Opinião
Impacto da IA na gestão: liderar com inteligência humana

O impacto da Inteligência Artificial (IA) na comunicação é uma realidade cada vez mais presente no quotidiano das empresas e não um cenário do futuro.
É do conhecimento comum qual o papel da IA na criação de conteúdos, mas menos sobre a profunda transformação que estas ferramentas têm na gestão dos bastidores das agências de comunicação e Relações Públicas. O seu grande potencial é contribuir para agilizar processos internos, estratégicos e humanos.
A gestão numa agência de comunicação implica potenciar em simultâneo o equilíbrio entre dimensões – planeamento, gestão de clientes, monitorização de resultados, definição de equipas, orçamentação, relatórios, formação, recrutamento, etc. Neste âmbito, a adoção de ferramentas de IA tem sido como uma alavanca de eficiência e inteligência operacional.
A automação de relatórios de cobertura mediática que exigia muitas horas de compilação manual é um exemplo de como hoje pode ser feito com o apoio de ferramentas de IA – como Meltwater ou Talkwalker – numa questão de minutos. Estas ferramentas, combinadas com sistemas de análise automática permitem, não só a recolha de dados em tempo real, mas também gerar resumos executivos com insights, gráficos, tendências e mesmo recomendações.
No meu caso como gestor, vai muito além da gestão eficaz do tempo que dispenso agora a reorientar recursos e talento para tarefas de valor acrescentado como são os processos de análise estratégica, criatividade e até na relação com o cliente. A diferença entre ocupar o tempo com infindáveis minudências ou ser útil em tempo real.
As ferramentas de IA revolucionam ainda forma como analisamos comportamentos de stakeholders e planeamos campanhas personalizadas. Com base em dados de CRM, interações anteriores, padrões de consumo de conteúdos e análise de sentimento em social media, é hoje possível prever com grande precisão qual o tipo de abordagem que funcionará com cada cliente ou público-alvo.
Já existe em Portugal, agências de comunicação e RP como a que represento, a utilizar sistemas de avaliação internos destinados a medir mensalmente o “Engagement Level” que recebe cada cliente — não só em termos de contacto direto, mas também em relação a propostas de valor para alem do plano previamente apresentado (relatórios, ações sugeridas, planos B, etc.). Esta dinâmica processual permite-nos enquanto líderes tomar decisões mais informadas, redistribuir atenção e antecipar crises de insatisfação.
Curiosamente, quanto mais tarefas delegamos à IA, mais abrimos espaço para cultivar o que a ferramenta não consegue replicar, como a empatia, intuição, criatividade e confiança. A IA não substitui uma liderança, mas liberta-nos tempo para o que fazemos melhor. Permite-nos dedicar mais tempo no desenvolvimento das equipas e em dinâmicas de escuta ativa dos clientes e no planeamento estratégico de longo prazo.
As agências e grupos de comunicação têm procurado adaptar-se a esta nova realidade, adotando novos procedimentos e produtos. Segundo o Global Comms Report 2024, uma publicação da multinacional Cision em conjunto com a PRWeek, 81% dos líderes de comunicação adotam mais ferramentas de IA devido à pressão crescente para gerar mais resultados com menos recursos. Para mais, 65% dos profissionais afirmam que as ferramentas de IA generativa estão a melhorar significativamente a análise de dados e o planeamento de campanhas. Verificamos assim o impacto positivo da IA na gestão de agências, não só no aumento da produtividade, como também na qualidade das relações internas e externas.
Alguns exemplos de ferramentas que podem ser utilizadas na otimização de processos internos e externos, são a Notion AI que permite a organização de projetos internos, atas de reuniões e gestão de conhecimento ou a Grammarly, e apoia na revisão e sugestões iniciais de copy ou em respostas a briefings, e a Clockwise que ajuda na otimização automática de agendas e reuniões.
Uma liderança inteligente não substitui pessoas por máquinas, utiliza a tecnologia para libertar o melhor das pessoas. Ademais, a integração da IA deve ser feita com visão crítica e princípios éticos. A supervisão humana continua a ser essencial, sobretudo em áreas sensíveis como dados pessoais, privacidade e conteúdos. As empresas quer sejam do setor da comunicação ou outro devem encarar as novas ferramentas de IA como aliadas que permitem auxiliar na eficácia da gestão dos recursos humanos e na relação com os seus clientes.