Opinião
Como é o meu CEO?

Todos sabemos que o acrónimo CEO significa Chief Executive Officer que se pode traduzir, em português, por presidente da Comissão Executiva ou por presidente do Conselho de Administração, caso se esteja perante um modelo de governo dualista ou monista. Há quem também associe a figura do CEO ao de diretor-geral, quando este é o cargo de topo numa organização.
Clarificado o significado do acrónimo, interessa, pois, saber se conhecemos quem é o CEO das nossas organizações. Não se trata de saber o seu nome ou fisionomia, mas de tentar descobrir como é que essas pessoas exercem o seu cargo. Para tal, proponho um exercício simples recorrendo de novo ao mesmo acrónimo. As pessoas que exercem o cargo de CEO são muitas vezes conhecidas por uma destas características:
- Controlar
- Executar
- Organizar
Ao longo da vida trabalhei com vários CEOs até me tornar, eu próprio, CEO. Durante esses anos pude observar diferentes modos de exercer essa função. Alguns estavam sobretudo focados em controlar o que os seus reportes diretos, e por vezes até os indiretos, faziam. Para tal, muniam-se de ferramentas (dashboards) em que controlavam métricas e indicadores de desempenho anuais, mensais, semanais, diários e, às vezes, parecia-me mesmo horários… Outros, pelo contrário, preferiam dedicar o seu trabalho a organizar projetos, equipas, tarefas ou, se quiserem, a “distribuir jogo”. Isto é, focavam-se em tarefas mais estratégicas confiando nos seus reportes o controlo e execução do trabalho. Por último, conheci CEOs que gostavam verdadeiramente de “pôr a mão da massa”. Frequentemente, trabalhavam diretamente nos projetos com as equipas de direção e com as equipas técnicas.
Não creio que exista uma forma certa ou errada de exercer o cargo de CEO. Não conheci, aliás, nenhum(a) CEO que se dedicasse exclusivamente a controlar, executar ou organizar. Apenas pude verificar que existia uma forma predominante de atuação que me permitiu conhecer melhor cada um deles. Pude observar que os CEO predominantemente “C” são normalmente pessoas muito analíticas, com um sentido forte de hierarquia e que gostam de trabalhar em organizações piramidais. Estes CEO exigem das suas equipas um enorme rigor e disciplina e são focados em processos e procedimentos.
Por sua vez, os CEO tipo “E” tem normalmente um apurado sentido colaborativo, valorizam pouco as estruturas organizacionais formais e estão muito focados no resultado. Estes CEO podem perder a visão estratégica quando se envolvem demasiado na execução dos seus projetos ou quando, por excesso de voluntarismo, se envolvem demasiado no trabalho técnico das suas equipas. Por outro lado, os CEO tipo “O” são normalmente excelentes na planificação, definição e alocação de recursos. Têm um sentido prático apurado, focam-se no cumprimento de prazos, bem como na prossecução dos objetivos definidos.
Como referi, nunca trabalhei com um CEO que fosse apenas do tipo “C”, “E” ou “O”, mas esta tipologia ajudou-me a definir estratégias para lidar com cada um deles. Quando trabalhei com CEOs predominantemente do tipo ”C” aprendi e desenvolvi competências mais ligadas com disciplina e foco. Quando trabalhei com CEOs predominantemente do tipo “E” pude perceber como o exercício da função de topo de uma organização não impede que se continuem a desenvolver competências técnicas. Aprendi, também, com estes CEO “E” que o exercício da liderança se deve fundar essencialmente no exemplo e no serviço ao outro. Quando trabalhei com CEOs, predominantemente do tipo “O”, ganhei conhecimentos em termos de pensamento estratégico e capacidade de traduzir o mesmo em planos de ação concretos.
Talvez por isso, quando cheguei a CEO foi relativamente fácil identificar qual seria o meu tipo predominante: “C”, “E” ou “O”. Ou, se quiserem, quem iria ser como CEO. Os anos em que exerci essa função vieram a confirmar a minha intuição. Embora não descure as componentes “C” e “O”, fui essencialmente um CEO do tipo “E”. Na realidade, sempre gostei de pôr a “mão na massa” quer fosse a vender um projeto de consultoria quer fosse a executá-lo com a equipa de projeto no cliente. Dediquei muitas horas, e fins-de-semana, a fazer trabalho técnico que me dava um enorme gozo. Isso permitiu-me não só uma maior proximidade e intimidade com as equipas como também construir relações de confiança com muitos clientes. O facto de ter sido um CEO tipo “E” permitiu-me também perceber as vantagens de estruturas com menos níveis hierárquicos e assentes em espírito colaborativo. Quem trabalha comigo sabe que gosto de falar com a pessoa certa quando preciso quer seja Partner ou Diretor, Manager ou Coordenador, Consultor ou Técnico Especializado. Acredito que, desta forma, fico mais próximo das pessoas, coloco-me ao seu serviço, vivo as suas dificuldades e aprendo com elas.
E o seu CEO? Quem é?