Opinião

Instabilidade, investimentos e o primeiro unicórnio de 2023

Daniela Meirelles, empreendedora e business advisor

Os investimentos em start-ups caíram 86% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.

Segundo o Inside Venture Capital Report da Distrito, relatório que monitoriza a atuação de fundos de investimento em empresas de tecnologia no Brasil, em 91 rondas houve aportes no valor de apenas 247,02 milhões de dólares. A instabilidade do ecossistema trazida pela queda de 70% no investimento de capital de risco em criptomoedas, redução da liquidez, incertezas geopolíticas, uma série de layoffs, culminou com a quebra em março do Silicon Valley Bank nos Estados Unidos. Com isso, os investidores tornaram-se mais cautelosos, exigentes e têm procurado start-ups que demonstrem maturidade do negócio e dos seus fundadores, tração, receita recorrente mensal e lucro.

Já a Merama, start-up que ajuda a alavancar marcas em plataformas digitais, dispensou recentemente 10% do seu quadro de funcionários. Com escritórios em São Paulo e no México, a Merama tem o seu modelo de negócios centrado no crescimento exponencial de marcas latino-americanas predominantemente digitais. A proposta é identificar as marcas que mais se destacam em cada categoria e comprar uma fatia maioritária delas. A empresa já levantou 345 milhões de dólares em investimentos de empresas como o SoftBank e foi avaliada pela última vez em 1,2 biliões de dólares.

A pandemia impulsionou significativamente o crescimento do mercado de saúde e das healthtechs. A Liga Ventures, rede de inovação aberta que conecta start-ups e grandes empresas para geração de negócios, com o apoio estratégico da PwC Brasil, lançou um relatório que mostra a evolução das healthtechs no país. Ao todo, foram mapeadas 520 start-ups que estão ativas e utilizam diferentes tecnologias. Segundo o relatório, foram realizados 38 deals entre janeiro de 2022 e junho de 2023, que movimentaram 1,3 biliões de reais. As start-ups de planos e financiamento (24%), infraestrutura para telemedicina (16%) e buscadores e agendamentos (14%) tiveram a maior participação no montante total investido nesse período.

A abertura de CVCs (Corporate Venture Capital), fundos de investimento criados por uma empresa para investir em start-ups e outros negócios, tem sido crescente. No ano passado, as start-ups brasileiras receberam 3 biliões de reais em investimentos através de CVCs. Eles tem sido uma boa opção para start-ups que procuram investimento. O Santander anunciou a criação do seu próprio fundo focado em fintechs.

O tema do momento é a inteligência artificial e todas start-ups que possuem essa tecnologia tem saído na frente e ganho aportes de capital. Há 111 start-ups brasileiras com foco na tecnologia, além do crescimento nos investimentos. Além da IA, temas como edge computing, blockchain, robótica, agricultura regenerativa, genômica e realidade simulada figuram entre as principais tendências para o futuro entre as 504 start-ups brasileiras sondadas pelo Distrito.

A Yara, start-up que confeciona couro derivado de peixe da Amazónia, recebeu um aporte de 2 milhões de reais através do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) coordenado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus e executado pelo Instituto de Desenvolvimento da Amazónia (IDESAM). A empresa tem como principal missão desenvolver a cadeia do pescado de ponta a ponta e tratar a pele do peixe não como resíduo, mas como matéria-prima para criar produtos com a identidade da Amazónia nas indústrias de moda e revestimento.

A Omni, healthtech focada em democratizar o acesso da população a medicamentos, levantou uma ronda seed no valor de 5 milhões de reais liderada pela VEC Investments. A start-up independente na saúde é o primeiro plano de medicamentos 100% digital do Brasil focado no segmento b2b.

A WinZO, plataforma de jogos indiana, anunciou um fundo focado no Brasil de 10 milhões de reais para apoiar o crescimento de jogos, conteúdos e desenvolvimento de tecnologia ligada ao ecossistema de videogames.

A VIPe, uma instituição financeira de crédito produtivo orientado, recebeu um aporte de R$ 110 milhões de reais numa ronda liderada pela Airborne Ventures, juntamente com outros investidores. O objetivo dessas empresas é ajudar o segmento de clientes que possuem acesso limitado a produtos de crédito, mas que têm emprego formal.

A edtech Motrix, especializada em desenvolver plataformas personalizadas para flexibilizar conteúdo programático de currículo escolar, recebeu um aporte de 14,05 milhões reais do Grupo Ágathos, 8,8 milhões de reais em aporte financeiro direto e o equivalente a 5,25 milhões de reais em aportes não financeiros.

A notícia mais quente do momento no ecossistema brasileiro refere-se ao primeiro unicórnio de 2023: a Visa acaba de adquirir a Pismo por 1 bilião de dólares. A fintech brasileira desenvolve soluções e serviços bancários para bancos digitais e instituições financeiras. A start-up opera na América Latina, Sudeste Asiático e na Europa como uma processadora nativa de nuvem e plataforma de serviços bancários.
A Redpoint eventures, o Softbank, a Amazon, a Accel e a Headline (antiga eventures) estão entre os investidores da fintech. O negócio empata, em valor nominal, com a compra da 99 pela Didi Chuxing, em janeiro de 2018, como o maior valor já divulgado de M&A de uma start-up brasileira.

Vamos torcer para que 2023 nos traga mais unicórnios, mas que principalmente o mercado consiga estabilizar-se e voltar a dar sinais de crescimento. A todos: força.

Fontes: Folha, Startupi, Exame

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Daniela Meirelles

Daniela Meirelles

Daniela Meirelles é empreendedora, business advisor, mentora de start-ups e palestrante (Branding, Empreendedorismo e Liderança). Foi fundadora da DBRAND, consultora de branding, marketing e inovação; fundadora/CEO da Yuppy, start-up de media, marketing e eventos; mentora nos programas Startup Rio, Startup Weekend e Founder’s Institute; palestrante; e também atua na organização do II Chapter da Singularity University, no Rio de Janeiro. Tem 15 anos de experiência em marketing, branding e desenvolvimento de novos negócios. Desenvolveu inúmeros projetos para pequenas, médias e... Ler Mais..

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