Inteligência artificial pode intensificar a escassez de competências, segundo Adecco

61% dos inquiridos no “Liderar em tempos disruptivos”, da Adecco, acredita que a Inteligência Artificial é revolucionária para o seu setor.
“É urgente desenvolver competências para maximizar o potencial da Inteligência Artificial (IA) e garantir a empregabilidade dos trabalhadores”, conclui um estudo divulgado hoje pela Adecco Portugal, um trabalho desenvolvido em colaboração com a Oxford Economics e que envolveu um inquérito a dois mil executivos seniores, distribuídos por nove países e 17 indústrias, para compreender como a IA está a afetar a estratégia de talento.
De acordo com o “Liderar em tempos disruptivos”, mais de metade das empresas inquiridas planeia recrutar um novo talento para enfrentar a adoção massiva da Inteligência Artificial, em vez de requalificar os trabalhadores existentes. 66% afirmaram que irão contratar externamente talento com competências em IA, enquanto apenas 34% disseram que irão desenvolver a força de trabalho existente.
Tendo em conta a procura antecipada por estas competências, 37% dos líderes empresariais referem que os salários para funções relacionadas com a IA irão “aumentar significativamente” nos próximos 12 meses, comparativamente a apenas 24% para funções de white collar e 9% para funções de blue collar.
“A Inteligência Artificial está a emergir como um grande disruptor no mundo do trabalho e o caminho atual é insustentável. As empresas devem fazer mais para requalificar e redistribuir equipas de forma a tirar o máximo proveito deste salto tecnológico e evitar perturbações desnecessárias. Contratar não deve ser a única abordagem que as empresas deverão adotar”, afirma Denis Machuel, diretor executivo do Grupo Adecco.
A pesquisa da Adecco constata ainda que o fosso entre “contratar vs desenvolver” talento é cada vez maior e que está a estender-se a outras competências digitais. 62% dos líderes referem que irão contratar especialistas em literacia de dados externamente, em comparação com 36% que afirmam que irão requalificar ou melhorar as competências das equipas. Por sua vez, 60% planeiam contratar para preencher lacunas de literacia digital em comparação com 37% que indicam que irão desenvolver capacidades nesta área.
Os líderes empresariais preveem perturbações significativas no mercado de trabalho mais amplo. 46% dizem que irão redistribuir colaboradores cujos empregos sejam perdidos devido à IA. 41% afirmam que, devido à tecnologia, irão empregar menos pessoas dentro de cinco anos.
O inquérito promovido pela Adecco também descobriu que a lacuna de competências em IA se estende até ao topo das empresas, com 57% dos inquiridos a manifestarem falta de confiança na capacidade da própria liderança de topo para entender os “riscos e oportunidades” proporcionados pela IA. Apenas 43% deste grupo disse ter programas de formação formal em vigor para melhorar as competências em IA, enquanto apenas 50% indicou que fornece orientação aos colaboradores sobre como utilizar a IA no trabalho.
Apesar de toda a transformação que se adivinha com a IA, os líderes empresariais dizem que as competências humanas continuarão a desempenhar um papel crítico no sucesso de qualquer empresa. 57% refere que o “toque humano” ainda é mais influente do que a IA no local de trabalho, enquanto a criatividade e a inovação são citadas como a principal área onde faltam competências.
Mas as conclusões do estudo não ficam por aqui. Vejamos:
IA já impõe mudanças – 61% dos líderes esperam que a IA seja um fator de mudança para a sua indústria. Este entusiasmo relativamente à IA deve ser usado como alavanca de mudança para ajudar as organizações a evoluírem nos seus planos de transformação. Atualmente, apenas uma em cada dez empresas fez progressos significativos.
Líderes não estão prontos – os líderes precisam de compreender os desafios e as oportunidades da IA antes de poderem definir a estratégia correta. Mas existem lacunas de competências nas chefias de topo, com a maioria dos inquiridos a afirmar que não tem confiança nas competências de IA da sua equipa executiva, o que tem impacto indireto na disposição da força de trabalho. Por isso, os líderes devem adotar uma mentalidade “adaptativa”.
Estratégia responsável de captação de talento – as empresas precisam de criar um enquadramento para a forma como utilizam a IA de forma ética e responsável. É fundamental criar confiança digital para que a IA triunfe no local de trabalho e as equipas tenham confiança na tecnologia. Políticas responsáveis relativas à IA são cruciais para obter a adesão de toda a empresa, criar confiança e avançar na adoção da tecnologia.
A estratégia “contratar vs desenvolver” talento não é sustentável – A maioria das empresas prevê recrutar e não formar as equipas existentes. Esta abordagem ameaça criar escassez de competências, o que inflaciona os salários. Por isso, as empresas devem desenvolver competências relevantes na sua força de trabalho para evitar inflacionar a escassez de qualificações e, assim, garantir a empregabilidade dos colaboradores.
Negócio centrado nas pessoas – os líderes devem reforçar as características exclusivamente humanas através de coaching, formação e desenvolvimento de liderança. A IA deve ser utilizada para desbloquear o potencial humano, libertando-o do peso das tarefas de trabalho intensivo. Tem também um papel fundamental no reforço das competências interpessoais e na promoção da mobilidade interna.