Opinião

Desafios de um ecossistema em crescimento

Carlos Carvalho, presidente da ANJE*

Portugal conta já com perto de 5.000 start-ups, que representam um volume de negócios combinado de 2.602 milhões de euros e 1,4% do total das exportações nacionais em 2023.

Os números constam do relatório Mapping Portugal’s Startup Landscape 2024, elaborado pela IDC e pela Informa D&B, em parceria com a Startup Portugal. O mesmo estudo aponta para um crescimento dos projetos iniciais de empreendedorismo de 16% em 2024 face ao ano transato, totalizando hoje o país 4.719 start-ups. De resto, já em 2023 se havia verificado uma subida do número de start-ups de 11% em relação ao ano anterior.

Importa ainda sublinhar que, em 2024, 651 start-ups deixaram de o ser quer por extinção, quer por exercerem a atividade há mais de 10 anos, quer ainda por se terem tornado scaleups, PME ou grandes empresas. Refira-se que 1.297 start-ups avançaram para outros estádios de desenvolvimento, demonstrando capacidade de crescer e consolidar os seus negócios.

Portugal é cada vez mais sinónimo de empreendedorismo e inovação, tecnologia e disrupção, conhecimento e criatividade. Esta nova imagem do país está, em boa medida, associada à sólida evolução do movimento start-up nacional, que abarca hoje mais empresas e com maior talento empreendedor, intensidade de inovação, sofisticação tecnológica, valor acrescentado, dimensão internacional e capacidade de atração de capital.

Para o crescimento do empreendedorismo em Portugal, contribuiu certamente a chamada “lei das start-ups” (Lei n.º 21/2023). Com esta legislação, foram introduzidos incentivos fiscais à aquisição de participações em start-ups, designadamente um novo regime para planos de stock options (taxa efetiva de 14% aplicável ao beneficiário no momento de liquidação). Desta forma, houve um estímulo mais efetivo ao investimento em projetos iniciais de empreendedorismo e ao consequente desenvolvimento do ecossistema português.

Depois do boom de start-ups, o ecossistema português necessita de evoluir para uma nova fase. É fundamental que os projetos de empreendedorismo ganhem escala empresarial, competitividade internacional e sustentabilidade económico-financeira. Ou seja, que as start-ups desenvolvam os seus processos de aceleração e escalabilidade, de forma a criarem mais valor para si e para o país.

Há muito potencial de negócio, e consequentemente de riqueza, emprego e inovação, que se perde antes dos primeiros dez anos de atividade das empresas. Por isso, o grande desafio do ecossistema português é criar condições para que mais start-ups sejam criadas e também para que as que existem evoluam para scaleups, consolidando assim os seus modelos de negócio.

Ao nível da fiscalidade, creio que há margem orçamental para reforçar os incentivos fiscais às start-ups, em particular para atrair e reter talento e para promover a inovação e a internacionalização. No que se refere ao financiamento, parece-me importante lançar novos fundos e incentivos para investidores, business angels e capitais de risco. São ainda necessárias novas medidas para fomentar o empreendedorismo a partir da Academia, envolvendo mais estudantes, docentes e investigadores em projetos de inovação. Interessa também aproximar as start-ups das empresas dos setores tradicionais, nomeadamente para facilitar a transição digital e verde destas últimas. Finalmente, convém desburocratizar a relação das start-ups com o Estado e os seus organismos.

Atuando ao nível da fiscalidade, financiamento e burocracia, é possível maximizar as potencialidades do ecossistema português e aproveitar o momento fervilhante que vive hoje o movimento start-up nacional.

*Associação Nacional de Jovens Empresários

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Carlos Carvalho

Carlos Carvalho

Carlos Carvalho, 40 anos, assumiu o cargo de presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) em julho de 2024, mas desde 2020 que integrava a direção nacional da associação, como diretor nacional Norte. Foi vice-presidente, e da FIJE - Federación Iberoamericana de Jóvenes Empresarios, onde é atualmente vice-presidente Ibéria. Em representação da ANJE, integra a administração não-executiva do IET – Instituto Empresarial do Tâmega e é membro do Comité de Acompanhamento do Programa Regional do Norte (NORTE2030). Estudou engenharia,... Ler Mais..

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