Opinião
Democracia & Tecnologia – Voto Eletrónico

É motivo de reflexão verificar que os níveis de abstenção em Portugal continuaram a crescer e a situar-se acima dos 68%. A taxa de abstenção mais alta de sempre! Embora se tenha registado um aumento do número de votos, as percentagens falam por si.
Este número não é boa notícia para ninguém, muito menos para o sistema democrático. Vale a pena recordar que muitos lutaram e pereceram para que todos pudéssemos ter este direito fundamental. Temos todos com urgência que tomar medidas para que a abstenção não volte a ter maioria absoluta!
Em primeiro lugar, acho que devemos olhar para o caso de Évora, o projeto-piloto que testou o voto eletrónico em 50 mesas de voto dos seus quatro concelhos e compreender como, e se este piloto, pode agilizar ou modernizar o processo de voto e também ele ser mais um contributo para mitigar esta situação.
Depois, penso que devemos encontrar formas ainda mais ágeis de exercer este direito consagrado na democracia recorrendo às novas tecnologias, e permitindo que de forma segura o processo de voto seja desmaterializado e exercido em mobilidade. O que não podemos é continuar a insistir num processo que como hoje se apresenta ao cidadão está desadequado. Bem sei que o ato de votar é uma forma maior de expressar uma vontade em democracia, e deve naturalmente ser realizado em consciência, mas isso não implica que fique preso por um processo que teima em afastar o cidadão das mesas de voto.
Claro que compreendo que a razão da abstenção ser tão alta não reside apenas no processo de voto. Mas entendo que devemos tornar este ato mais acessível, mais enquadrado nos tempos tecnológicos que vivemos. Até mesmo porque hoje já tomamos inúmeras decisões e praticamos inúmeros atos de forma desmaterializada na relação do dia-a-dia que temos inclusivamente com o Estado. Atos também importantes e de relevo que são realizados diariamente sem recurso a atos presenciais.
Assim, devemos dar este primeiro passo, acabar com esta primeira desculpa para não exercer este direito. Somos tecnologicamente pioneiros em muitas áreas e estou certo que seria uma medida a que os portugueses iriam aderir. E ao aderirem, ao garantirmos a mais portuguese(a)s a possibilidade de participar e exercer o seu direito de voto na nossa democracia, estaremos a construir uma democracia melhor. Pois quanto mais representada estiver, quanto mais participada for, mais fortes serão os valores da nossa democracia.
Viva a democracia.
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O percurso profissional de Jorge Martins Delgado esteve sempre ligado à indústria das Tecnologias de Informação e Comunicação, universo onde consolida a carreira desde 1982. Presidente da comissão executiva da COMPTA até meados de 2019, Jorge Martins Delgado exerceu funções de gestão, direção e administração em organizações como a Holding Servicios (Portugal), o Grupo SolS & Solsuni, a Vortal ou a Gerco (Grupo Mota-Engil). O processo de internacionalização do Grupo SolS & SolSuni, que teve oportunidade de liderar através de operações na Europa (Espanha e Polónia), em África (Angola) e na América Latina (Argentina), constitui-se como outro dos marcos da sua extensa trajetória no mundo das TIC. Exigente, competitivo e ambicioso, avesso à perpétua resistência à mudança e adepto de um modelo de liderança sustentado no mérito, ocupa as suas muito poucas horas vagas na gestão do Clube Recreativo Leões de Porto Salvo. Uma instituição desportiva de Utilidade Pública, do concelho de Oeiras, que lhe permite estar socialmente ativo, trabalhar em prol da comunidade e fomentar o conceito de payback à sociedade.