Opinião
Coragem estratégica
![Sónia Jerónimo](https://linktoleaders.com/wp-content/uploads/2022/02/NRS.jpg)
O próximo ciclo económico será muito desafiador para as lideranças. A volatilidade e a incerteza já são uma realidade. Liderar nestes contextos exige tomar todas as ações defensivas corretas e, ao mesmo tempo, tirar partido da volatilidade e incerteza e utilizá-las como catalisadores para galvanizar ações em torno de novas oportunidades de crescimento futuro da organização e das suas pessoas.
O atual contexto económico pode aguçar a mentalidade de líderes com coragem de avançar e até podem ser elementos rejuvenescedores da sua estratégia que pode ter estado adormecida enquanto navegavam “em águas mais calmas”.
As lideranças devem estar focados mais do que nunca nas suas pessoas e exige que afinem a sua vantagem em três áreas críticas: investimento em “insights”, compromisso coletivo e execução.
Investir em “insights” é investir em diferentes perspetivas, promovendo a discussão coletiva em torno de temas que são importantes para a organização avançar. Promover sessões de brainstorming com diferentes departamentos ou áreas da organização, traz perceções e perspetivas multidisciplinares muito importantes para o negócio. Ideias inovadoras e que até podem ser disruptivas para a indústria. Além disso, no centro também estará a inclusão e a diversidade, estimulando o sentido de pertença e segurança psicológica e emocional, tão abaladas que ficaram no pós-pandemia.
Com novas perceções, e mais do que saber o que fazer com elas, é fazê-lo com prontidão, coragem e ambição. Agir e corrigir, sempre numa perspetiva de melhoria contínua. Aqui o compromisso coletivo é de avançar para o passo seguinte – a execução.
Executar é capturar todo o valor das ações propostas e para as quais há um compromisso genuíno e coletivo. Em tempo de volatilidade e incerteza, a velocidade é ponto central. Promover execuções rápidas e ágeis. Como seremos capazes de construir novos negócios, com a agilidade e ambição de um disruptor, aproveitando ao mesmo tempo o alcance e recursos que temos atualmente?
Para o sucesso destes três itens, quatro habilidades são fundamentais para as lideranças: a consciencialização, a vulnerabilidade, a empatia e a compaixão. Em boa verdade, estão todas conectadas entre si e são interdependentes, o que significa que praticar uma pode levar a outras. Atitudes e comportamentos fundamentais ao sucesso para uma estratégia corajosa em tempos de crise.
A primeira é descobrir e integrar o que se sente. Um primeiro passo para sintonizar eficazmente o interior é criar tempo e espaço para a auto-conexão e auto-consciencialização.
Uma prática simples durante estes tempos é a de se envolver numa respiração profunda e intencional. A respiração profunda abranda o ritmo cardíaco e restaura o corpo a um estado mais calmo e composto. Tomar um momento para respirar profundamente quando notar o medo ou stress crescente, e também antes de tomar decisões importantes.
Sintonizar em si próprio e ajudar as suas equipas a fazer o mesmo melhorará a sua capacidade de ouvir os outros, e permitir-lhes-á avançar. A consciência do que os outros estão a sentir, juntamente com a vulnerabilidade, empatia e compaixão durante uma crise tem demonstrado diminuir o stress e limitar os sintomas físicos adversos dos membros da equipa, enquanto melhora a realização dos objetivos da equipa e a sua produtividade.
A vulnerabilidade é crucial. Torna-nos mais acessíveis e também encoraja os colaboradores a partilharem as suas ideias e a contribuírem para a resolução de problemas e para a construção dos ativos de uma empresa. Emparelhar vulnerabilidade com a confiança é crítico para ajudar as pessoas a passar de estados de raiva, ansiedade ou negação a trabalhar em conjunto para construir um futuro desejável. Os líderes estão numa posição única para acender a esperança e criar a imagem de uma futura organização da qual as pessoas estão entusiasmadas por fazer parte. A vulnerabilidade fomenta uma cultura organizacional cheia de aceitação mútua, proximidade e esperança. Isto é fundamental tanto para o investimento de “insights” quanto para o compromisso coletivo.
Os líderes devem dar o tom expressando vulnerabilidade e partilhando medos, preocupações e até incertezas pessoais. Outra prática simples é reconhecer que nenhum líder tem todas as respostas. A autenticidade é primordial, a fim de que a organização não se aperceba da dissonância entre as palavras do líder e os seus sentimentos e afinações, senão seguir-se-á ceticismo e perda total de credibilidade.
Finalmente, abrace a empatia e a compaixão dos outros e pelos outros. Partilhar as suas emoções em resposta a palavras e atos carinhosos requer vulnerabilidade. Mas ajudará a manter a sua própria estabilidade emocional e a construir uma estreita rede de apoio que é essencial, especialmente em tempos de turbulência. Pratique a empatia para compreender melhor as emoções que os outros sentem, e agir com compaixão para fazer com que os seus colaboradores se sintam genuinamente acarinhados.
Mostre interesse genuíno e autêntico nos sentimentos e emoções dos seus colaboradores tornando-os visíveis por toda a organização. Os líderes devem também encorajar atos de compaixão por parte dos colaboradores para fomentar ainda mais uma comunidade que se apoia mutuamente.
Deixei deliberadamente para o fim, uma quinta atitude que é (para mim) o elemento fundamental para que tudo isto possa acontecer – a humildade. Apenas uma liderança assente na humildade e na capacidade de servir o próximo pode alimentar e manter estes comportamentos de liderança. Coragem estratégica é empoderar as pessoas para envolver, inspirar e motivar a ir mais longe, manter-se forte e coeso em tempos mais difíceis.
*E Ambassador na Fábric@ Empreendedorismo Município de Seia