Opinião

Desafios e instabilidade para uns, crescimento e expansão para outros

Daniela Meirelles, empreendedora e business advisor

O momento global de cautela devido à incerteza económica e geopolítica trouxe muitas consequências para o mercado: PIB e valuations foram corrigidos para baixo, rondas de capital nas start-ups ficaram cada vez mais escassas, além de recentes demissões em massa realizadas por grandes start-ups. Apesar disso, algumas start-ups brasileiras continuam a fazer contratações. Financeiramente bem capitalizadas continuam a seguir em frente com seus planos de expansão.

De acordo com a LAVCA (Associação para Investimento de Capital Privado na América Latina), o Brasil é o berço de cerca de 66% dos unicórnios (start-ups avaliadas em mais de US$ 1 bilião) entre os países latino-americanos.

Segundo Marina Mansur, sócia da McKinsey em São Paulo, “o Brasil tem uma combinação de três pilares fundamentais que pode ser uma receita ideal para alguém empreender: uma população altamente digitalizada, um sistema regulatório favorável e o capital de investimento inserido nos últimos cinco anos”.

Como empreendedora e atuando com start-ups há mais de 13 anos, acredito que há mais dois fatores que beneficiam as start-ups brasileiras: o tamanho do mercado (pouco mais de 212 milhões de habitantes) e o facto dos brasileiros passarem em média 10 horas e 8 minutos por dia conectados na internet*, seja para trabalho ou lazer.

O Brasil se encontra-se na segunda posição global entre os países que mais tempo gastam na Internet e é o 3.° país que mais usa redes sociais no mundo. É fundamental para toda a start-up ter um mercado grande para ser atingido e o facto do Brasil possuir uma população que passa muitas horas do dia online favorece não só a possibilidade de venda online de produtos e serviços, como também a recorrência da venda.

Entre as novidades no mercado:

A AZ Quest, do grupo Azimut em sociedade com a XP, irá criar uma nova gestora com mais de R$350 milhões disponíveis. Ainda sem nome, o novo fundo focar-se-á em investimentos ilíquidos e no mercado agro.

A Conexa Saúde, líder em telemedicina no Brasil, anunciou um aporte de R$200 milhões uma ronda liderada pela Goldman Sachs Asset Management.O novo recurso será usado para expandir a oferta de produtos.

A Zendesk, empresa desenvolveu uma plataforma de atendimento ao cliente, foi adquirida pela Permira e Hellman & Friendman por US$10,2 biliões. Atualmente a companhia possui mais de 100 mil empresas clientes em todo o mundo, inclusive no Brasil.

O iFoodvem tem bons resultados com entregas de supermercado e estima que as vendas do segmento alcancem a marca dos US$55 biliões ainda este ano.

Mottu, start-up de aluguer de entregadores delivery, recebeu US$ 40 milhões em investimentos para expandir sua frota. A start-up já tem mais de 10.000 motos a rodar em oito cidades brasileiras e fez um annual recurring revenue (ARR) de US$ 10 milhões em dezembro de 2021.

Em sintonia com uma tendência de crescimento no desporto, o São Paulo Futebol Clube inaugura o Inova, um Centro de Inovação Aberta, localizado dentro do estádio do Morumbi. A estimativa é captar nos três primeiros anos de operação investimentos em até R$ 6 milhões, que custearão o projeto sem que haja um aporte financeiro inicial do Clube.

Apesar de estarmos a viver um dos momentos mais desafiadores do mercado de venture capital brasileiro, a Maya Capital, gestora de early stage, captou recentemente US$ 100 milhões para seu segundo fundo.

O momento é de desafio e instabilidade para alguns, principalmente para aqueles que estão com a caixa em baixa e dependem das rondas de investimento para sobreviver. Para esses, o fundamental é cortar custos de todas as formas para se conseguirem manter de pé até que “os ventos voltem a soprar a favor”. Para as start-ups bem capitalizadas, essas continuarão a seguir de “vento em poupa” em direção à expansão e ao crescimento.

*Segundo um estudo que reuniu dados da Hootsuite e WeAreSocial sobre o uso destes medias a nível mundial.

Fontes: Snaq, CNN, Exame, Brazil Journal, Startupi

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Daniela Meirelles

Daniela Meirelles

Daniela Meirelles é empreendedora, business advisor, mentora de start-ups e palestrante (Branding, Empreendedorismo e Liderança). Foi fundadora da DBRAND, consultora de branding, marketing e inovação; fundadora/CEO da Yuppy, start-up de media, marketing e eventos; mentora nos programas Startup Rio, Startup Weekend e Founder’s Institute; palestrante; e também atua na organização do II Chapter da Singularity University, no Rio de Janeiro. Tem 15 anos de experiência em marketing, branding e desenvolvimento de novos negócios. Desenvolveu inúmeros projetos para pequenas, médias e... Ler Mais..

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