Todos os anos a discussão à volta do Orçamento de Estado cria enorme burburinho. O Governo faz pequenas revelações durante semanas para alimentar o interesse. No dia fatídico, o senhor ministro exalta a profusão de medidas e garante maravilhas para o ano seguinte.
Um dos maiores problemas dos líderes hoje em dia é exercer autoridade. Ter poder é fácil, mas para inspirar os subordinados é preciso aquela dose de respeito e admiração que define a superioridade.
Os líderes temem uma coisa acima de tudo: a transformação do jogo. A luta diária pelo sucesso do projeto é dura e difícil; mas enquanto as regras se mantiverem, os gestores ao menos sabem com o que contam.
Uma das grandes qualidades dos verdadeiros líderes é a coerência. Esta frase é verdadeira mas tem de ser bem entendida, porque outra das grandes qualidades dos verdadeiros líderes é flexibilidade, e isso pode chocar diretamente com a primeira.
De repente parece ter-se entornado tudo. Portugal era um país sereno no meio da enorme confusão política europeia. Até conseguiu uma maioria absoluta de um só partido, algo com que a maioria dos nossos parceiros só podem sonhar. Desde então tudo se complicou.
O que podem os líderes esperar de 2023? Aquilo que todos vão dizer é que o ano se apresenta particularmente incerto, rodeado de imponderáveis que subitamente podem complicar ou aliviar uma conjuntura pesada. Mas essa informação, indiscutivelmente verdadeira, é de facto irrelevante. Porque incerteza é o nome do jogo dos líderes. Se não houvesse incerteza mal seriam necessários dirigentes, pois as instituições navegariam por si. Para os chefes, ainda bem que há incerteza, reforçando a necessidade de orientação.
Como está Portugal neste início do verão de 2022? A resposta mais razoável tem de ser: o melhor que consegue, dadas as circunstâncias. É bom tomar consciência que, pela primeira vez há muito tempo, o que domina o panorama são as circunstâncias.
Na campanha para as eleições do passado dia 30 de Janeiro o vencedor Partido Socialista incluiu no programa a proposta de "Promover um amplo debate nacional e na concertação social sobre novas formas de gestão e equilíbrio dos tempos de trabalho, incluindo a ponderação de aplicabilidade de experiências como a semana de quatro dias em diferentes setores" (p. 67). Naturalmente que a ideia dominou as atenções, com os eleitores a sonhar com mais 52 “feriados” por ano. Qual a viabilidade da sugestão?
Será que, 48 anos depois, os valores de Abril ainda estão vivos e atuantes? Para responder a esta pergunta precisamos de saber quais são os valores de Abril, e isso é mais difícil do que parece. Ou talvez não.