Opinião

A Era do Indivíduo – Parte III

Diogo Alarcão, CEO da Mercer Portugal

Este é o terceiro artigo, de uma série de cinco, em que procuro abordar as principais conclusões do estudo Global Talent Trends realizado pela Mercer.

Depois de ter falado sobre a aceleração exponencial da mudança ligada à nova “Era do Indivíduo” e da importância de trabalharmos com um propósito, proponho-me hoje abordar a terceira conclusão que se prende com o conceito de “Flexibilidade Permanente”.

A flexibilidade no trabalho deixou de estar apenas relacionada com o local e horário para se tornar um conceito muito mais abrangente. Hoje em dia, flexibilidade significa repensar as tarefas na empresa, como são desempenhadas e por quem.

É muito provável que a flexibilidade deixe de ser a exceção para se tornar a regra. Se assim for, e parece inevitável que o seja num futuro próximo, as empresas terão que alterar profundamente os seus modelos de governo e a sua cultura promovendo a coprodução e a coresponsabilização. Para tal, será necessário elevados níveis de confiança entre as pessoas, bem como tecnologia que garanta que esta flexibilidade permanente não se transforma num caos organizacional. A atestar essa evidência emergente está o facto de 51% dos inquiridos do estudo da Mercer referirem que querem que a sua empresa lhe ofereça mais opções de flexibilidade no trabalho. Aliás, nesta última edição do estudo, a flexibilidade apareceu acima da necessidade de clareza nas carreiras ou de maior feedback por parte das chefias diretas.

Esta procura de flexibilidade constante terá impacto não só na forma como os projectos serão geridos, envolvendo diversas equipas com reportes hierárquicos e funcionais distintos, mas também a forma como as pessoas serão geridas dentro e fora das empresas. Com esta crescente flexibilidade, cada vez mais empresas irão recorrer a pools externas (freelancers) de recursos com tudo o que isto representa em termos de idiossincrasias que terão que ser geridas em estreita articulação e coordenação com as dinâmicas, os timings e as políticas internas das próprias organizações.

A flexibilidade permanente terá também reflexos ao nível do próprio processo de recrutamento pois, para além de atrair e reter quadros para a empresa, teremos necessidade permanente de identificar, acompanhar e gerir pools de competências voláteis, não exclusivas e altamente dinâmicas, competindo com outras empresas, muitas delas nossas concorrentes, que também utilizarão esses recursos para dar resposta aos desafios que todos vamos enfrentar.

A flexibilidade permanente parece, pois, inevitável mas não será um desafio fácil pois será necessário alinhar a volatilidade inerente à flexibilidade com a gestão de talento a longo-prazo e com a sedimentação da cultura, visão, missão e valores da própria organização. Do lado das pessoas, esta flexibilidade também suscita dúvidas e receios, nomeadamente no que se refere a perspectivas de carreira e estabilidade financeira a médio/longo-prazo.

É pois mais um desafio que a nova “Era do Indivíduo” nos coloca.

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Diogo Alarcão

Diogo Alarcão

Diogo Alarcão tem feito a sua carreira essencialmente na área da Gestão e Consultoria. Atualmente é Vogal do Conselho de Administração da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões. Foi Chairman da Marsh & McLennan Companies Portugal e CEO da Mercer Portugal. Foi Diretor da Direção de Investimento Internacional do ICEP, de 1996 a 2003. Foi assessor do Presidente da Agência Portuguesa para o Investimento de 2003 a 2006. Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, concluiu posteriormente... Ler Mais..

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