O empreendedor que sobreviveu à crise das pontocom e investiu sete milhões de euros em start-ups

Rodolfo Carpintier é considerado um dos principais especialistas do mundo digital em Espanha. Superou a crise das empresas pontocom, em 2001, e criou a DAD, incubadora que investiu em start-ups como a Tuenti e a BuyVIP.
Rodolfo Carpintier estava na Internet muito antes de ser criada a World Wide Web (www ou web). Pioneiro na criação de negócios digitais e guru do mundo empreendedor, viveu na primeira pessoa a evolução da Rede. Viu-se envolvido na bolha das empresas pontocom e passou um dos piores momentos com esta crise que se desencadeou no setor tecnológico. Teve que começar a partir do zero, mas nunca deixou de confiar no potencial do mundo online. Agora está à frente da Digital Assets Deployment (DAD), uma incubadora especializada na Internet e em tecnologia 2.0.
“Tudo está a voltar a ressurgir. Criaram-se modelos de negócios muito rentáveis. As grandes empresas do século XXI, como a Google e o Facebook, nasceram na Internet. Estas tornaram-se líderes num mercado que há oito anos não existia”, afirma Carpintier.
Mas a sua ligação com a Internet começou muito antes. Foi há mais de vinte anos, quando trabalhava nos Estados Unidos para a Telefónica. Nesse momento, havia 100 mil contas de correio eletrónico em todo o mundo e 80 mil estavam alojadas nos Estados Unidos. “Quando voltei para Espanha, tornei-me independente e montei a minha consultora, Sistemas Modernos de Márketing (SMM). Em 1992, comecei a ministrar cursos sobre como o mundo online ia mudar tudo”, recorda Carpintier, citado pelo Expansión.
O sucesso e a queda
A meio da década de 1990, o panorama digital começou a crescer a uma grande velocidade e chegaram ao mercado os Internet Service Providers (ISP). Em Espanha havia dois e Carpintier ajudou a lançar um deles, o Servicom. Em 1999, passou a ser sócio da NetJuiceCapital, juntamente com Silvia García e Juan García. Tratava-se de uma empresa web pioneira na criação de projetos como a primeira loja online de desporto, a SportArea, e o primeiro motor de comparação de preços, a Dondecomprar.
Esta empresa converteu-se rapidamente na primeira grande incubadora de negócios digitais, graças à ajuda de Carlos Dexeus, que chegou a levantar 10 mil milhões de pesetas (60 mil milhões de euros) para lançar a entidade. A grande sorte desta incubadora foi ser o principal acionista do comparador de preços Kelkoo.
“No entanto, no ano 2000 crashou o Nasdaq e produziu-se uma mudança de ciclo. Os investidores deixaram de confiar em nós e estivemos muito mal durante muito tempo. Finalmente, vendemos a Kelkoo à Yahoo! por 400 milhões de euros. Isso permitiu-nos devolver tudo o que nos tinha sido emprestado”, explica Carpintier. A bolha das empresas pontocom tinha rebentado: “Tinha-se produzido uma expansão em todo o mundo e toda a gente se achava preparada para criar negócios na Internet. Quando esta caiu pelo seu próprio peso, em Espanha houve muito desemprego desde o ano de 2000 até 2005. Enquanto o mercado da Internet continuava a crescer noutros países, aqui permaneceu estagnado. Os que restámos tivemos que reduzir custos”.
Começar de novo
Presentemente, Carpintier está a investir por sua própria conta: “Havia projetos muito inovadores, mas não triunfaram porque nasceram demasiado cedo”. Em 2008, formou a sua atual empresa, a Digital Assets Deployment (DAD). Conta com 95 sócios, investiu cerca de sete milhões de euros em 50 start-ups, entre as quais se destacam a Tuenti, BuyVIP e Xplane. “Agora estamos num ambiente muito diferente do que se viveu no ano de 2000. Há mais de 3.500 milhões de pessoas na Internet. O mercado é muito grande.”
O responsável afirma que hoje as possibilidades não existem só na Internet, mas também se estendem a áreas de ponta como a nanotecnologia, análise de dados, impressão 3D e, sobretudo, a inteligência artificial: “A Rede e a tecnologia já não são só para as elites. Estes avanços estão a marcar o futuro e, embora pareça mentira, ainda está tudo por fazer”.
Os setores do futuro
O espaço que há para criar negócios relacionados com a Internet é gigantesco. “Nos últimos cinco anos, avançou-se muito em áreas de inovação e o crescimento que se vai experimentar nos próximos cinco anos vai ser espetacular”, explica o CEO e presidente da Digital Assets Deployment. Para este investidor e empreendedor em série, a inteligência artificial é, sem dúvida, uma das tendências atuais que conta com as melhores perspetivas de desenvolvimento. “Há nichos deste setor nos quais se podem fazer muitas coisas. A questão à qual as start-ups devem responder é como se vão diferenciar das grandes empresas. É fundamental que arrisquem e não sejam uma cópia do que já existe. Quanto ao investimento, a Europa está a perder o comboio em relação aos Estados Unidos. Os maiores investimentos estão a ser realizados por empresas como Google, Facebook e IBM. Se não somos capazes de investir em I&D, vamos ser cidadãos de segunda”.
Análise da evolução do mundo investidor
“Nos últimos anos, muitos profissionais quiseram tornar-se business angels, mas na realidade há pouca gente que traga verdadeiros recursos. Aconselho sempre os empreendedores a que procurem business angels que tenham criado alguma empresa ou que tenham tido o seu próprio exit“, adverte Carpintier.
Esta incubadora é especializada no investimento em start-ups em fases semente e os seus investimentos vão entre 5 mil e 150 mil euros. Contudo, explica que entre os novos investidores é comum apostar em projetos que já estão a faturar. No entanto, considera que há que arriscar-se mais e optar por modelos disruptivos.
Ainda que, de uma forma geral, se mostre satisfeito com a evolução do ecossistema empreendedor, recorda que “para continuar a crescer é preciso mais capacidade investidora e assim consolidar os mercados. As start-ups que desejam levantar altos volumes de capital têm que sair para o âmbito internacional. Foi o que aconteceu a grandes empresas como Job&Talent ou Wallapop. Também aponta que, para que o ecossistema cresça, fazem falta muitos sucessos. “Já há empreendedores que têm dinheiro para investir. A principal diferença em relação aos Estados Unidos é que aqui são 50 profissionais e lá são 10 mil e há várias centenas que ganharam mais de 1.000 milhões de euros”.