Opinião
Decisões estratégicas Intelligence-Driven para 2023

O ‘Negócios’ publicou a 2 de janeiro, desta vez em Edição Especial, a prospetiva de 163 líderes portugueses para o ano de 2023. Como já vem sendo habitual, analisei as contribuições dos referidos líderes com a mesma metodologia e recurso a Artificial Intelligence (AI) que usei em 2020, 2021 e 2022.
O uso de AI permite analisar muita informação – imagine destilar, integrar e perspetivar 163 contribuições manualmente – de uma forma o mais objetiva possível.
O objetivo desta análise é assim perceber quais os tópicos na agenda dos gestores para este ano.
Segundo a análise do ´Negócios´, os “Custos das empresas vão subir, incluindo os salariais. Vencimentos vão ser aumentados, mas quase todos perdem poder de compra. A guerra é ainda o maior fator de risco, e também por isso, a inflação é o maior desafio. Um cenário mais cinzento que, ainda assim, não tira o sono a gestores e decisores”. Estas quatro chamadas de atenção são complementadas por 13 análises de tópicos pré-selecionados que resultam da resposta a um questionário enviado aos líderes.
A minha análise baseia-se apenas no verbatim das antevisões dos líderes e baseia-se em Topic Modelling. Esta técnica é usada no processamento de linguagem natural para identificar tópicos presentes numa coleção de documentos (neste caso as contribuições dos líderes). Envolve usar algoritmos estatísticos para identificar padrões no uso das palavras em cada contribuição e agrupá-las para identificar os “tópicos” subjacentes. Adicionalmente, calculei o número ótimo de tópicos através de uma metodologia matemática específica. No caso presente, o número ‘ótimo’ de tópicos é 3 e o segundo ‘ótimo’ é de 14 tópicos. Uma das vantagens de usar o Topic Modelling é permitir identificar e ordenar os tópicos mais abordados pelos executivos.
Tabela 1 – Comparação entre 1.º e 2.º ótimo do Topic Modelling e o Negócios
A comparação dos tópicos permite ver que as duas análises se equiparam: 1) a taxa de inflação e as taxas de juro são o foco principal, 2) seguido da continuidade de negócio, e do 3) desafio do crescimento do negócio e preços da energia 4) devido ao conflito na Ucrânia (cf. tabela 1).
Muito interessante é também ver a evolução dos tópicos ao longo dos últimos anos que foram extremamente desafiantes. Para referência, os anos de 2020 e 2021 são impactados maioritariamente pela Covid-19, o ano de 2022 pela esperança na retoma, e o de 2023 pelo conflito na Ucrânia.
Apresento apenas a minha análise na Tabela 2 por motivos de comparabilidade, usando o maior número de tópicos para maior granularidade e perspetiva (independente de ser o 1.º ou 2.º ótimo), e por ordem decrescente de menções aos tópicos.
Tabela 2 – Análise longitudinal das perspetivas dos executivos nacionais
para o período de 2020 a 2023
Como se pode ver a ordem dos tópicos muda conforme o contexto do ambiente competitivo. Podemos chamar-lhe agilidade estratégica ou adaptação, mas também pode ser vista como falta de estratégia. Para que não fosse falta de estratégia, então a inovação não deveria cair de foco principal de 2022 para 2023 (para ambos executivos homens e mulheres) para o 10.º lugar (dentro do tópico Competitividade Portuguesa que pode ver nos Word Clouds no final do artigo)!
Outro sinal de cuidado é o 3.º lugar para o impacto da inflação no consumo das famílias. Mais uma vez, devemos ter sempre o consumidor como foco principal e prioritário, até porque sem ele, nenhuma organização existiria. Não podemos é trabalhar apenas a variável preço que é exatamente o que vai acontecer se não houver inovação para adaptar a relevância da proposta de valor.
Para finalizar, não esperava que os diversos executivos revelassem as suas estratégias, mas o foco está principalmente em fatores macro externos (4 do top 5) sendo que a continuidade de negócio é o 2.º foco de atenção. Com 143 membros da Gestão de Topo das organizações que representam um total de 163 contribuições, confesso que esperava encontrar um foco mais específico no negócio (e.g. pessoas, marketing, alavancar tecnologia, etc.).
Este artigo não pretende de forma alguma criticar os executivos, e queria louvar a iniciativa do ‘Negócios’ em medir o pulso do que vai ser 2023. Pretende-se sim perceber quais os focos de atenção dos executivos no próximo ano, e ao mesmo tempo ilustrar como o Competitive Intelligence, neste caso numa versão mais quantitativa, nos pode ajudar a identificar oportunidades e ameaças, e endereçá-las para ganhar vantagens competitivas no mercado.
Decorrente da presente análise, esta visão geral e até superficial, parece apontar que muitos concorrentes poderão estar distraídos com a situação geopolítica internacional e deixar a porta aberta aos seus concorrentes para ganhar terreno e proeminência no mercado junto dos consumidores.
Para ajudar deixo as principais palavras-chave para cada tópico (por ordem decrescente de foco) e o número de contribuições dos líderes para cada tópico.
Tabela 3 – Word clouds dos 15 tópicos de 2023
ordenadas por ordem decrescente de foco
Figura 1 – Contribuições dos Líderes atribuídas a cada Tópico
LINKS:
Clique nos diversos anos para os artigos anteriores com esta análise para compreender melhor o método e os insights que aqui são discutidos:
2022 – Decisões estratégicas Intelligence-Driven (Parte 1)
2021 – Decisões estratégicas Data-Driven