Entrevista/ “Costumo dizer que um empreendedor tem de ser um pouco louco!”

“A verdade é que empreender é solitário e acarreta muitos riscos financeiros e, por isso, só mesmo com uma boa dose de loucura e de paixão é que se consegue fazer esta jornada”. A afirmação é de Ana Gonçalves, CEO da Academia de Negócios de Saúde, empresa que ajuda empreendedores na área da saúde e bem-estar.

Liderado pela empreendedora Ana Gonçalves, a Academia de Negócios de Saúde (ANS) presta apoio a empreendedores na área da saúde, a profissionais que querem lançar projetos empresariais neste setor de atividade e que precisam de um apoio especializado. Fundada em 2020 com outra designação, a Academia cresceu 50% em 2023, atingindo um volume de negócios de um milhão de euros, formou cerca de 800 pessoas, e realizou um congresso de gestão e empreendedorismo para profissionais de saúde.

Este ano, os planos passam pelo lançamento de novo curso direcionado para as vendas na saúde, e a previsão de impactar 900 empreendedores. A mentora e CEO da Academia de Negócios de Saúde considera que os empreendedores portugueses na área da saúde são empreendedores resilientes, mas que é importante que apostem no conhecimento e invistam constantemente no domínio de competências enquanto gestores e empreendedores.

Como surgiu a Academia de Negócios de Saúde e qual a missão?
A Academia Negócios de Saúde surgiu em maio de 2023, quando percebi que já não era só a mim que os empreendedores procuravam. Durante sensivelmente três anos, o projeto teve o nome de Academia AG, mas com o crescimento da equipa, cada vez mais especializada em todas as áreas fundamentais de um negócio, já não fazia sentido chamar-se assim. Então surgiu a Academia Negócios de Saúde, hoje com nove especialistas nas mais diversas áreas, desde finanças, vendas, marketing, atendimento, entre outras. Foi uma evolução muito progressiva e natural.

A Academia Negócios de Saúde tem como missão ajudar empreendedores na área da saúde e bem-estar a alcançarem o sucesso com mais solidez e foco. Além disso, procuramos reduzir uma grande lacuna que existe no ensino português uma vez que os profissionais de saúde não são ensinados a gerir negócios quando tiram o curso.

Quem é que vos procura mais e com que intuito?
Quem nos procura são empreendedores da área da saúde e bem-estar. Profissionais de saúde, desde fisioterapeutas a veterinários, médicos dentistas, personal trainers, psicólogos, terapeutas da fala, oftalmologistas e, até mesmo, médicos de medicina estética. Normalmente, são profissionais de saúde que abriram o seu negócio, mas não sabem como o devem gerir. São empreendedores cujas empresas e faturação é completamente dependente deles e, por isso, trabalham mais de 12 horas por dia, sem haver oportunidade de tirar férias. Nos nossos cursos acabam por encontrar a ajuda necessária para conseguirem ter uma empresa que não depende 100% deles. Também acompanhamos muitos profissionais de saúde que vão agora abrir a sua clínica e que já perceberam que é mais seguro fazê-lo com a ajuda da Academia.

Quais as características dos empreendedores portugueses ligados à área da saúde?
Considero que os empreendedores portugueses na área da saúde são empreendedores resilientes, que não desistem perante a constante mutação do mercado de trabalho, e flexíveis, devendo conhecer todas as dimensões do negócio, não se focarem só na parte técnica, adaptarem-se constantemente ao mercado e ao cliente. Por outro lado, é importante, também, que apostem no conhecimento, pois não basta ser técnico. É necessário investir constantemente no domínio de competências enquanto gestores e empreendedores. Por fim, considero que devem colocar em prática o que têm em mente e investir no seu sonho.

“Em 2023, formamos quase 800 empreendedores (…)”.

Quantas pessoas formaram no último ano e quais as previsões para este ano?
Em 2023, formamos quase 800 empreendedores nos cursos de clínicas de sucesso, atendimento de sucesso na saúde, clínicas do Zero, 10 Passos para uma agenda cheia e no programa de acompanhamento Masters. Este ano, com o lançamento do novo curso direcionado para as vendas na saúde, acreditamos que vamos conseguir impactar, até ao final do ano, 900 empreendedores.

Pode partilhar um caso de sucesso?
São muitos os casos de sucesso que podia partilhar, mas posso destacar o caso do aluno André Viegas. Está connosco desde a turma 1 do Clínicas de Sucesso e, além de ter conseguido passar de um espaço de 90 metros quadrados para um de 800 metros quadrados, pela primeira vez, conseguiu tirar férias sem ser interrompido. Já tem dias da semana dedicados à gestão e obviamente esse compromisso tem dado frutos. Ao longo dos anos, a faturação tem vindo sempre a crescer e o mês de janeiro foi o melhor mês de sempre de faturação.

“A área da saúde é altamente competitiva, com muitas empresas e prestadores de serviços já estabelecidos. Os empreendedores enfrentam o desafio de encontrar um nicho de mercado”.

Quais os desafios que os empreendedores na área da saúde enfrentam hoje em dia?
Entre muitos posso destacar a competitividade e a saturação do mercado. A área da saúde é altamente competitiva, com muitas empresas e prestadores de serviços já estabelecidos. Os empreendedores enfrentam o desafio de encontrar um nicho de mercado e de se destacar no meio da concorrência. Posso também realçar a inovação e tecnologia. Nos dias de hoje o cliente em saúde mudou, está muito mais informado e tem um acesso muito fácil à informação. Conseguir acompanhar esta evolução natural da história é sem dúvida um desafio.

Considera que Portugal é um país de empreendedores e que os portugueses têm potencial empreendedor?
Não tenho dúvidas nenhumas de que os portugueses têm um grande espírito de empreendedorismo! São várias as provas que temos disso mesmo. Desde que comecei esta jornada fui criando várias amizades com outros empreendedores, de diferentes áreas, e cujo trabalho me orgulho muito. Acontece é que, infelizmente, esse trabalho não é muitas vezes conhecido ou divulgado pelas grandes massas.

Existem mecanismos adequados e suficientes para apoiar iniciativas empreendedoras? Ou, pelo contrário, existem muitos condicionantes?
Costumo dizer que um empreendedor tem de ser um pouco louco! A verdade é que empreender é solitário e acarreta muitos riscos financeiros e, por isso, só mesmo com uma boa dose de loucura e de paixão é que se consegue fazer esta jornada. Se os apoios que existem ao empreendedorismo são suficientes? Não sei. Que muitas vezes não chegam ao público-alvo? Tenho a certeza!

“(…) devemos criar uma equipa (…) que deverá estar alinhada e comprometida e que nos ajude a escalar o negócio (…)”

Quais os conselhos que dá a quem quer criar um projeto de sucesso na área da saúde?
Poderia dar vários conselhos, mas destaco três. Antes de mais, é importante apostar no conhecimento, pois, apesar de sermos ensinados a ser os melhores profissionais a nível técnico, depois, quando abrimos um negócio acabamos por perceber que não temos os conhecimentos necessários para o gerir.
Em segundo lugar, devemos criar uma equipa, equipa essa que deverá estar alinhada e comprometida e que nos ajude a escalar o negócio e a fazer com que o mesmo não dependa inteiramente de nós. Por último, é importante ter uma estratégia. Se vai abrir um negócio, deve pensar na localização, serviços, preços a cobrar, público-alvo. Tudo isso faz parte da estratégia inicial.

Projetos para o futuro da Academia de Negócios de Saúde?
O maior projeto que posso destacar neste momento é a realização do III Congresso de Gestão e Empreendedorismo para Profissionais de Saúde. O II Congresso, realizado no ano passado, foi um sucesso, para mais de 600 profissionais de saúde, com 19 palestrantes. Estamos já a preparar o III Congresso, mas ainda não posso revelar novidades!

O que gostaria de ter realizado e ainda não conseguiu?
Escrever o meu livro. É algo que quero muito fazer e acho que está para breve.

Respostas rápidas:
Maior risco:  Trocar o certo pelo incerto.
Maior erro: Não ter delegado mais cedo.
Maior lição: É preciso ganhar o direito de liderar, não basta termos o cargo de líderes.
Maior conquista: Orgulhar os meus pais.