Entrevista/ “É necessário abrir e atrair novas fontes e canais de financiamento”

“Os aspetos mais críticos para que o nosso ecossistema dê os próximos passos são relativos a funding/investimento e fiscalidade”, explica António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, ao Link To Leaders.
A Startup Portugal revelou recentemente as condições de acesso aos Vales para Incubadoras e Aceleradoras, uma medida fundamental para que incubadoras e aceleradoras possam investir no desenvolvimento do seu talento e da sua capacidade tecnológica. Tendo esta medida como ponto de partida, o Link To Leaders questionou António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, sobre o estado do ecossistema nacional de start-ups e como Portugal se pode destacar no cenário europeu.
Recentemente foram lançados os vales para incubadoras e aceleradoras. Quais os principais destinatários destes vales e como vai funcionar?
Estes vales foram criados para incubadoras ou aceleradoras já existentes ou a criar, que pretendam desenvolver serviços de incubação ou aceleração nas áreas do empreendedorismo e inovação. Os vales têm um valor que pode variar entre os 30 mil e os 150 mil euros por incubadora, sendo este valor disponibilizado em quatro tranches.
“(…) o nosso ecossistema mostra resiliência e tem muito potencial (…)”.
Afirmou, em comunicado, que “as incubadoras e aceleradoras são um braço fundamental do nosso ecossistema”. À luz do relatório sobre o ecossistema português Startup & Entrepreneurial Ecosystem 2022 – Building a Scale Up Nation, lançado há dois meses, qual o papel das incubadoras para o seu desenvolvimento?
O mais relevante a concluir dos dados recolhidos este ano foi que o nosso ecossistema mostra resiliência e tem muito potencial e que as medidas já implementadas para impulsionar a comunidade empreendedora estão a dar frutos, mas que é necessário fazer mais para garantir que continuamos a ser um ecossistema relevante a nível global.
Uma das medidas mais urgentes é precisamente dotar as incubadoras dos recursos necessários para acompanhar o amadurecimento do nosso ecossistema, nomeadamente no upskill das suas equipas, e também ferramentas digitais para dar às start-ups o suporte nos seus processos de escalabilidade.
Quais foram ao longo de 2022, as principais “vitórias” do ecossistema empreendedor nacional? O que destacaria?
O ponto mais positivo é, sem dúvida, o aumento também muito significativo no capital levantado por start-ups com sede em Portugal, registando-se uma subida de 249% (de 169 milhões de euros, em 2021, para 421 milhões de euros, em 2022).
Por outro lado, a execução de três ações fundamentais: a abertura de candidaturas para os novos Vouchers para Startups, que vai dar um impulso muito significativo a mais de 3000 start-ups em fase pre-seed, a abertura de concurso para Vouchers para Incubadoras, assim como a implementação das medidas da Lei das Startups, onde se inclui a definição de start-up, assim como o novo regime de stock options.
“(…) é necessário abrir e atrair novas fontes e canais de financiamento, através de nova regulamentação simplificada e mais atrativa”.
Que ingredientes são imprescindíveis no ecossistema empreendedor nacional para que Portugal se posicione efetivamente como uma Scale Up Nation?
Os aspetos mais críticos para que o nosso ecossistema dê os próximos passos são relativos a funding/investimento e fiscalidade. Por um lado, é necessário abrir e atrair novas fontes e canais de financiamento, através de nova regulamentação simplificada e mais atrativa. Por outro lado, há uma necessidade de melhorar a fiscalidade aplicada a start-ups e scaleups, fundamental para que estas, na sua fase de crescimento, não sintam necessidade de se deslocar para outros países.
Com base nos dados disponíveis ao dia de hoje, que tendências antevê para 2023? Como é que Portugal se pode destacar no panorama europeu?
Portugal é uma excelente porta de entrada na Europa, tanto para o mercado de países de língua oficial portuguesa como da América do Norte. Por outro lado, temos o potencial de ser uma ponte de saída da Europa para estes mercados. Com a aplicação das novas medidas que temos vindo a implementar, temos a expetativa de fazer crescer o número de start-ups, assim como de facilitar o acesso a investimento por parte dos nossos empreendedores.
Por outro lado, sendo Portugal o país fundador da ESNA – Europe Startup Nations Alliance, e a Startup Portugal um membro permanente do seu Presidency Board, esperamos ter também por esta via a oportunidade de dar um contributo relevante na construção de um ecossistema europeu de empreendedorismo mais forte e mais atrativo para a criação e crescimento de scaleups sem que necessitem de “emigrar” para outras geografias para se capitalizarem ou procurarem recursos e enquadramentos regulamentares e fiscais mais favoráveis.
Qual o papel da Startup Portugal em todo este processo de dinamização do empreendedorismo português?
A Startup Portugal é uma organização sem fins lucrativos, detentora de utilidade pública, com a missão de desenhar e operacionalizar a estratégia nacional para o empreendedorismo em Portugal. Por isso, é fundamental que estejamos atentos a todos os stakeholders do ecossistema e prontos para suportar, iniciar, propor novas iniciativas, assim como reagir a novos desafios.