Opinião
Evitar a morte prematura de start-ups

Um dos grandes problemas do nosso ecossistema empreendedor é a morte prematura de start-ups, situação que impede o país de beneficiar do potencial de riqueza, emprego e exportações de muitas empresas, designadamente tecnológicas.
Em Portugal, cerca de uma em cada três start-ups (32%) encerra ao fim de um ano. E só 42% destas empresas atinge a idade adulta (cinco anos), segundo a Informa D&B.
A elevada taxa de mortalidade das start-ups portuguesas é reflexo dos múltiplos constrangimentos, sobretudo culturais e financeiros, que o empreendedorismo enfrenta no país. Aos negócios early stage têm faltado modelos de gestão, financiamento adequado, posicionamento no mercado, capacidade de internacionalização, talento especializado e estratégias de escalabilidade.
A todos estes constrangimentos soma-se a incapacidade de lidar com o erro e com a frustração de muitos dos nossos empreendedores, mercê do estigma que o insucesso ainda constitui na sociedade portuguesa. Trata-se de uma questão cultural que tarda em ser superada, o que faz com que se percam boas ideias de negócio e projetos com potencial. O crescimento das start-ups é muitas vezes travado pela pouca tolerância dos founders aos contratempos e dissabores em que a atividade empresarial é fértil.
O medo de falhar é agravado pelo contexto de endividamento em que as start-ups habitualmente nascem. O custo fixo de remuneração da dívida conduz a problemas de tesouraria e a exigências de capital, situação que naturalmente perturba a gestão que é feita pelos empreendedores, muitos deles sem experiência empresarial ou formação em ciências económicas.
Por outro lado, o financiamento pela trilogia dos F – Friends, Family and Fools – não é compaginável com as elevadas exigências de capital do empreendedorismo tecnológico. Para agravar a situação, as instituições bancárias permanecem em processo de desalavancagem e, por isso, o crédito às start-ups continua muito limitado e caro. Acresce que as fontes alternativas de financiamento, como o capital de risco ou o smart money (dinheiro + gestão + experiência empresarial), não se encontram suficientemente desenvolvidas em Portugal, situação que urge resolver com estratégias públicas de promoção do investimento.
Perante este cenário, os empreendedores têm muitas vezes de procurar fontes de financiamento no exterior. Só que, a nível internacional, há uma maior competição por capital e uma maior exigência na seleção e avaliação dos projetos a investir. Para atrair investidores internacionais, as start-ups necessitam forçosamente de apresentar modelos de negócio disruptivos e financeiramente sólidos, bens ou serviços inovadores, potencial de crescimento, perspetivas de mercado, orientação global e talento qualificado.
A integração em hubs de empreendedorismo e inovação ajuda as start-ups a ultrapassarem o “vale da morte”, dada a dinâmica de partilha de conhecimento que envolve as empresas, o acesso privilegiado a investidores, os programas de aceleração disponibilizados e o acompanhamento dos negócios por mentores. Aliás, o nosso país apresenta hoje uma vasta rede de incubadoras/aceleradoras, criadas por instituições de ensino superior, polos científicos e tecnológicos, associações empresariais, autarquias, empresas privadas ou mesmo players internacionais.
Acontece que a Rede Nacional de Incubadoras ainda não funciona como um verdadeiro ecossistema, o que prejudica a partilha de conhecimento e o estabelecimento de parcerias empresariais. Por outro lado, é necessário que as incubadoras/aceleradoras tenham efetiva capacidade de management. Uma gestão de excelência traduz-se num aumento da taxa de sobrevivência das empresas, bem como num maior retorno dos investimentos.
*Associação Nacional de Jovens Empresários