Opinião

Credibilidade: o “building block” da liderança

Mário Ceitil, presidente da Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas

A literatura sobre liderança vem enfatizando que a principal alavanca da eficácia de um líder é a sua “credibilidade”. Kouzes & Posner (2003), assinalam mesmo que qualquer líder deveria fazer um “check-up de credibilidade”, antes de se abalançar a uma intervenção profunda na sua organização, como forma de garantir uma maior probabilidade de sucesso nessa intervenção.

Quais são, então, as fontes da credibilidade?
De acordo com a pesquisa feita pelos autores citados, a maioria das pessoas admira os líderes que sejam honestos, com visão de futuro, inspiradores e competentes. Mas de todos os atributos da credibilidade, aquele que tem o maior peso e a maior relevância na ascendência de um líder é a “confiança”.

A confiança é o verdadeiro “building block” da credibilidade.

Um líder pode ser muito competente nos domínios técnicos em que atua e ser, mesmo, reconhecido como um verdadeiro especialista, concitando a admiração e o fascínio nos seus pares e nos seus seguidores. Mas, se ele não for capaz de gerar a confiança suficiente na sustentabilidade futura dos seus atos, a sua liderança ou se mantém apenas pela inércia do enquadramento institucional ou, então, pela imposição da força.

Na ausência de uma, e na impossibilidade de administração da outra, a liderança tenderá a esvaziar-se progressivamente e, mais cedo ou mais tarde, dissipar-se-á.

Esta questão é particularmente interessante de analisar nos contextos políticos, designadamente no que diz respeito às diferenças nas dinâmicas de liderança entre o poder executivo e as oposições.

Enquanto o Governo instituído, para manter a sua credibilidade, tem que gerar confiança em relação à sua capacidade para cumprir as promessas eleitorais que lhe estão a montante e criar condições de vida mais favoráveis para as populações, a oposição, para afirmar a sua liderança, tem que fazer exatamente o contrário, ou seja, instalar na opinião pública a dúvida sobre a capacidade do atual governo para governar.

Assim, enquanto a credibilidade do Governo em exercício se faz a partir da confiança que gera na sua capacidade para governar, a credibilidade da oposição constrói-se, primeiro, pela capacidade de minar a confiança no Governo e, depois, em gerar, nas populações de eleitores, a confiança de que será capaz, futuramente, de fazer melhor do que o governo atual.

A confiança no Governo gera-se na construção proativa das imagens do futuro; a confiança na oposição faz-se da fabricação e aproveitamento das insatisfações reativas do passado.

Como a credibilidade de uma oposição não se faz da mesma substância que a credibilidade de um Governo, os líderes respetivos constroem os seus ascendentes de liderança com base no domínio de fontes de influência diferentes. O resultado é que um bom líder da oposição não será, necessariamente, um igualmente bom líder no Governo e vice-versa.

Mas, ainda aqui, é necessário estabelecer uma diferença entre as estratégias de liderança de uma oposição afirmada apenas como contrapoder, e a oposição que, numa lógica de alternância democrática, tem histórico anterior desse exercício e, como tal, aspira legitimamente ao regresso ao poder.

O líder que representa apenas um contrapoder pode “dar-se ao luxo” de ter uma atitude de “bota abaixo”; dele não se espera que, depois, assuma a responsabilidade de recompor aquilo que ajudou a destruir.

Mas o líder de um partido de alternativa de poder é sobretudo avaliado pela capacidade de gerar isso mesmo: alternativas; dele se espera que, a atitude de “bota abaixo” seja complementada por uma proposta credível de mudança com resultados presumivelmente melhores.

Por isso, um líder que já tenha tido uma experiência de exercício de poder anterior, deve ter um particular cuidado na gestão da sua imagem. Para que os eventuais desaires do passado se não convertam em profecia limitadora das promessas do futuro.

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Mário Ceitil

Mário Ceitil

Licenciado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, Mário Ceitil é consultor e formador na CEGOC desde 1981, tendo participado em vários projetos de intervenção, nos domínios da Psicologia das Organizações e da Gestão dos Recursos Humanos, em algumas das principais empresas e organizações, privadas e públicas, em Portugal e em países da África lusófona. Integrou, como consultor, equipas internacionais do grupo CEGOS, em projetos europeus. É professor universitário, desde 1981, nas áreas da Psicologia das Organizações e da... Ler Mais..

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