Opinião

Como a liderança inovadora prospera em tempos de incerteza

Pedro Fonseca, responsável pelo Cloud Center of Excellence global na Saint-Gobain

Vivemos numa era em que a única constante é a mudança. As organizações enfrentam um ambiente cada vez mais volátil, onde crises económicas, avanços tecnológicos, tensões geopolíticas e novas expectativas sociais coexistem e se influenciam mutuamente.

Neste contexto, sobreviver já não é o suficiente, o verdadeiro desafio é aprender a prosperar em meio à incerteza. E é aqui que surge o papel decisivo da liderança inovadora.
A liderança de hoje já não se mede apenas pela capacidade de planear ou controlar. Medir o sucesso de um líder moderno implica avaliar a sua habilidade em inspirar confiança, gerar clareza em tempos de caos e mobilizar pessoas em torno de um propósito comum. As equipas não procuram apenas direção; procuram líderes que tragam segurança, mas também que os desafiem a pensar de forma diferente, a experimentar e a construir soluções novas para problemas antigos.

Ser um líder inovador em tempos de disrupção é, antes de tudo, saber lidar com o desconforto da mudança. Significa entender que o planeamento rígido perdeu espaço para a adaptabilidade e que a incerteza pode ser uma aliada, e não uma inimiga. Liderar com confiança e agilidade é equilibrar visão e flexibilidade, manter o foco no essencial, mas com a abertura necessária para ajustar o percurso sempre que o contexto o exigir.

Saber quando manter o rumo e quando mudar é talvez uma das maiores competências de liderança do século XXI. A agilidade deixou de ser uma característica exclusiva das startups para se tornar um imperativo estratégico em todos os setores. Um líder ágil não reage de forma impulsiva, mas observa atentamente os sinais do mercado, identifica padrões e antecipa movimentos. A sua força está em transformar dados e incertezas em decisões ponderadas, sem perder a capacidade de agir rapidamente.

Mas a liderança inovadora não é feita apenas de estratégia. É, acima de tudo, feita de cultura e a cultura começa no exemplo. A disrupção pode ser uma fonte de paralisia ou de energia criativa, dependendo da forma como é encarada internamente. Uma cultura que vê o erro como aprendizagem e a mudança como oportunidade é uma cultura que liberta o potencial das pessoas. Criar essa mentalidade requer líderes que cultivem confiança, incentivem a colaboração e reforcem o valor da comunicação aberta.

Neste cenário, três pilares sustentam a liderança moderna: agilidade, confiança e storytelling. A agilidade permite às organizações adaptar-se sem perder coerência. A confiança é o cimento que une equipas em tempos de instabilidade. E o storytelling dá alma à estratégia, é através de uma narrativa inspiradora que o líder consegue ligar a visão à ação, transformando objetivos abstratos em significado concreto.

O poder da narrativa é muitas vezes subestimado, mas é o que distingue líderes que apenas informam de líderes que inspiram. Contar histórias não é um exercício de retórica, é uma ferramenta de mobilização. Quando um líder partilha uma história que conecta o presente às aspirações futuras, ajuda a criar sentido, direção e pertença, três elementos essenciais num ambiente incerto.

O futuro, por sua vez, pertence aos líderes adaptáveis, aqueles que conseguem unir estabilidade e inovação, razão e emoção, análise e intuição. São líderes que não procuram eliminar a incerteza, mas transformá-la em terreno fértil para o crescimento. Que não temem a mudança, porque sabem que é nela que se constrói o novo.

Mais do que nunca, o sucesso de uma organização depende da qualidade da sua liderança — não da liderança que controla, mas da que liberta; não da que impõe, mas da que inspira. A liderança inovadora é aquela que se move com o mundo, que lê o contexto, que confia nas pessoas e que tem a coragem de experimentar. Porque, em tempos de incerteza, prosperar não é apenas uma questão de estratégia, é uma questão de atitude.


Pedro Fonseca é um executivo de transformação com mais de 20 anos de experiência em planeamento e direção de tecnologia. Com uma carreira focada na liderança de equipas globais e na implementação de estratégias de transformação digital, especializou-se em arquitetura empresarial, gestão de serviços de TI e inovação tecnológica.

Atualmente, lidera o Cloud Center of Excellence global na Saint-Gobain, onde impulsiona a adoção de tecnologias cloud, gestão de produtos e sucesso do cliente. Anteriormente, desempenhou funções de destaque em empresas como Feedzai, Nokia, Fidelidade, Oney Bank e Caixa Geral de Depósitos, conduzindo iniciativas estratégicas de inovação, otimização de processos e transformação digital.

Com percurso académico em Engenharia Informática e formação em Sociologia pelo ISCTE, além de uma especialização em Gestão e Inovação Digital pela Católica Lisbon School of Business and Economics, é também certificado em Gestão de Projetos e Gestão de Serviços de TI e Tecnologias. Além da sua experiência corporativa, conta com vários anos de consultoria estratégica, apoiando organizações na definição e execução de estratégias tecnológicas e operacionais.

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