Entrevista/ “Estamos a reforçar a nossa aposta na China, Japão e Médio Oriente”
A Corticeira Amorim é um exemplo de como o setor da cortiça português consegue inovar e usar o “design” a seu favor. A empresa levou uma matéria-prima que é rainha em Portugal para o mundo, tendo sido utilizada desde o Alfa Pendular à IB Tower de Kuala Lumpur, passando pela NASA e a Agência Espacial Europeia.
A Corticeira Amorim nasceu em 1870, com a criação de uma fábrica de produção manual de rolhas de cortiça que, em 1922, deu origem à primeira empresa desta área de negócio, a Amorim & Irmãos.
A unidade industrial orientada para a produção de granulados e aglomerados de cortiça, atualmente Amorim Cork Composites, foi criada em 1963, num processo que hoje é designado como economia circular.
A cortiça não utilizada na produção de rolhas é a matéria-prima integrada em soluções que descolaram até ao espaço, passando por edifícios como a IB Tower, em Kuala Lumper, em aplicações em áreas de negócio como a indústria automóvel, aeroespacial, aeronáutica, a construção, o design de objetos e mobiliário.
Falámos com Moisés Ribeiro, diretor de operações da Amorim Cork Composites, sobre o reforço da aposta que a empresa tem previsto na China, Japão e Médio Oriente, bem como nos Estados Unidos e em novos segmentos no Reino Unido.
O que é fundamental para a garantia de qualidade dos vossos produtos?
Os nossos produtos têm especificações bem definidas das quais os nossos operadores têm um bom conhecimento. Por isso, adotamos uma estratégia de autocontrolo que se rege por essas especificações resultantes de um plano de inspeção e ensaio. As dimensões, espessuras e características visuais são pontos-chave da verificação da qualidade. Dessas especificações fazem também parte, como não poderia deixar de ser, os requisitos do cliente. Para além do nosso departamento de qualidade, que supervisiona e gere todo o controlo, os nossos operadores têm competências para alertar quando o produto está em risco de não cumprir alguma das especificações, de forma a podermos intervir e regularizar o processo.
Como se começa com rolhas de garrafas e rapidamente se colocam produtos na IB Tower de Kuala Lumpur?
O início do negócio da Corticeira Amorim remonta a 1870 com a criação de uma fábrica de produção manual de rolhas de cortiça, que em 1922 deu origem à primeira empresa desta área de negócio, a Amorim & Irmãos. A unidade industrial orientada para a produção de granulados e aglomerados de cortiça, atualmente Amorim Cork Composites, surge em 1963. Não foi um processo repentino, mas um passo inovador e com grande visão já na altura, que é um exemplo claro do que hoje é designado de economia circular. A cortiça não utilizada na produção de rolhas é a nossa matéria-prima que integramos em soluções que descolaram até ao espaço, passando por edifícios como a IB Tower. Damos assim uma nova vida à cortiça, desenvolvendo um portfólio de diversas soluções com uma vasta área de aplicações em diferentes mercados e áreas de negócio, como a indústria automóvel, aeroespacial, aeronáutica, a construção, o design de objetos e mobiliário. Esta cadeia de valor é prova de que a sustentabilidade é inquestionavelmente uma realidade em toda a cadeia de valor do nosso processo.
Que lições partilham deste crescimento do negócio?
Reforçamos ainda mais o facto de que a cortiça é uma matéria-prima de uma versatilidade infinita, com potencial para as mais diversas aplicações e por isso impulsionadora de inovação, criatividade, valor e diversificação de processos.
Estão a remodelar a frota de comboios Alfa Pendular da CP com soluções de cortiça desenvolvidas especialmente para o setor ferroviário. Quais os desafios que se colocaram ao projeto?
A nova geração de Alfa Pendular já está em circulação e a cortiça faz parte da solução que confere a esta nova frota mais leveza e, por isso, eficiência energética e redução de custos. A Amorim Cork Composites tem as suas fronteiras de negócio bem definidas e este projeto conduziu-nos mais além. Além de material supplier, assumimos também o papel de solutions provider ao desenvolver, com o parceiro ideal, uma solução específica para o Alfa Pendular.
Como gerem os processos de inovação na Amorim Cork Composites?
A inovação está no ADN da Amorim Cork Composites. Por isso, somos muito rigorosos na sua gestão. Para explicar de uma forma sucinta, posso dizer que a nossa área de inovação segue uma metodologia de gestão de projetos que implica um planeamento do projeto com identificação de riscos e eventuais problemas. Todos os projetos de inovação estão num funil de inovação com critérios pré-definidos por cada área de negócio (dimensão, relevância, time to market), passando por vários filtros e apresentados em direção executiva para cancelamento ou continuação.
Quais as maiores apostas da Amorim Cork Composites neste momento?
Com o contínuo crescimento da empresa refletido na evolução do volume de negócios, tendemos a estabelecer metas e objetivos cada vez mais elevados. Gerar inovação com novos produtos, novas aplicações e estabelecer cada vez mais parcerias com especialistas para cada tipo de aplicação faz parte da nossa ambição.
E em termos de mercados?
Alargar a nossa atuação nos Estados Unidos com novas aplicações e conquistar uma presença mais sólida em novos segmentos no Reino Unido são as grandes apostas de consolidação. No que respeita a novos mercados, estamos a reforçar a nossa aposta na China, Japão e Médio Oriente.
Que análise fazem do setor da cortiça em Portugal?
Portugal é claramente o líder mundial do setor da cortiça. De acordo com dados da APCOR, em 2016 o setor bateu o record de exportações e isso é um sinal de que a cortiça está a conquistar cada vez mais terreno a nível mundial, o que significa que há ainda muito potencial para esta indústria. É um setor que se tem sabido reinventar e trazer valor acrescentado a várias áreas. Não posso também deixar de referir a importância que tem esta área na geração de emprego.
Que dicas partilham com os empreendedores nacionais?
O empreendedorismo tem vindo a enraizar-se progressivamente em Portugal na nossa cultura de negócio e a cortiça não tem passado ao lado dessa realidade. A Amorim Cork Ventures, uma empresa de capital de risco do Grupo Amorim para apoiar start-ups, é um claro exemplo dessa realidade, que tem vindo a abraçar projetos de novas empresas que com cortiça geram novos negócios.








