Entrevista/ “Gosto mais de criar negócios do que gerir projetos de construção”
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Joaquim Valente deu uma volta de 180 graus no seu percurso profissional depois de ter feito um MBA. Trocou a engenharia civil pelos negócios e hoje gere o Porto Exit Games.
Depois de ter trabalhado em engenharia civil durante alguns anos, a veia empreendedora de Joaquim Valente falou mais alto. Deixou essa atividade, fez formação executiva na Porto Business School e aventurou-se em diversos projetos de start-ups até chegar ao Porto Exit Games, um conceito inovador de “escape games” que lidera conjuntamente com a esposa, também ela uma empreendedora que deixou a medicina. Ao Link to Leaders, Joaquim Valente fala da importância da formação no seu percurso, e no de qualquer jovem empreendedor, e nas competências que conquistou.
Qual foi a motivação para um engenheiro civil, como é o seu caso, entrar no mundo dos negócios com o Porto Exit Games?
Formei-me em 2006 em Engenharia Civil e exerci a atividade ainda durante pelo menos três anos e meio. Acontece que mesmo durante esses anos já tinha projetos próprios em áreas totalmente distintas da engenharia civil dos quais tirava rendimento. Três anos foram suficientes para perceber que gostava mais de criar e gerir negócios do que gerir projetos de construção e, como tal, decidi apostar no MBA full-time da Porto Business School (na altura EGP) para fazer o shift total de carreira e preparar-me melhor para a gestão de negócios mais tecnológicos.
Ainda antes de terminar o MBA, em 2010, fui contratado pela Critical Software como gestor de produto o que me deu muita liberdade para aprender imenso e lidar com o top management da empresa, que é excecional. No final de 2011 não resisti à tentação de lançar dois projetos próprios em parceria, nomeadamente, uma empresa de consultoria de gestão e outra de software focada num produto muito específico B2C.
O meu objetivo sempre foi focar-me na gestão de projetos tecnológicos e investi bastante nessa start-up. Inclusive passei uma temporada de meses em aceleradoras de start-ups de software em Silicon Valley e Nova Iorque. No entanto, Portugal estava muito verde em termos de ecossistema de start-ups até 2016 e fez com que fosse redirecionando o meu foco para projetos menos megalómanos e mais próximos de vendas imediatas. Assim, em 2014, aceitei entrar em mais uma start-up baseada em Amesterdão.
No entanto, em 2014, surgiu a oportunidade de também iniciar mais um negócio diferente do normal em que trancamos pessoas e proporcionamos momentos intensos de emoção, a Porto Exit Games. Assim no final de 2014 nasceu a Porto Exit Games no qual também pude contar com a minha atual esposa como sócia, ela que, desta forma, deixava então a medicina como cirurgiã ortopédica para se lançar numa área bem diferente também.
Mantenho uma excelente relação com todas as pessoas dos projetos anteriores em que participei, mas mais recentemente decidi focar-me num número reduzido de projetos em que consigo um maior equilíbrio entre vida pessoal e de empreendedor. Fui vendendo as várias participações que tinha e focando-me cada vez mais na Porto Exit Games e num novo projeto que vou lançar com a minha esposa, e que será pioneiro, a nível mundial. É uma simbiose de tecnologia e divertimento verdadeiramente bombástica.
O que é projeto Porto Exit Games?
A Porto Exit Games é uma empresa de atividades lúdicas para adultos e adolescentes cuja atividade é a realização de experiências de fuga através de jogos temáticos. Cada jogo tem uma história e desafios originais e, durante 60 minutos, as equipas de participantes têm de conseguir encontrar pistas, passagens secretas e decifrar enigmas para conseguirem escapar das salas onde são efetivamente trancados.
Nas nossas atividades as pessoas aprendem na prática a importância do verdadeiro trabalho em equipa, comunicação assertiva e ainda desenvolvem competências de liderança pois de outra forma não conseguem superar as várias etapas dos jogos. Temos como clientes habitantes da região Norte, turistas e bastantes empresas nacionais e internacionais que nos escolhem como atividade preferencial para fazerem atividades de team building. Temos tido sucesso e estamos a preparar novos desafios totalmente inovadores que vão alargar o nosso leque de oferta de serviços.
Qual mais-valia que o MBA em empreendedorismo lhe trouxe?
O MBA deu-me os conhecimentos e as ferramentas para saber enquadrar situações de gestão de qualquer negócio em contextos geríveis e, com isso, a confiança de saber que conseguiria gerir e gerar valor em qualquer empresa em que decidisse trabalhar.
Seria o mesmo empreendedor que é atualmente se não tivesse apostado em formação?
Dificilmente teria ganho tanta confiança em tão pouco tempo para acreditar que conseguiria mudar completamente de setor. Noto também que, hoje em dia, a formação me permite ser um empreendedor completo, capaz de olhar para a estrutura organizacional e operacional da empresa e aplicar melhorias evidente. Mas também a capacidade de saber analisar o contexto económico mundial e nacional e saber investir nas tendências certas. Posso dizer que com o MBA consigo ser um empreendedor com a cabeça “fora do caos”, ou melhor, evitando ser um empreendedor “avestruz” que fica completamente absorvido pelo day-to-day work.
Quais as ferramentas mais importantes que adquiriu na formação da Porto Business School?
A gestão de pessoas e recursos é algo em que a Engenharia Civil me deu muita competência e sentido prático, pelo que, o MBA foi-me mais útil nas áreas do marketing e da otimização operacional. Vários conceitos que desconhecia completamente até então passaram a ser parte do meu dia-a-dia e a vontade de continuar a aprender mais ficou sempre mais forte.
Que retorno prático conseguiu para o seu projeto empresarial? Quais os reflexos imediatos na sua carreira profissional?
Hoje considero-me uma pessoa e um profissional completo pois sei perfeitamente o estilo de vida que quero ter e como enquadrar a família e os amigos em tudo o que faço. Se não tivesse tirado o MBA na altura que tirei provavelmente seria mais um “rato na selva” por esta altura, mesmo que tivesse seguido o caminho empreendedor sem formação. A cultura millennial que hoje em dia domina o empreendedorismo tem vários pontos positivos porque há muito dinamismo. Mas ao mesmo tempo mata muito a essência do que cada pessoa é e isso é negativo e perigoso. A manutenção e a aposta na originalidade, e o afastamento das artificialidades desta cultura, são algumas batalhas para quem é empreendedor e hoje já consigo ter esse afastamento saudável. A experiência do MBA ajuda-me a ver tudo muito mais em perspetiva e não ficar tão absorvido nas coisas más do empreendedorismo.
Como avalia a atual ligação entre o mundo académico e empresarial?
Mantenho uma ligação saudável com a Porto Business School, com vários ex-colegas e alguns dos professores. Volto várias vezes à escola para contribuir da forma que posso, seja num seminário ou palestra, e é sempre um grande prazer. Tenho também colaborado com outras instituições como a FEUP, a Cotec e a ANJE para apoiar estudantes, doutorados e recém-empreendedores a conseguirem dar os primeiros passos nos seus projetos e, assim, contribuir para o crescimento do nosso ecossistema empreendedor.
No que toca à PBS sinto que tem feito esforços para se atualizar face a um mundo que está a mudar muito depressa. No entanto, esta é uma corrida contra o tempo e acho que ainda há vários “updates” que o mundo académico, no geral, vai ter de fazer no curto prazo para que as pessoas sejam mais bem preparadas para a nova realidade do mundo e dos negócios. De um modo geral, considero que é preciso ter um maior sentido prático por parte dos corpos docentes e dos conteúdos dos programas. Ainda somos muito teóricos em Portugal.
Considera importante um empreendedor voltar à “escola” de vez em quando?
Um empreendedor que não procure aprender algo novo todos os dias, dificilmente consegue ser um empreendedor de sucesso ou, pelo menos, um empreendedor feliz e seguro. É absolutamente crítico apostar na formação para se conseguir seguir em frente mas, dependendo das temáticas, nem sempre é fácil encontrar o curso ou a abordagem certa para determinados assuntos.
O desafio do crescimento de um empreendedor tem de ser constante, tem de estar sempre atento às suas necessidades de aprendizagem e obter o conhecimento que lhe falta seja na Internet ou na academia. Uma das grandes vantagens da academia é que, ao estarmos inseridos numa turma com outras pessoas de negócios, conseguimos tirar partido de todo um networking, particularmente forte na PBS, que abre muitas portas e também nos traz muitas amizades e mais coisas positivas.