Como está a IBM a gerir os despedimentos em tempo de crise

Há empresas que, por norma, não divulgam números no que diz respeito a despedimentos. A multinacional IBM é uma delas. Mas talvez as regras devessem mudar em tempos de crise.

Organizações de todas as dimensões por todo o globo estão a enfrentar dificuldades como consequência do impacto económico da Covid-19. Numa altura em que as empresas tentam reduzir custos de forma célere, as redundâncias têm sido um dos desagradáveis desfechos.

O setor tecnológico, como muitos outros, registou perdas generalizadas de postos de trabalho. A Airbnb, cujo modelo de negócio foi tornado obsoleto pelo confinamento/bloqueios e restrições nas viagens, demitiu 25% da sua força de trabalho, ou 1900 colaboradores, enquanto a Uber despediu 3700 devido à redução da atividade.

A IBM não costuma divulgar números no que diz respeito a demissões. No final de maio, a gigante anunciou que tomou a decisão de reduzir um número não especificado de postos de trabalho nos EUA. O WSJ e a Fox Business indicam que as demissões abrangem vários tipos de funções, divisões de produto e localizações em solo americano.

Entretanto a companhia suspendeu os anúncios de ganhos pelo resto do ano, mas reportou uma receita total 17,6 mil milhões de dólares (15,6 milhões de euros) no primeiro trimestre de 2020, uma queda de 3,4% face ao ano anterior, à medida que os clientes deixavam de apostar em projetos de continuidade, minimizando os riscos de segurança cibernética e reconfigurando ambientes de TI.

A IBM, que emprega mais de 350 mil pessoas, não foi explícita em relação ao número total de despedimentos. Um ex-funcionário da organização, que perdeu o emprego numa equipa de 12 colaboradores, disse à Bloomberg que a cifra se situa provavelmente nos milhares, acrescentando que “foi muito abrangente – em que o historial de classificações, idade e antiguidade parecem não importar”.

O porta-voz da multinacional, Ed Barbini, declarou num comunicado no final de maio que “o trabalho da IBM num mercado altamente competitivo exige flexibilidade para acrescentar de forma constante competências de alto valor à nossa força de trabalho. Embora consideremos sempre o ambiente corrente, as decisões em relação à força de trabalho da IBM são tomadas no interesse da saúde a longo prazo do nosso negócio”.

Transparência na liderança das tecnológicas
Embora a IBM raramente tenha anunciado detalhes ou divulgado números de cortes em postos de trabalho no passado, a decisão mais recente foi um momento-chave na liderança do novo CEO, Arvind Krishna, de acordo com o site TechHQ. Por um lado, pode ter sido crucial para colocar a empresa de volta no caminho dos lucros. Por outro lado, era um momento oportuno para introduzir transparência numa altura em que era mais importante que nunca, e em que a potencial perda de confiança por parte dos funcionários pode ser prejudicial para o negócio.

Além da Airbnb e da Uber, muitas outras empresas de tecnologia reconhecem a importância de se ser franco em termos de números ao anunciar demissões em massa. Em 2019 a HP, sob nova liderança, disse que iria cortar 9 mil postos de trabalho, e pouco depois a rival da IBM Cognizant anunciou ter planos para eliminar 7 mil empregos.

Ronn Torossian, CEO da agência de relações públicas nova-iorquina 5WPR, que representa empresas da Fortune 500, disse numa entrevista à Bloomberg que “é um erro pensar que se pode demitir milhares de pessoas e não responder a perguntas. E não são apenas os meios de comunicação que fazem perguntas – são os investidores, os funcionários remanescentes e os clientes também”.

Um relatório recente da americana OC Tanner constatou, com base num estudo realizado junto de 1715 trabalhadores no Reino Unido, nos EUA e no Canadá, que a transparência na liderança é hoje um fator crítico, uma vez que os colaboradores esperam honestidade, autenticidade e comunicação regular por parte de quem os lidera.

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