Opinião

A economia circular e as estratégias de inovação das empresas

Pedro Cilínio, diretor da DIN*

Em física, o princípio da conservação de energia estabelece que a quantidade total de energia num sistema isolado permanece constante.

Um modo informal de enunciar essa lei é dizer que energia não pode ser criada nem destruída: a energia pode apenas transformar-se [1]Existe uma relação entre energia ou valor potencial e valor económico de um conjunto de recursos, e quanto menor for a diferença entre ambos, maior é a natureza circular do sistema económico.

Assim, o conceito de economia circular enquanto um sistema «em que o valor dos produtos, materiais e recursos se mantém na economia o máximo de tempo possível e a produção de resíduos se reduz ao mínimo»[2], pode também ser visto como um sistema no qual é extraído o máximo valor económico de um conjunto de recursos, reduzindo ou evitando a existência de desperdícios.

Novas combinações dos mesmos recursos podem efetivamente gerar um valor económico superior, resultando em algo a que se convencionou chamar de inovação.

Economia circular e Inovação

 

Assim, a Economia Circular é uma abordagem à produção e ao consumo que permite desenvolver inovação através de novos produtos, novos processos e novos modelos de negócio, e que assenta num sistema restaurador e regenerativo, que procura preservar o valor dos recursos no sistema económico pelo máximo tempo possível.

Esta abordagem obriga a uma dinâmica mais equilibrada e criativa entre empresas, consumidores e os recursos naturais, dissociando o crescimento económico do consumo de recursos não renováveis, através da reformulação da cadeia de valor, desde a conceção até ao final do ciclo de vida do produto. Neste paradigma, o desperdício é encarado como um erro na conceção do produto ou serviço, uma vez que a fase de desenvolvimento deve contemplar a preservação dos recursos na cadeia de valor, promovendo modelos de partilha, estendendo a vida do produto ou prevendo a sua reutilização para outros fins.

Neste âmbito as estratégias das empresas podem ser suportadas em diversas atuações, nomeadamente:

  • Implementação de processos de produção mais eficientes e mais limpos, com menos recursos, menos resíduos e menos impacto sobre o ambiente;
  • Ecodesign de produtos menos intensivos em recursos, dando prioridade a materiais renováveis e com menor perigosidade e risco, para pessoas e o ambiente, bem como à reutilização de matérias-primas recuperadas;
  • Produção de produtos com “modularização” dos componentes, permitindo fácil desmontagem, recuperação, reaproveitamento e triagem em fim de vida;
  • Implementação de atividades que possuam modelos de negócio centrados na manutenção, reparação, recondicionamento e re-manufatura de produtos (extensão do ciclo de vida dos produtos);
  • Implementação de processos produtivos que visem a valorização de resíduos, incluindo o coprocessamento, a valorização energética e a recuperação de materiais para reciclagem.

No entanto, a economia circular resulta também de novas atividades económicas suportadas em novos modelos de negócio, por exemplo:

  • Promovendo a reparação ou reutilização dos produtos, promovendo a extensão da sua vida útil;
  • Disponibilizando produtos como serviço, evitando os custos e riscos da posse do produto pelo utilizador e criando valor através de economias de escala;
  • Plataformas de partilha, promovendo uma maior utilização dos produtos por vários utilizadores;
  • Desenvolvendo e produzindo materiais recicláveis ou reutilizáveis para incorporação em novos produtos através de eco-design;
  • Atividades de reciclagem de materiais e componentes ou a sua valorização.

As empresas devem adotar a economia circular através de inovações que aumentem o valor dos seus produtos no mercado ou permitam estar no mercado com custos mais competitivos decorrentes da redução dos desperdícios. Desta forma, a adoção dos princípios da economia circular estará intimamente ligada à inovação e, dessa forma, à competitividade das empresas.

*Direção de Investimento para a Inovação e Competitividade Empresarial / IAPMEI

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[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_da_conservação_da_energia
[2] Plano de Ação para a Economia Circular da Comissão Europeia

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Pedro Cilínio

Pedro Cilínio

Atualmente partner da Craftgest Consulting, depois de, entre dezembro de 2022 e novembro de 2023, ter passado pelo cargo de secretário de Estado da Economia. Possui mais de 25 anos de experiência na conceção, implementação e gestão de sistemas de incentivos para o I&D, inovação, Qualificação de PME e internacionalização, consolidada em várias funções de coordenação e direção no IAPMEI e na AICEP (ex-ICEP) onde promoveu vários projetos de transformação digital ligados à gestão de sistemas de incentivos, tendo sido... Ler Mais..

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