Opinião

Diáspora: uma rede global de influência…e impacto!

Carlos Sezões, coordenador da Plataforma Portugal Agora

A nossa diáspora é um dos principais ativos nacionais. De facto, Portugal é hoje um pequeno estado-nação no canto ocidental da Europa mas, fruto das vicissitudes da nossa história, somos bem mais (e bem maiores) do que isso.

A nossa língua e cultura disseminou-se pelo mundo e marcou gerações nos últimos 5 séculos. As vagas migratórias, primeiro para o Império, depois para a Europa e América, fosse por necessidade ou por ambição, tornou Portugal uma “marca” cultural bem reputada, com elevados níveis de notoriedade de credibilidade. Com o advento da globalização, a nossa nova emigração (mais qualificada e como maior heterogeneidade de motivações e duração de expatriação) adquiriu novos contornos que vieram reforçar o legado do tempo. A rede global de portugueses e luso-descendentes no exterior é, pois, hoje, uma realidade que podemos e devemos enriquecer.

Como ponto prévio, devemos assumir a relação com a diáspora como uma prioridade nacional. Tal pressupõe um adequado suporte institucional, do Estado português, seja do governo, estruturas públicas, rede diplomática e consular e agências relevantes. Como exemplo maior, o direito de voto nas nossas eleições (e a própria facilitação da participação eleitoral, aspeto que correu menos bem, ainda recentemente) e a disponibilidade constante para informar e comunicar sobre as várias dimensões da realidade nacional (economia, emprego, educação, legislação relevante) será mandatória.

Depois, devemos conhecer bem a nossa diáspora. Segundo fontes diversas, Portugal terá cerca de 5 milhões de cidadãos e luso-descendentes espalhados pelo mundo. Haverá que mapear os portugueses que estão lá fora, quem são, onde estão, o que fazem, o que aspiram, que competências têm, qual a relação que têm com Portugal no presente e qual gostariam de ter no futuro. Num segundo nível de detalhe, perceber aqueles com mais influência em várias áreas, da economia e gestão empresarial à investigação científica, do desporto à cultura. Eles poderão ser, indubitavelmente, mobilizadores de vontades e participação de muitos outros (sim, precisamos de uma estratégia agregadora, inclusiva, que não esgote numa pequena rede pseudo-elitista).

Em terceiro lugar, questão-chave, devemos compreender e agir sobre a “conexão”, a ligação emocional existente na nossa diáspora. Tal não é estática e depende de muitas variáveis geográficas e geracionais e pode variar ao longo do tempo. Muitas portugueses de 2.ª ou 3.ª geração podem ter a herança, mas nem sempre o conhecimento pleno do que ela significa e o interesse em aprofundá-la. Será este interesse que levará a uma conexão mais forte, que importa reforçar

Por último, agir. E devemos fazê-lo de modo estruturado. Diversos países, com muitos dos seus cidadãos espalhados pelo mundo, têm políticas concretas integradas e orientadas à diáspora: Irlanda, Índia, Israel, Filipinas, entre muitos outros. A Irlanda criou inclusivamente, há uns anos, a pasta de Minister for the Diaspora and International Development. Isto não é sinónimo de um planeamento central e inflexível, mas uma visão estratégica que deverá estar assente num consenso nacional. Uma estratégia que pode ser levada a cabo por uma unidade de missão e desdobrada em iniciativas de dezenas de stakeholders da sociedade civil, deste e do outro lado da fronteira ou do oceano. Que, com eventos, iniciativas de comunicação ou estruturas duradouras (forums, plataformas, programas, associações) aproximem e capitalizem os ativos da nossa diáspora.

As iniciativas poderiam ser muitas e segmentadas em diversos eixos:

Cultural: despoletar e incrementar a cultura e língua portuguesas junto de luso-descendentes, nomeadamemente dos mais jovens;

Económico-Empresarial: incrementar a reputação de Portugal e ativar parcerias internacionais ao nível do investimento directo da diáspora/ do estrangeiro e fomento do empreendedorismo (ex. financiamento, mentoring/ coaching executivos de modo transnacional);

Investigação científica/ inovação aplicada: facilitando intercâmbio de conhecimento dos investigadores e inovadores portugueses espalhados pelo mundo;

Turismo: conferir maior notoriedade aos nossos produtos turísticos, não só o “Sol & Mar”, Lisboa e Porto, mas as atrações das nossas tradições culturais, história e natureza – atraindo novas gerações e novos públicos.

Este tema, claro, não nasceu hoje. Existem já alguns forums (ex. Conselho da Diáspora, as Ideias de Origem Portuguesa, promovidas pela Gulbekian), sem dúvida meritórios pelo trabalho realizado ao longo dos anos. Mas precisamos de mais ação e… maior impacto.

Com este objetivo, a plataforma Portugal iniciou, em parceria com o site Link To Leaders, esta nova rubrica – Link To Portugal. Pretendemos, aqui, promover reflexões e ideias dos nossos “Embaixadores Portugal Agora”. Este projeto propõe-se 1) atrair  a rede de portugueses da diáspora para colaborar connosco e, eventualmente, organizar iniciativas que projetem a imagem de Portugal nas respetivas geografias e 2) efetuar propostas para a nossa plataforma, com base em boas ideias/ boas práticas existentes nos países de acolhimento, que possam ser replicadas a nível nacional.

Com este projeto, que pretendemos “escalar”, esperamos, gerar valor para Portugal.
As propostas chegarão dentro de momentos.

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Carlos Sezões

Carlos Sezões

Carlos Sezões é atualmente Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders, startup focada na transformação organizacional/ cultural e no desenvolvimento do capital de liderança das empresas. Foi durante 10 anos Partner em Portugal da Stanton Chase, uma das 10 maiores multinacionais de Executive Search. Começou a sua carreira no Banco BPI em 1999. Assumiu depois, em 2001, funções de Account Manager do portal de e-recruitment e gestão de carreiras www.expressoemprego.pt (Grupo Impresa). Entrou em 2004 na área da... Ler Mais..

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