Opinião

Interior: um território de oportunidades

Pedro Machado, presidente da ERT Centro de Portugal

Para muitos portugueses, o Interior do seu país é um território amaldiçoado. São terras que não interessam a ninguém, onde não acontece nada, em que não vale a pena investir. Esta conceção não poderia estar mais errada.

O futuro da atividade turística – e tão fundamental que ela é para o crescimento económico – passa, inquestionavelmente, pela aposta nas regiões mais afastadas dos grandes centros.

Durante muito tempo, demasiado tempo, não se pensou assim. Portugal era vendido nos mercados externos como um destino turístico de sol e praia, numa opção que votava ao esquecimento a esmagadora maioria do país. Só recentemente se emendou a mão, com uma aposta nas principais cidades que, progressivamente, se estendeu a outros destinos do país. Mas não a todos: o interior continua longe das prioridades de quem decide. É como se este país estivesse inclinado para o mar.

Tantas décadas de ostracismo criaram, paradoxalmente, novas oportunidades às gentes do Interior. Nos dias de hoje, as novas tendências internacionais da procura turística privilegiam os destinos que não sejam massificados, aqueles que ainda estão intocados e tranquilos. Produtos turísticos como o ‘dark sky’, o “birdwatching” ou, até, o “walking & cycling”, só para dar três exemplos, apenas conseguem ser devidamente usufruídos em locais sem poluição luminosa, sonora, visual e ambiental.

Há, por isso, que continuar a trabalhar para melhorar a perceção que o país tem dos seus territórios de interior, assim como há que colocar continuamente à disposição dos cidadãos instrumentos que os apoiem a fixar-se e a investir nestes territórios.

Nós não temos um problema de desertificação do interior, como alguns dizem; nós temos, isso sim, um problema de povoamento e de competitividade, o que é substancialmente diferente. Não é correto falar em desertificação quando nestas regiões há infraestruturas e equipamentos construídos. Temos é um problema de povoamento, pois escasseiam os incentivos à fixação das populações, e de competitividade, uma vez que os cidadãos que vivem nos concelhos de Interior dispõem de metade do rendimento per capita daqueles que residem nas regiões litorais mais desenvolvidas.

Corrigir estas assimetrias deveria ser o desígnio de todo o país, incluindo o Estado e o setor privado. Criar as condições e instrumentos para atenuar as desigualdades e distribuir de forma mais justa o financiamento disponível. Sob pena de a inclinação para o mar se acentuar de tal forma que provoque o naufrágio do país.

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Pedro Machado

Pedro Machado

Pedro Machado é Presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal desde 2013. Doutorado em Turismo, pela Universidade de Aveiro, é Mestre em Ciências de Educação, na Área de Especialização - Psicologia Educacional, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, e Licenciado em Filosofia. É Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Rotas do Vinho de Portugal desde 2014;Membro Cooptado da ESTH/IGP –Superior de Turismo e Hotelaria do Instituto Politécnico da Guarda... Ler Mais..

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