Entrevista/ “Existe uma clara preferência por imóveis que integrem ou gozem de proximidade a espaços verdes”

Patrícia Melo e Liz, CEO da Savills Portugal

“Para 2022 é expectável que o mercado imobiliário se aproxime mais dos montantes de investimento observados no período pré-pandemia, alcançando um valor superior aos dois mil milhões de euros, suportado pelo fecho de aquisições de peso de portefólios nos segmentos de Hospitality, PBSA e Logística”. A convicção é de Patrícia Melo e Liz, CEO da Savills Portugal, que adianta ainda que estamos “no radar de um leque muito diversificado de investidores e compradores provenientes de todos os continentes”.

2022 será o ano da retoma a níveis pré-pandemia para o mercado imobiliário nacional, aponta Patrícia Melo e Liz, CEO da Savills Portugal, consultora que entrou no mercado português, em 2018, depois da aquisição da Aguirre Newman.

Em entrevista ao Link To Leaders, a responsável refere que os setores Residencial e Logística continuarão a atrair o interesse dos investidores. E que “existe uma clara preferência por imóveis que integrem ou gozem de proximidade a espaços verdes, que transmitam segurança, que contribuam para o bem-estar e permitam desfrutar de momentos de lazer”.

A Savills conta uma rede internacional com mais de 39 mil profissionais e um total de 600 escritórios, espalhados pela Europa, Ásia Pacifico, África, América e Médio Oriente, e continua de olhos postos no crescimento e na expansão.

Quais os serviços que a Savills disponibiliza atualmente no mercado português?
A Savills é uma das empresas líderes mundiais no setor de consultoria de imobiliária, com uma rede internacional de mais de 39 mil profissionais e 600 escritórios e associados em toda a América, Europa, Ásia Pacifico, África e Médio Oriente. Em janeiro de 2018, estabeleceu-se em Portugal através da aquisição da Aguirre Newman, posicionando-se como consultora especializada a nível global e local, com uma vasta experiência no mercado de transações, consultoria, gestão de ativos e arquitetura.

No ano 2020, em plena pandemia, abrimos a nossa divisão residencial, com a aposta de uma flagship store no coração da cidade de Lisboa, no Marquês de Pombal, direcionada para o mercado high-end e luxury. Uma aposta que compensou a ousadia de abrir quando tudo estava confinado e com a Savills a afirmar cada vez mais a sua presença neste mercado altamente competitivo. Com esta aposta, a Savills tornou-se, assim, a única consultora imobiliária, em Portugal, a oferecer o leque completo de serviços imobiliários.

“Portugal apresenta fortes fundamentos de mercado que sustentam de forma sólida as decisões de investimento e continuam a abrir portas a investidores com estratégias de diversificação das suas carteiras de ativos (…)”.

Portugal continua a ter um mercado competitivo, equilibrado e apetecível para investir?
Sem dúvida alguma. Estamos no centro do mundo e no radar de um leque muito diversificado de investidores e compradores provenientes de todos os continentes. Portugal apresenta fortes fundamentos de mercado que sustentam de forma sólida as decisões de investimento e que continuam a abrir portas a investidores com estratégias de diversificação das suas carteiras de ativos, apostando num mercado que oferece segurança, estabilidade e taxas de rentabilidade atrativas.

Mais recentemente, e devido a uma conjuntura internacional muito desfavorável e infeliz que está a atingir os mercados de leste, concorrentes diretos do nosso mercado (ex.: Polónia), Portugal vê crescer a sua posição como safe heaven, não só para investidores no tradicional mercado imobiliário de rendimento, como para empresas multinacionais que pretendam expandir as suas operações no mercado europeu.

Como avalia o negócio do investimento imobiliário em Portugal?
Numa perspetiva de investimento imobiliário de rendimento, Portugal tem-se destacado pela extrema resiliência no contexto pós-pandemia. Em 2021, conseguiu atingir os dois mil milhões de euros, ainda que esse valor tenha representado um decréscimo de 34% face ao ano 2019, com os segmentos de escritórios, PRS [Private Rental Scheme] e Healthcare a representarem os maiores montantes de investimento. 74% do mercado foi alavancado por capital estrangeiro, com os investidores oriundos de França, EUA e Espanha a contabilizarem mais de 50% do volume total de investimento.

Para 2022 é expectável que o mercado imobiliário se aproxime mais dos montantes de investimento observados no período pré-pandemia, alcançando um valor superior aos dois mil milhões de euros, suportado pelo fecho de aquisições de peso de portefólios nos segmentos de Hospitality, PBSA [Purpose Built Student Accommodation] e Logística. Também o mercado de development permanece muito ativo, maioritariamente direcionado para o desenvolvimento de produto residencial através de projetos de reabilitação urbana no centro das cidades ou construção nova em eixos circundantes.

Quais são as exigências que, atualmente, os clientes fazem na procura por um imóvel?
Assumindo o perfil de procura por imóveis residenciais, a pandemia foi um game changer decisivo no estabelecimento de novos critérios e standards de qualidade . A localização do imóvel continua a ocupar um lugar no topo dos requisitos de quem procura casa, mas agora surgem na lista novos fatores que vieram acrescentar uma nova dinâmica e revelar novas necessidades e preocupações.

Existe uma clara preferência por imóveis que integrem ou gozem de proximidade a espaços verdes, que transmitam segurança, que contribuam para o bem-estar e permitam desfrutar de momentos de lazer. Também a adotação de modelos de trabalho híbridos veio aumentar a procura por imóveis que ofereçam espaços facilmente adaptáveis a home-offices, amplos e arejados. A forma como vivemos a casa mudou definitivamente e acrescentou aos fatores intrinsecamente ligados ao bem-estar, saúde mental e vivencia familiar os de ordem prática como o trabalho remoto e exigências relacionadas com a sustentabilidade.

“O aumento de soluções proptech é a prova de como o fator tecnológico marca indiscutivelmente a diferença na gestão e valorização de um imóvel, permitindo alcançar ganhos máximos de eficiência”.

Nos últimos anos, o setor tem também assistido ao aparecimento de muitos projetos disruptivos, nacional e internacionalmente, concretamente com a criação de proptechs, que alinham tecnologia e imobiliário. Como é olha para esta realidade?
Estamos a viver tempos de mudança importantíssimos que marcam a viragem para um novo capítulo. Mudanças que inevitavelmente vão conduzir à adoção e aplicação de medidas e novas tecnologias cruciais para o cumprimento de metas de sustentabilidade e políticas ESG (EnvironmentalSocial & Governance). O aumento de soluções proptech é a prova de como o fator tecnológico marca indiscutivelmente a diferença na gestão e valorização de um imóvel, permitindo alcançar ganhos máximos de eficiência.

Tecnologia essa que, aplicada também ao mercado residencial, se assume como fundamental para que os edifícios residenciais consigam acompanhar as exigências e preocupações ambientais crescentes dos compradores, contribuindo para um parque residencial mais sustentável. Na Savills já recorremos à tecnologia como veículo de inovação e otimização de processos correntes de gestão imobiliária e agilização de interação entre os utilizadores dos imóveis e os seus gestores.

Como avalia o último ano da Savills e o que podemos esperar para o futuro?
A Savills registou no seu último ano um dos maiores crescimentos de sempre, não só em volume de negócios, mas também em número de pessoas, aumento do espaço de trabalho, investimento em novas áreas de negócio, algumas delas já com passos dados nos dois anos anteriores, mas que se revelaram em 2021 e que mantêm forte crescimento em 2022 (ex. Residencial e Serviços ESG). O futuro será como sempre continuar a crescer de forma consistente s sustentada. Desde há quase 25 anos que estamos no mercado português (ainda com outra marca) que temos como objetivo crescer sempre de forma sólida, com o principal foco na expectativa que criamos aos nossos clientes. Essa não pode ser nunca superior ao nível de serviço que nos é permitido prestar, razão pela qual procuramos sempre assegurar que temos as condições de prestar um serviço de excelência com pessoas formadas e uma estrutura que assegure esse nível de serviço.

A Savills continuará a apostar nos serviços integrados e em ser uma “one stop Shop” em serviços imobiliários. A tecnologia e o talento continuarão a ser o nosso foco de investimento, a atenção personalizada ao cliente, a criatividade, visão e especialização para encontrar as melhores soluções continuará a ser a nossa diferenciação.

O que é mais desafiante neste setor e nas suas funções atuais?
Tecnologia, já que o mercado imobiliário cada vez mais se suporta em ferramentas tecnológicas, quer seja nas áreas de Marketing, quer em Investimento, Consultoria ou Arquitetura, entre outros, que nos desafiam constantemente a ir mais longe nesta matéria. O outro desafio são as pessoas – quem ainda não sentiu a escassez de pessoas disponíveis no mercado, neste período pós-pandémico? Com um índice de empregabilidade praticamente nos 100%, muitas empresas têm de ir buscar pessoas em situação de emprego, como tal reter talento numa altura em que muitas pessoas reequacionam os seus objetivos de vida, em que os mais jovens requerem experiências novas com regularidade, faz com que tenhamos que estar ainda mais atentos e proporcionar de facto uma carreira rica em novos desafios, formação constante e oportunidade de crescimento.

Nesta matéria temos uma cultura que nos facilita essa tarefa, até porque a salvaguarda das nossas pessoas e a capacidade de proporcionar uma carreira bem estruturada foi sempre o nosso forte, isto aliado a uma estrutura mundial que proporciona fortes possibilidades de envolvimento ou de uma carreira internacional faz com que tenhamos um excelente índice de retenção de talento. Ainda assim, há desafios de gestão que nos são agora, mais do que nos últimos 10 anos, colocados pelo assédio constante à nossas pessoas. A nossa concorrência direta, por exemplo, prefere muitas vezes ir buscar pessoas já formadas por nós ou por outros ao invés de apostar na formação de jovens, evitando todo o investimento em tempo que isso acarreta.

“O novo escritório situado no Edifício MB4, cujo processo de reabilitação profunda foi realizado pela equipa da arquitetura da Savills Portugal, é o exemplo perfeito de um espaço 100% pensado no bem-estar e conforto dos nossos colaboradores”.

Que importância tem para a Savills o bem-estar dos seus colaboradores?
As pessoas são o maior e mais importante ativo de uma empresa e, na Savills, o capital humano está no centro dos processos de decisão. É vital ouvirmos os nossos colaboradores e estarmos a par das suas necessidades e aspirações. Não queremos apenas reter talento, queremos conquistar dia após a dia todos os nossos colaboradores, apostando no seu bem-estar físico e mental. É fundamental que todos se sintam motivados e, para tal, adotamos políticas de Good Health & Well-Being, cujo objetivo é proporcionar um local de trabalho saudável, criativo e inovador, onde podemos desenvolver trabalho de equipa e ao mesmo tempo nutrir relações interpessoais tão importantes para o nosso equilíbrio. Prova disso foi a mudança da Savills Portugal em setembro de 2021 para novas instalações.

O novo escritório situado no Edifício MB4, cujo processo de reabilitação profunda foi realizado pela equipa da arquitetura da Savills Portugal, é o exemplo perfeito de um espaço 100% pensado no bem-estar e conforto dos nossos colaboradores. Quisemos criar um ambiente “feel like home” que proporcionasse vários espaços de trabalho adaptáveis à natureza das diferentes tarefas que temos ao longo do dia, mas também espaços que promovessem o convívio e momentos de brainstorming. O resultado foi um sucesso, com a equipa da Savills que conta já com mais de 100 colaboradores em Portugal, a regressarem na sua totalidade ao trabalho presencial.

Outro fator importante na nossa organização prende-se com a criação de oportunidades internas de crescimento dos nossos colaboradores, pelo que a formação assume um papel muito importante. Por sua vez, a flexibilidade aliada à priorização do bem-estar, saúde mental e segurança dos colaboradores vieram para ficar e temos um entendimento claro da dinâmica destes fatores, permitindo que na Savills exista um respeito pela relação work-life balance.

Que iniciativas de inclusão têm colocado em prática?
Desde há muito que a Savills está empenhada em encorajar a diversidade entre os colaboradores, os nossos rácios, ano após ano, no que toca a igualdade de oportunidades não nos deixam mentir. O objetivo é que a nossa força de trabalho seja verdadeiramente representativa de todos os eixos da sociedade e que cada colaborador se sinta respeitado. Para sustento desta cultura enraizada de inclusão, a Savills tem, a nível global, um grupo de trabalho de D&I que permite identificar as diversas formas de aumentar a diversidade e que este fator seja ainda mais bem percecionado no setor imobiliário. Importa referir que a D&I faz também sentido de um ponto de vista empresarial, gerando benefícios como confiança e cultura organizacional, e um pensamento diversificado, que alavanca ideias e perspetivas diferentes.

Por isso, a nível interno, a Savills tem alguns grupos de trabalho que se focam nas seguintes áreas de D&I: idade, apoiando os colaboradores em qualquer fase da sua carreira, e disability, onde o objetivo é atingir o nível 3 de Disability Confident Employer até 2023.  A ethnicity é também uma das vertentes deste grupo, que pretende recrutar estagiários, aumentando o nível de diversidade étnica na organização, focos de trabalho, assim como o género, onde o objetivo é assegurar que a percentagem de diretoras aumente. Por último, LGBTQ+ e outras variáveis socioeconómicas, cujo propósito é, independentemente da orientação de cada um, empregar um maior número de recém-licenciados com uma igual proporção entre géneros.

Que conselho gostaria de deixar a um jovem profissional que queira trabalhar nesta área ou lançar o seu negócio?
Esta área de mercado é deveras exigente, altamente competitiva, com um ritmo de trabalho muito elevado, mas é um setor muito interessante, que acompanha as diversas mudanças socio-demográficas, económicas e dita tendências. Creio que o melhor conselho que posso dar a um jovem é que aposte numa formação sólida, que detenha uma cultura imobiliária excecional, que se destaque dos demais concorrentes e que acredite na sua capacidade. Acima de tudo, é necessária muita resiliência e munir-se das melhores ferramentas de trabalho. Que aproveite cada momento, seja numa reunião com o cliente, seja a tomar um café com os seus colegas, para crescer e aprender. É um mercado muito rico em diversidade de experiências e que está cada vez mais profissionalizado em Portugal.

Respostas rápidas:
O maior risco: Para o mercado imobiliário: ignorar a importância das regras ambientais e de sustentabilidade no investimento à construção/ reabilitação lato senso. Para a sociedade: esquecer a importância da família como alicerce da sociedade.
O maior erro: Enviar um email difícil para a pessoa errada.
A maior lição: A de Deus, “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.
A maior conquista: Ser Mãe e sentir-me realizada todos os dias no meu trabalho e na minha vida familiar.

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