Opinião
Destruição criativa

O Nobel da Economia de 2025 foi atribuído à “explicação do crescimento económico impulsionado pela inovação”. O historiador holandês Joel Mokyr recebeu metade do prémio “por ter identificado os pré-requisitos para um crescimento sustentado através do progresso tecnológico”. A outra metade foi entregue ao francês Philippe Aghion e ao canadiano Peter Howitt pelo seu artigo conjunto de 1992 na Econometrica, que formulou a “teoria do crescimento sustentado através da destruição criativa”.
Esta investigação estuda o magno processo de prosperidade do mundo. Apesar das enormes diferenças e disparidades entre regiões, em todas elas, mesmo nas mais pobres, se assiste a espantosas melhorias nas condições de vida impensáveis décadas antes. Os ganhos são inegáveis, mas também negados a cada passo. O mundo está em acelerado desenvolvimento há 250 anos, mas não parece contente com isso. Vivemos de uma forma que os nossos avós nem imaginavam, mas não andamos mais felizes que eles. O progresso, apesar de progresso, deixa amargos de boca.
Estes investigadores centram a nossa atenção precisamente no carácter paradoxal, quase feroz, da dinâmica. Isso é brilhantemente resumido na expressão lapidar: “destruição criativa”. O conceito, sugerido por Karl Marx e Werner Sombart, foi cunhado por Joseph Schumpeter na sua obra-prima de 1942 Capitalismo, Socialismo e Democracia, onde o capítulo VII se intitula “O Processo de Destruição Criativa”. A intuição decisiva é a tensão contraditória, por vezes devastadora, que está implícita na majestosa evolução da técnica. De facto, antes de mais, a modernização é destruidora. Apesar das inegáveis e inigualáveis vantagens que nos concede, ela começa sempre por arruinar aquele que era o modo de vida anterior.
Os trabalhos de Mokyr pretendem, antes demais, identificar as condições particulares que, após milénios de importantes avanços técnicos, só em meados do século XVIII permitiram o surgimento do desenvolvimento autossustentado. Ao fazê-lo, porém, encontra as poderosas forças de reação contra as descobertas, o que o leva a falar até de “Inércia Tecnológica na História Económica” (The Journal of Economic History, Jun. 1992). As comunidades tendem a resistir fortemente à mudança, seja por interesses instalados, seja por objeções teóricas à novidade. Este embate entre empresas estabelecidas e inovação é precisamente o núcleo do processo modelado por Aghion e Howitt.
A oportunidade do tema é flagrante. Estes estudos, muito mais do que interesse histórico ou conceptual, ajudam a explicar grande parte dos movimentos sociais que vivemos. A dinâmica da inovação, em particular tecnológica, domina o mundo, hoje mais que nunca. Encontramo-nos envolvidos numa enxurrada de algoritmos, mecanismos e terapêuticas. Se “a revolução industrial foi a mãe de todas destruições criativas”, como diz Mokyr, pode dizer-se que nunca a história viu uma época de avanços tecnológicos tão vastos e profundos como a atual. Da informática à energia, das finanças à geoestratégia e medicina, a cada passo somos confrontados como elementos inesperados e revolucionários.
A verdade é que, apesar de todos os avanços, o clima social nos países mais ricos não é de gratidão e bonomia. Pelo contrário, cresce a contestação e a turbulência, ressurgem forças extremistas e polarizadoras; por todo o lado são evidentes os sinais de medo, mal-estar e irritação. Diríamos assim que a força dominante do momento atual é, não o progresso, mas a desgraça. E em certo sentido é, se entendermos a ruína envolvida na invenção. Na expressão, o substantivo é “destruição”; a criação aparece só como qualificativo.
O elemento mais difícil de captar, hoje como sempre, é a contradição. Não faltam os fanáticos do dinamismo e os adversários da mudança. O que se pede aos líderes, hoje como em todas as fases anteriores, é que compreendam as duas linhas contraditórias. Fomentem os ganhos, mas atendendo sempre aos que são atingidos, desclassificados, marginalizados por eles.