Opinião

Emotional Data: O desafio das emoções do big data

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

O advento do big data tem conduzindo os negócios para uma nova era racional. Temos a tecnologia que nos permite quantificar o mundo em que vivemos, numa miríade de ângulos. Vemos mais, conhecemos mais e temos algoritmos que nos permitem atingir o público-alvo com uma precisão nunca antes conhecida.

Para a empresa, trata-se de escolher os canais, decidir qual é a mensagem e…… enviar.

Só há um problema nesta análise: a natureza humana!

As pessoas reais não acreditam nem se movimentam na racionalidade ou na previsibilidade que o big data sugere.

A condição humana é tribal e emocional, pelo que as razões por detrás das nossas escolhas não são facilmente mensuráveis. É nisto que consiste o instinto: ouvimos o que queremos ouvir, vemos o que queremos ver, julgamos como mais nos convém e de acordo com aquilo em que acreditamos. Isto é, somos nós que escolhemos os nossos próprios “factos”.

Não, não estamos numa era racional. A nossa era é cada vez mais emocional. O big data tem um papel muito relevante a desempenhar, mas apenas se for capaz de gerar ideias humanamente inspiradoras.

E a verdade é que as novas tecnologias estão a promover o contacto entre as pessoas como nunca. Através de um mero click, podemos partilhar o que nos vai na alma com milhares de outras pessoas.

Podemos partilhar fotos de gatos, ao mesmo tempo que advogamos uma causa ou ajudamos a derrubar governos. Parecemos Deuses na Terra a opinar e a julgar tudo o que nos rodeia.

Mas não somos, porque na maioria das vezes estamos adormecidos.

Parece que ajudámos a acender algo que não pode ser apagado, tal é a corrente de informação gerada e incontrolável que sabe onde estamos e nos persegue, que nos convida através de acessos multicanal, que capta o nosso tempo e atenção, mas que, à medida que aumenta a intensidade, nos torna menos recetivos para acolher a mensagem.

Então, a grande questão que se coloca é a seguinte: num mundo repleto de ruído digital, como pode uma marca tornar-se relevante?

Chegar às pessoas certas, com total precisão na forma de comunicar e no tempo certo, é apenas metade do caminho. A outra metade é percorrer o trilho que é capaz de adicionar emoção à precisão.

O mundo está repleto de agências de marketing, de pensadores, editores, inventores e produtores. Mas ao nível da empresa e da marca, é necessário encontrar alguém que seja capaz de gerir a comunicação de forma integrada. Na verdade, são as ideias que acendem emoções capazes de gerar tomadas de decisão.

  • Como é que uma empresa deve desenvolver um produto ou serviço, por forma a alterar comportamentos de consumo?
  • Onde colocamos o nosso produto, de forma a que possamos compreender em profundidade os nossos clientes?
  • A própria comunicação é a mera tradução de uma ideia humanamente relevante, capaz de atingir o público-alvo, envolvê-lo e suscitar emoções.

No fundo, toda a estratégia de marketing deve estar assente na relevância das pessoas.

Por outro lado, a responsabilidade social não é uma obrigação – é uma oportunidade – porque enriquece o conhecimento da natureza humana e justifica de corpo inteiro os desafios dos marketeers.

Num mundo hiperconectado, para provocar reações positivas por parte dos clientes onde a comunicação nos bombardeia incessantemente, temos de assegurar um processo de comunicação integrada.

Mais do que criativo, é preciso ser-se o guardião dos anseios do mercado, porque a inovação não provém apenas da imaginação, mas sobretudo da capacidade para identificar novas oportunidades que consigam colar todas as ideias.

Quanto maior for o talento e a experiência que os marketeers conseguirem aportar ao desafio de criar valor para os clientes, maior é a oportunidade existente de fomentar a criatividade. No fundo, trata-se de procurar ideias que sejam relevantes para as pessoas.

Por conteúdos, devemos entender ideias criativas, experiência e storytelling…, ou seja, tudo que o gera emoções. É desta forma que se completa o puzzle do customer experience e se chega verdadeiramente às pessoas.

Ao nível da cultura interna da empresa e na geração de equipas fortes, não é diferente. A cultura da empresa devora estratégia todos os dias ao pequeno almoço.

Não chega ser relevante. É essencial ser humanamente relevante!

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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