Opinião

Digital: vamos fazer o big bang!

Rui Ribeiro, diretor-geral da IPTelecom

Mudar, mudar, mudar! Digital, digital, digital! Todos os dias se ouvem estas palavras dentro e fora da nossa empresa. E todos os dias muitos se perguntam: Mudar para onde e para quê? Digital já faço, o que é que tenho de fazer mais? Mudar para digital, mas o quê e como?

Estas questões surgem quando não há uma estratégia definida. E, se estivermos atentos a algumas das notícias nacionais, verificamos que várias empresas se tornaram inviáveis por falhas de gestão e de definição estratégica clara, onde a estratégia digital é atualmente uma componente importante.

Perante algumas dificuldades de negócio, ainda para mais com a transformação que o mundo sofreu neste último ano e meio, muitos têm a tentação de aplicar uma metodologia do tipo Big Bang. Esta é na realidade, no mundo tecnológico e digital, uma metodologia que se assemelha à estratégia de ida ao casino jogar todo o nosso dinheiro na roleta russa.

Esta é a estratégia que, na versão minimalista, considera que mudando as equipas para um modelo de teletrabalho e renovando o website com uma loja de compras, tem tudo feito. Ou, para aqueles que sabem da importância do marketing, investem em Google Ads durante três meses, esperando o aumento de vendas em 30% ou mais, de imediato! Ou, para aqueles que têm consciência que a mudança é muito mais profunda e, por isso, reconhecem a necessidade de mudança nas operações, logística e vendas, consideram que basta mudar todas as plataformas tecnológicas de uma só vez e em seis meses, e o milagre acontece: a empresa tornou-se eficiente, as equipas internas adaptaram-se e motivaram-se, e tudo ficou digital…

Naturalmente isto não acontece, nem nos melhores sonhos das empresas mais modernas.
Uma definição e implementação estratégica, nomeadamente a digital não se aplica como se fosse o “carregar num interruptor e já está” ou “em seis meses temos isso”.
Desenganem-se aqueles que ainda acreditam que existem teorias do Big Bang, porque a sua empresa “é diferente”.
Estamos perante um caminho contínuo e evolutivo a médio e longo prazo, que tem de ser consistente e coerente.

Apesar de o mundo digital ter colocado uma elevada pressão pela velocidade do negócio, para que a nossa empresa consiga chegar leva o seu tempo. Depois de estar no patamar da agilidade digital, a conversa é outra, mas para lá chegar são necessários: rumo, cultura digital, modelo de negócio, metodologia, processos e tecnologia.

Quem lidera uma organização tem de saber, antes de mais, que para alcançar determinados patamares não há caminhos fáceis, nem atalhos rápidos. Não há Big Bangs, que por artes mágicas tornam a empresa competitiva digitalmente, com tudo o que isso implica.

Quem lidera tem de ter a consciência que para se estar na corrida digital é preciso 90% de razão e, apenas, 10% de emoção!

Comentários
Rui Ribeiro

Rui Ribeiro

Atualmente é Head of Consulting & Technology na Auren Portugal, tendo sido antes Diretor-Geral da IPTelecom, Diretor Comercial da Infraestruturas de Portugal S.A., Diretor de Sistemas de Informação na EP - Estradas de Portugal S.A. e Professional Services Manager da Sybase Inc. em Portugal. Na academia é diretor executivo da LISS – Lusofona Information Systems School, e docente da ULHT. Rui Ribeiro é doutorado em Gestão Empresarial Aplicada, na área de Sistemas de Informação, pelo ISCTE/IUL, possui um MBA na... Ler Mais..

Artigos Relacionados

Patrícia Jardim da Palma, coordenadora da Escola de Liderança e Inovação do ISCPS