Opinião
Incorporar criatividade na economia

A criatividade é um importante fator de competitividade, no qual Portugal deve apostar para vencer os desafios da nova economia centrada no conhecimento e nas tecnologias digitais.
Com recurso à criatividade, as empresas desenvolvem produtos, serviços, conceitos e soluções que as diferenciam no mercado e as tornam, assim, mais competitivas. Contudo, nem sempre é óbvia a relação das indústrias culturais e criativas com a dinâmica económica. Mas essa relação existe de facto. A criatividade gera boas ideias e as boas ideias podem, potencialmente, transformar-se em produtos com interesse para o mercado. Daí que esta indústrias constituam um setor em expansão e com crescente peso económico nos países desenvolvidos, não sendo Portugal uma exceção.
As indústrias culturais e criativas representam 5,5% do PIB total da União Europeia e 6,2% de toda a mão-de-obra na Europa. Em Portugal, o peso no produto é inferior mas, ainda assim, deve situar-se nos 4%, o que corresponde a 6 mil milhões de euros de riqueza anual gerados pela arte, moda, design, audiovisuais, edição, gaming, entre outras fileiras. Os avanços nas tecnologias digitais impulsionaram o crescimento destas indústrias, sendo por isso de esperar que o seu impacto nas economias desenvolvidas aumente exponencialmente nas próximas décadas.
Por outro lado, as indústrias culturais e criativas são também importantes para a reestruturação, modernização e reforço competitivo dos setores tradicionais, como o têxtil, o vestuário ou o calçado. Para competir com economias que beneficiam de custos de produção e de fator trabalho mais baixos, a diferenciação de produtos e serviços, a intensidade tecnológica e os conteúdos de inovação afiguram-se fundamentais e dependem, em boa medida, desse bem intangível que é a criatividade.
As indústrias culturais e criativas representam, efetivamente, uma subida na cadeia de valor. Neste sentido, podem ser consideradas um exemplo de como o nosso tecido produtivo tem de evoluir, de forma a responder às exigências da competitividade internacional. Portugal deve, de facto, criar um ecossistema que favoreça a conversão do conhecimento científico, tecnológico e criativo em valor empresarial. Esta é a melhor via para aumentar a oferta de bens e serviços que, pelo seu carácter inovador, são competitivos externamente e contribuem para o equilíbrio da nossa balança comercial.
Sabemos, contudo, como a cultura continua a ser subfinanciada em Portugal. O peso da dotação da cultura no Orçamento do Estado é pouco mais de 2% da despesa discricionária, o que diz bem do fraco investimento público neste setor. É certo que estão previstos investimentos importantes para a cultura com financiamento do PRR, mas não se pode falar de uma aposta clara numa indústria com peso económico crescente e que funciona também como um fator de atratividade turística.
A transformação da economia portuguesa passa muito pelo desenvolvimento das indústrias culturais e criativas e pelo seu efeito noutros setores de atividade económica. Basta olhar para o que se verifica nos Estados Unidos ou nos principais países europeus, que têm na cultura quer um instrumento de afirmação internacional, quer um fator crítico de competitividade e crescimento económico.
Trazer a criatividade para a economia portuguesa é indispensável. Logo, há criar as condições e incentivos necessários para que as empresas tenham condições de converter em valor económico o potencial criativo e inovador que existe no país.
*ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários