeto fora de tempo desgasta as possibilidades de investimento e cria uma má imagem na comunidade investidora.
“(…) é essencial que toda e qualquer start-up esteja preparada para falhar, que tenha planos de contingência (…)”.
Erros que as start-ups nunca devem cometer?
O maior erro que todos os empreendedores cometem em algum ponto da sua carreira é ter medo do fracasso. O fracasso, no mundo das start-ups, é algo com que lidamos diariamente. De facto, diria que um bom projeto é aquele que nos faz falhar mais rápido, e que nos faz utilizar esse fracasso e aprendizagem como um ponto de partida para alcançar o sucesso. Por isso, é essencial que toda e qualquer start-up esteja preparada para falhar, que tenha planos de contingência e esteja disposta a mudar de direção quando necessário.
Outro erro a evitar é perder a nossa visão e missão originais. É fácil desviar-se do caminho ao procurar receitas rápidas ou ao dar demasiada atenção à opinião de terceiros. Sempre que surgir uma nova oportunidade, não devemos aceitá-la tendo em conta apenas os lucros ou benefícios que nos trará. Devemos também ponderar se esta vai ao encontro da nossa visão enquanto empresa.