Opinião

#FAKEYOU

Luís Madureira, partner da ÜBERBRANDS

Este artigo é inspirado num post do Rodolfo Cardoso sobre o que não deve ser feito online relativamente à partilha de informação (Fake News) de forma “automática”, e no seguinte comentário da Susana Coerver: #FakeYou se te ficas pelas gordas”.

Como se não bastasse a enorme quantidade de dados e informação já existente, e que continua a crescer exponencialmente, o ruído aumenta na mesma proporção, se não mesmo de forma mais rápida. A este fenómeno foi dada a designação de:

Information Noise: fluxo de dados não filtrado, em que o valor acrescentado do acréscimo dos dados se reduz na proporção direta da sua quantidade.

Se este é o ruído intrínseco aos dados, temos ainda de considerar o ruído que é introduzido de forma deliberada através das Fake News, Tainted Leaks, e PsyOps (pensem nas campanhas da Cambridge Analytica nas eleições dos EUA e no BREXIT). Ou ainda através da compra de Likes ou Followers com recurso (ou não) a Click Farms, o que altera a nossa perceção de determinada pessoa, marca ou organização. E tudo isto sem considerar o enviesamento “normal” dos meios de comunicação, com influência pública ou privada.

A tudo isto junta-se um ritmo dos negócios cada vez mais rápido, como ilustra a minha amiga Sophie Devonshire no seu livro “Superfast – Lead at Speed”, assim como a diminuição da nossa capacidade de prestar atenção (Attention Span). Segundo o [descubra a fonte aqui]:

O Attention Span era de 12 segundos em 2000, baixando para 8,25 segundos em 2015, menor que o de um peixe de aquário que é de 9 segundos.

Considerando que um empreendedor ou gestor de um start-up atua num ambiente onde a velocidade do negócio e a necessidade de tomar decisões de forma célere é mais elevada, o problema agrava-se consideravelmente, pondo em causa a sua performance e a da organização que gere. Este abaixamento de performance tem como causa a falta de qualidade da tomada de decisão e das estratégias desenvolvidas, mas também a qualidade do feedback obtido às iniciativas implementadas. No entanto, a root-cause de todo este problema está na qualidade dos dados e informação que usa.

E como é que podemos resolver este problema nas suas várias dimensões? Alguns exemplos:

  1. Obesidade de Informação: assim como procuramos uma alimentação mais saudável, deveríamos ter em atenção a qualidade da informação a que nos expomos, que recolhemos, e que escolhemos prestar a tão pouca atenção que temos;
  2. Pensamento Crítico: temos de explorar o contexto, encontrar provas que corroboram o que se lê, avaliar as fontes, e acima de tudo questionar a lógica dos próprios dados;
  3. Vieses Cognitivos: evitar atalhos no processamento de informação, modelos mentais pré-estabelecidos, e a falta de clareza mental através do aumento da capacidade de desenvolver insights e perspetivas de forma correta ao estar alerta para os vieses, e até mesmo evitar a influência social (exemplo: Groupthink – tomada de decisão em grupo que alinha pelas opiniões de alguns dos membros para evitar a confrontação);
  4. Competitive Intelligence: é necessário ter especialistas que garantam a qualidade dos dados e informação, que o seu processamento e análise evita vieses, e que a comunicação e uso dos insights daí resultantes é feita de forma eficaz. Em resumo, alguém que filtre o ruído e cujo foco é antecipar o que vai acontecer (Prospetiva), para que os decisores possam ser proativos em vez de reativos na tomada de decisão, e na abordagem aos desafios do negócio.

Numa altura em que todos temos os nossos 15 minutos de fama, seja através de artigos em redes sociais, sites ou blogs, de experiências e avaliações de produtos e serviços que partilhamos no TripAdvisor, no Zomato ou no Airbnb, é imprescindível que o conteúdo que geramos e partilhamos seja da melhor qualidade possível. E se continuarmos a partilhar conteúdos de forma “automática”, sem pensamento crítico, e navegando ao sabor das “gordas’, qualquer dia somos todos “surdos”, pois mesmo conseguindo ouvir, não vamos conseguir fazer sentido do que ouvimos e como tal não vamos conseguir realmente escutar.

Repito a minha resposta no thread do post do Rodolfo:

“#FakeYou se te ficas pelas gordas e não ajudes a #FakeYou, a tua rede de contactos nem a tua organização!”

P.S. Desafio-o a verificar se esta informação sobre o Attention Span é verdadeira ou falsa. Quantos leitores acha que vão verificar a informação deste artigo antes de partilhar? [Click para voltar].

Referências:
Post Original Rodolfo Cardoso – http://bit.ly/36zQr0Q
Tainted Leaks – http://bit.ly/317xX6X (em inglês)
Cambridge Analytica – http://bit.ly/36y2nQZ
SuperFast – https://amzn.to/37LMg3q
Critical Thinking – http://bit.ly/313cFHq (em inglês)
Vieses Congnitivos – http://bit.ly/37AT2cq
Groupthink – http://bit.ly/2uK8Smj
Competitive Intelligence – http://bit.ly/36B9nwu

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Luís Madureira

Luís Madureira

Luís Madureira é fundador da ÜBERBRANDS, uma boutique de consultoria estratégica que ajuda organizações e os seus líderes a navegar o ambiente competitivo com sucesso. É Chairman da SCIP Portugal e Fellow do Council of Competitive Intelligence Fellows desde 2018. É keynote speaker e professor premiado a nível internacional (PT, US, FR, ES, SI, UK), nomeadamente pelos alunos do Ljubljana MBA por duas vezes consecutivas. Acumula o cargo de Global Competitive Intelligence Practice Lead da Presciant e previamente da OgilvyRed,... Ler Mais..

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