Opinião

De Watson ao ChatGPT: vai ser tão bom, não foi?

Rui Ribeiro, diretor-geral da IPTelecom

A primeira vez que uma máquina digital vence um humano num desafio lógico direto foi em 1997. Nessa data, o supercomputador DeepBlue, da IBM, ganha um jogo de xadrez ao campeão Kasparov. Isso aconteceu após uma primeira partida perdida no ano anterior.

A partir desse momento, percebeu-se que um caminho estava efetivamente trilhado: as “máquinas” influenciarem os humanos no mundo digital!

De lá para cá, o motor de busca Google nasce em 1998, mudando todo o conceito de acesso a informação, em 2007 o iPhone mudou todo o conceito de mobilidade, em particular mudando o paradigma dos telemóveis serem equipamentos autónomos e a extensão tecnológica da nossa mão. Destaca-se ainda um outro salto qualitativo da Inteligência Artificial, quando em 2011, no famoso jogo americano Jeopardy de televisão sobre cultura geral, a IBM apresenta o seu sistema embrionário Watson (uso a palavra embrionário propositadamente)!
Neste concurso de cultura geral, onde o grau de complexidade é elevadíssimo pelo facto de se ter de adivinhar qual é a pergunta perante uma resposta indicada pelo apresentador, o Watson venceu, por larga margem, os dois principais campeões humanos do Jeopardy das últimas temporadas de então.

Em menos de 15 anos, todo um conceito digital de interação e interfaces humano-máquina mudou! Se depois do teclado, veio o rato e o “touch”, com este conceito apresentado pelo Watson normalizou-se todo o conceito de falarmos com “as Alexa ou as Siri”, bem como com uns óculos especiais podermos entrar em mundos imaginários, reais ou mistos, abrindo mundos de Metaversos, onde podemos ser o que quisermos ou comprar e vender novos produtos e serviços empresariais e pessoais.

Neste momento, está meio mundo extasiado com as capacidades que o ChatGPT tem disponibilizado, pois ao contrário do Google que nos dá várias hipóteses de resultados pretendidos, fazendo-nos ainda pensar nos caminhos a seguir, através do nosso “livre-arbítrio”, o ChatGPT aponta-nos (ou influencia-nos) para uma resposta/um caminho. Contudo, convém relembrar que esta plataforma está ainda na sua versão beta, ou seja, está a um nível similar ao que o Google Translator tinha quando iniciou o seu serviço em 2006, e que muitos criticaram pelas falhas técnicas das traduções. Hoje, são poucos aqueles que necessitando de toda e qualquer tradução linguística não usam esse serviço, ou similares …

Em termos práticos, se o serviço ChatGPT já está a deixar o mundo digital admirado e inquieto, imagine o que este serviço e similares poderão potenciar em muitas das tarefas pessoais e empresariais em 10 ou 20 anos, a contar de hoje?! Se a esta plataforma, baseada em Inteligência Artificial, juntarmos mais “alguns pozinhos” de outras tecnologias disruptivas como Computação Quântica, Robótica, Impressão 3D, Realidade Virtual, Cibersegurança ou Blockchain, perceberemos muito rapidamente o que se avizinha. Nesta evolução disruptiva dos próximos anos, muitos setores serão transformados radicalmente, novos modelos de negócio serão criados, novas empresas recrudescerão, novos hábitos se sustentarão rapidamente, enquanto outros hábitos desaparecerão num ápice.

Estas e outras razões, se estivermos atentos ao mundo geopolítico da atualidade, estão na base de muitas das atuais guerras comerciais. O poder económico de futuro das nações dependerá cada vez mais da sua capacidade tecnológica e muito menos na sua dimensão geográfica, nomeadamente na forma como o mercado empresarial se torna mais ágil e mais eficaz, em contraponto com a sua dimensão física.

É por tudo isto, que se achou que o título deste artigo é uma brincadeira, prepare-se para perceber que se não entender o que está a acontecer com o impacto da transformação digital na sociedade (pessoas, empresas e nações), pode perceber demasiado tarde que o prazer que gostava de ter hoje, já passou há algum tempo e de forma demasiado rápida!

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Rui Ribeiro

Rui Ribeiro

Atualmente é professor da Universidade Lusófona e consultor de Transformação Digital, tendo tido várias atividades profissionais, entre as quais Head of Consulting & Technology na Auren Portugal, diretor-geral da IPTelecom, diretor comercial da Infraestruturas de Portugal S.A., diretor de Sistemas de Informação na EP - Estradas de Portugal S.A. e Professional Services Manager da Sybase Inc. em Portugal. Na academia é diretor executivo da LISS – Lusofona Information Systems School, e docente da ULHT. Rui Ribeiro é doutorado em Gestão... Ler Mais..

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