Opinião
Decisões estratégicas Intelligence-Driven (Parte 1)

Este artigo não pretende “chover no molhado” mas mostrar a luz que inadvertidamente deixámos de ver. E quem sabe o pote de ouro no final do arco-íris! O objetivo é mostrar como evitar que a nossa perceção da realidade seja enviesada de forma premeditada (Agenda Setting) ou simplesmente enganada de forma aleatória (fooled by randomness).
O Jornal de Negócios publica todos os anos uma Prospetiva de vários gestores para o próximo ano assim como as suas ideias e recomendações sobre como abordá-los. O exercício deste ano causou alguma celeuma devido aos autores serem apenas do género masculino.
Este artigo não pretende “chover no molhado” mas mostrar a luz que inadvertidamente deixámos de ver. E quem sabe o pote de ouro no final do arco-íris! O objetivo é mostrar como evitar que a nossa perceção da realidade seja enviesada de forma premeditada (Agenda Setting) ou simplesmente enganada de forma aleatória (fooled by randomness).
Mais especificamente, mostrar como um artigo que se tornou num mau exemplo de igualdade de género, pode contribuir para o crescimento do País com um conjunto de boas ideias e sugestões. E fazê-lo, usando exatamente uma das sugestões que os autores indicam, a Transformação Digital, ou seja, como usamos a tecnologia para responder aos desafios de um novo paradigma de criação de valor. Para tal, usei tecnologias digitais (nomeadamente Inteligência Artificial) para fazer sentido de um conjunto de ideias dos 14 empresários portugueses.*
E sim, infelizmente enviesado pelo género masculino. Mas a ideia é ir além do óbvio: 1) que os autores são todos homens; e 2) que a cultura portuguesa sofre de falta de igualdade de género (aliás, tema recorrente no diagnóstico feito pelos autores).
Por isso, analisei também um artigo publicado uns dias depois editado pela Dean do ISEG, Clara Raposo, e que reuniu o contributo de 14, na sua maioria, professoras universitárias. E sim, também pode estar enviesado pela profissão. O que não podemos arriscar é perder contributos valiosos sob pena de num futuro, estes e outros autores, evitarem fazê-lo.
Especialmente na altura em que foram publicadas (pré-eleições, tempo para debate de ideias de como gerir o país). E ainda mais agora com uma maioria absoluta onde temos a responsabilidade, e o imperativo, de aproveitar a oportunidade de reformar e investir no desenvolvimento económico, social, tecnológico, ambiental, político e regulatório de Portugal!
Em resumo, discutimos na altura uma parte importante do exercício (i.e. , igualdade de género), mas falhámos a discussão do todo (desenvolvimento de Portugal e dos portugueses). O desafio último explicitado neste artigo é como evitar enviesamentos ao fazer sentido dos acontecimentos.
Quando nos deparamos com um artigo, com um acontecimento pessoal ou profissional, como podemos evitar ser enganados pela nossa leitura dos mesmos? Como podemos evitar os vieses cognitivos que são inerentes ao modo como o nosso cérebro está estruturado? Como podemos fazer sentido de 14 opiniões, identificar os pontos comuns e as várias alternativas de uma forma exaustiva? E se forem 100 contribuições, conseguimos processar todas estas contribuições em tempo útil? E se quisermos analisar os últimos 14 anos destas contribuições expressas no Negócios?
Num mundo que muda cada vez mais rápido e que o futuro é amanhã, na maior parte das vezes passamos os olhos pelo artigo, mas teremos muito pouco. Provavelmente, apenas por aquilo que confirma as nossas ideias (Confirmation Bias).
Um exemplo disto mesmo é o facto de algumas das contribuições deste ano pelos autores masculinos referirem exatamente a questão da igualdade do género. E não me lembro de ninguém ter realçado este facto nessa altura. Ou seja, apenas retivemos e comentámos o problema que era óbvio, quando os próprios autores sugeriam a resolução do mesmo.
O sermos levados pela “espuma dos dias” acontece também diariamente nos negócios: retemos apenas aquilo que confirma o que já sabemos. Como podemos ir mais ao fundo para identificar os Early Signals que nos guiam à exploração das oportunidades e mitigação das oportunidades? Como podemos identificar as causas do problema para o resolver e assim maximizar o nosso impacto na sua resolução? Como podemos perceber o futuro? Ao nível do País, como podemos ultrapassar as politiquices e discutir os temas que fraturam a nossa sociedade e restringem o crescimento económico?
Como podemos então evitar o Confirmation Bias? Evitar ver o que queremos em vez do que está lá para ver? Como podemos ver para lá do óbvio?
As máquinas e a tecnologia podem ajudar. Ao usarmos Artificial Intelligence (AI) aplicada à linguagem podemos inclusive descobrir padrões que até uma leitura atenta pode descurar. Um exemplo simples é o facto de o Natural Language Processing ir à base de cada palavra. Como um exemplo rápido: “empoderar-se” ou “poderio” contam para a mesma palavra-chave, ou conceito, que é o “poder”. Este facto pode fazer sobressair a ligação entre duas contribuições que de outra forma nos escaparia. A identificação deste unknown unknowns pode fazer, por vezes, toda a diferença. Temos também como pressuposto que as ligações mais evidentes também serão ajudadas por este tipo de análise.
E daí? Necessitamos cada vez mais de uma tomada de decisão inteligente e não enviesada, ou seja, de qualidade. E a AI pode ajudar como vimos acima.
É premente ir além dos dados e conseguir realçar o que acontece no ambiente competitivo e global. Identificar o que é crítico para o negócio com o propósito de aumentar a performance das organizações. Privadas e Públicas. Start-ups e incumbentes. E não ficar pela discussão do óbvio!
Como podemos então tomar decisões suportadas por informações não enviesadas?
A resposta reside no Augmented Intelligence, ou seja, informações (Intelligence) que derivam da conjugação da objetividade da máquina e da criatividade, intuição e pensamento crítico dos cientistas de Competitive Intelligence. Em vez de “lutar” contra as máquinas, estes profissionais desenvolvem uma ligação estreita com as máquinas no sentido de se elevarem mutuamente. Usam métodos e técnicas científicas, assim como reconhecem os vieses a que estão sujeitos para, em conjunto, desenvolver informações que resultam nas melhores decisões. Assim conseguem identificar os dados mais relevantes e separá-los do ruído inerente, induzido ou estrutural.
No próximo artigo aqui no Link To Leaders farei a análise mais detalhada das contribuições dos vários empresários usando as metodologias e técnicas mencionadas acima, Augmented Intelligence, no que se poderá também chamar de Opinion Mining, ou num sentido mais lato, Competitive Intelligence.
E veremos se os “Dados são o novo petróleo” ou se em vez de “Mostrem-me os Dados”, iremos dizer: “As boas decisões necessitam de intelligence !”
* Artigo com a análise do ano passado (2020)