Opinião
Escutar, não impor!

Durante décadas, a liderança corporativa foi muitas vezes romantizada como a figura no topo, aquele ou aquela que detém as respostas, toma as decisões e controla as rédeas de uma organização.
No entanto, à medida que os ambientes empresariais se tornam mais complexos, as equipas mais diversificadas, e uma geração de talentos muito diferente de há 30 anos, está a surgir um entendimento diferente sobre o que realmente significa ser um líder eficaz.
Este entendimento não envolve imposições autoritárias, mas sim um ato muito mais humano e desafiador: escutar.
Escutar não é apenas um gesto passivo de quem está a ouvir o outro. No cerne da escuta ativa existe coragem. Coragem para desafiar a ideia obsoleta de que todas as respostas vêm de cima. Coragem para abrir espaço ao contraditório e valorizar perspetivas diferentes. E sobretudo, coragem para admitir que o líder não tem que saber tudo.
Muitos líderes ainda confundem autoridade com conhecimento absoluto. Mas os líderes que cultivam uma verdadeira escuta compreendem a força de reconhecer a sabedoria que reside em toda a organização. Eles sabem que as ideias mais transformadoras podem surgir da linha da frente, de colaboradores novos ou de aqueles cujas experiências desafiam as normas estabelecidas.
Num mundo marcado pela incerteza, economias voláteis e avanços tecnológicos imprevisíveis, a escuta ativa torna-se uma vantagem estratégica inestimável. Organizações lideradas por pessoas que priorizam a escuta criam um espaço onde as suas equipas se sentem valorizadas e seguras para explorar novas ideias. Esta sensação de segurança promove três elementos cruciais para o sucesso, na minha opinião:
- Inovação – Equipas que não temem o julgamento produzem respostas ousadas e soluções em que poucos pensariam.
- Colaboração – Quando há confiança, há conexão. E a força de uma equipa conectada é imbatível.
- Criatividade – A liberdade para pensar diferente acontece numa cultura que não sufoca com medo ou orgulho.
A liderança guiada por imposição raramente resulta em crescimento sustentável. O medo pode garantir obediência temporária, mas nunca constrói inovação duradoura ou um ambiente de trabalho saudável. Líderes que optam pela escuta ativa criam uma cultura de confiança e autenticidade.
Se liderar através de escuta o intriga, considere estes passos iniciais:
- Cultive reuniões inclusivas – Ofereça oportunidades regulares para que todos, independentemente da posição, possam contribuir.
- Pratique a escuta sem julgamento – Demonstre abertura e neutralidade, sem responder de forma defensiva.
- Reconheça e valorize todas as contribuições – Mostre apreciação pelas ideias partilhadas, mesmo que nem todas sejam implementadas.
- Implemente feedback – A escuta torna-se poderosa quando traduzida em ação. Mostre que ouviu ao aplicar mudanças sugeridas.
Escutar transforma culturas e resultados
A escuta não é apenas uma ferramenta para melhorar a organização. É também uma lição de humanidade na liderança. Líderes que escutam atentamente não lideram apenas negócios. Eles lideram pessoas. Eles constroem culturas que priorizam confiança, curiosidade e crescimento.
Se lidera ou aspira liderar, pergunte-se hoje mesmo: “Estou verdadeiramente a escutar?”. A sua resposta pode determinar não apenas o futuro da sua organização, mas também o impacto duradouro que terá como líder.
Abrace o poder da escuta estratégica. Liderança forte começa precisamente aqui: escutar, não impor.