A história de sucesso do rei da almofada americano

Apelidado como o rei da almofada, o norte-americano Mike Lindell teve um percurso profissional cheio de altos e baixos até chegar ao sucesso com a sua My Pillow.

Por incrível que pareça, a história de sucesso de empreendedorismo de Mike Lindell começou numa casa de chuto. Foi em outono de 2008 que o então divorciado e pai de quatro filhos, dos subúrbios de Minneapolis, com 47 anos, ficava, mais uma vez, sem droga. Estava acordado há dias a tentar salvar a sua start-up em dificuldades e a fazer visitas regulares ao seu dealer.

Muitas pessoas teriam vergonha desta história. Mas Mike Lindell conta-a com frequência. O abuso de drogas começou quando estava na casa dos 20 e nos primeiros anos do MyPillow, que fundou em 2005 para realizar o seu sonho de fazer “a melhor almofada do mundo”. Quando se apercebeu que consumir drogas e gerir uma empresa não era compatível, jurou recuperar-se.

A história é impossível de confirmar, mas tornou-se parte da lenda de Lindell que ele e um amigo, o ator Stephen Baldwin, planeiam transformar num filme inspirador. Anos depois, Lindell está sóbrio e incrivelmente bem-sucedido. Deixou tudo – álcool e drogas – e preside um império que continua a crescer.

O ano passado abriu uma segunda fábrica, viu as vendas subirem de 115 milhões de dólares para 289 milhões e quase triplicou os colaboradores para 1500. A MyPillow tem uma estrutura diretiva quase familiar. Ali trabalham uma das suas filhas, como designer gráfica, o irmão Corey é o segundo maior acionista, a sobrinha Sarah Cronin assistente executiva, o cunhado Brian Schmieg, não tem cargo atribuído mas é responsável por reunir as “preocupações” das fábricas e levá-las ao chefe, e o amigo Bob Sohns é gestor de compras,

Até à data, a empresa vendeu mais de 26 milhões de almofadas, a cerca de 45 euros cada,  a maioria delas diretamente para os consumidores que telefonam e encomendam depois de verem ou ouvirem um dos seus inúmeros anúncios de televisão ou rádio.

Da toxicopendência ao sucesso empresarial
A almofada chegou-lhe num sonho. Lindell era dono de alguns bares bem-sucedidos na zona de Minneapolis, Estados Unidos, e gostava demasiado daquele estilo de vida. Como o próprio já afirmou diversas vezes, “era um drogado muito funcional”, com quatro filhos e uma boa casa. Ajudava com as tarefas diárias, levava a família de férias e era um pai e marido decente, apesar de consumir cocaína.

Durante toda a vida procurou a almofada perfeita. Nunca dormiu bem e estavam sempre a acontecer incidentes que pioravam o problema. Teve ciática, um acidente de carro grave e quase morreu quando fez skydive. Tornou-se viciado.

Uma manhã, depois de acordar, sentou-se na mesa da cozinha e escreveu “MyPillow” vezes sem conta até desenhar um logótipo para um produto que não existia. Quando a filha Lizzie lhe perguntou o que estava a fazer respondeu: “Estou a inventar a melhor almofada que o mundo alguma vez viu! Vai chamar-se MyPillow.”

A única vez que Lindell ficou contente com uma almofada foi quando descobriu uma forma de, nas suas palavras, “micro-ajustar” uma já existente. Seria espuma; puxou e puxou o enchimento para separar o interior/enchimento, depois empilhou e arrumou a espuma rasgada, como um rato a criar um ninho, até chegar à altura certa para o seu pescoço. Depois foi dormir. De manhã, estava tudo desarrumado outra vez.

Para Lindell a almofada perfeita era micro-ajustável mas manteria a forma a noite toda. Comprou toda a variedade de espuma e depois pediu aos dois filhos que se sentassem no chão de casa com ele a desfazerem a espuma em bocados de diferentes tamanhos que iriam enfiar em protótipos para teste. Dia após dia, Lindell tentou acertar com o mix de três tamanhos de espuma. Quando enfiou a quantidade certa de mistura numa fronha e abanou para conseguir a forma pretendida, ficou com essa forma. Era perfeita.

Desfazer a espuma à mão com os filhos não era um modelo escalável. Precisava de uma máquina para fazer esse trabalho. Tentou de tudo, incluindo um cortador de madeira. Um amigo que tinha crescido numa quinta sugeriu-lhe uma máquina antiga usada para moer milho. Encontrou-a e resultou. Acreditava que a sua almofada “ia mudar vidas”. Fez 300 exemplares, procurou compradores, parando em todas as grandes lojas de retalho da zona.

Quando alguém sugeriu que tentasse um quiosque num centro comercial, Lindell pediu um empréstimo para alugar um durante seis meses. Estávamos em 2004. Vendeu a sua primeira almofada no primeiro dia e foi, diz ele, “a melhor sensação de todas”. Mas tinha colocado um preço demasiado baixo e o custo era superior. Além disso, as almofadas eram demasiado grandes para as fronhas normais. O quiosque falhou.

Mas o seu foco no projeto da almofada era a única coisa que podia sobrepor-se a sua necessidade de consumir drogas, mas apenas por alguns períodos de tempo. E cada vez que alguma coisa corria mal tinha uma recaída.

Um dia depois de fechar o quiosque, recebeu telefonemas de alguns clientes, que afirmaram, “esta almofada mudou a minha vida! Um desses entusiastas compradores geria o Minneapolis Home + Garden Show, um dos maiores espaços de produtos para casa do país, e queria que Lindell tivesse um stand. E este assim fez, pegou em 300 almofadas, desta vez de tamanho standard, e vendeu-as todas. Participou em dezenas de feiras de produtos para casa e jardins, “os seus locais de teste”.

E foi assim que, nos anos seguintes geriu a empresa. Juntamente com alguns comerciais, andava de feira em feira com camiões cheios de almofadas. O seu vício continuava, o casamento de 20 anos acabou e perdeu a casa porque estava constantemente a pedir dinheiro para pagar aos fornecedores. Finalmente, percebeu que tinha mesmo de mudar.

A grande oportunidade de dar o salto surgiu com uma entrevista no Minneapolis Star Tribune. Na manhã em que a história saiu, as pesquisas online da MyPillow dispararam. Num só dia, a empresa fez mais vendas do que nos últimos seis meses. Lindell teve outra intuição, a melhor maneira de vender a almofada era contar a história da sua vida, tal como tinha feito desde 2005.

Chegou ao Walmart  e é um dos cinco principais produtos do vasto portfólio de Telebrands e pode ser comprado na Home Depot. Em janeiro de 2016, Lindell anunciou ao seu conselho que tinha o sonho de tornar a MyPillow numa empresa de bilhões de dólares. Parece estar no bom caminho para tal.

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