Opinião
Alternativas para navegar na tempestade perfeita que se forma na Europa?

Ao olharmos para o contexto europeu atual, tudo indica que se está a formar uma tempestade perfeita a nível político, social e económico. Os sinais são preocupantes e não parecem dar razões para otimismo. Mas, uma análise mais fria e mais ponderada permite perceber que há margem para navegar nesta aparente tempestade.
O grande motor económico da Europa, a Alemanha, está a atravessar dificuldades que não se viam há décadas. O país enfrenta o maior período de estagnação económica desde a Segunda Guerra Mundial, segundo afirmam algumas entidades alemãs, prevendo-se que se mantenha estagnada em 2025. O próprio mercado automóvel, outrora um setor pujante na economia alemã, está a cair e, politicamente, o país assiste a uma instabilidade a que já não estava habituada. Esta incerteza política faz com que a Alemanha não tenha, sequer, um Orçamento de Estado aprovado.
Passando para França, outro dos grandes motores da Europa, também não existe Orçamento e a instabilidade política é ainda maior. Tendo em conta a arquitetura parlamentar e governativa, é legítimo pensar que o país corre o risco de se tornar ingovernável no curto-prazo. Os sucessivos primeiros-ministros nomeados lutam, dia a dia, pela sobrevivência e a contestação social vai crescendo.
A juntar a tudo isto, estamos a assistir ao início de um conflito tarifário com os Estados Unidos. Ainda não sabemos a escala desta vaga de tarifas que se prepara contra a Europa, mas, a acontecer, de Bruxelas já chegou a garantia de que haverá retaliação. Uma escalada tarifária será sempre uma má notícia, especialmente quando estávamos perto de vencer a batalha contra a inflação.
Por fim, temos, claro, a guerra na Ucrânia, que dura há já quase três anos. O papel da Europa perante uma possível resolução deste conflito mantém-se incerto e este conflito alterou de forma significativa as dinâmicas económicas de vários países, transferindo as atenções para os investimentos na defesa.
Como dizia Paulo Portas, na sua palestra anual da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), “há mais mundo para além dos Estados Unidos e China”. E é isto que deve estar na mente dos decisores, empresários e gestores europeus. Se os Estados Unidos iniciam conflitos tarifários com economias tão importantes como o Canadá ou o México, isso pode abrir janelas de oportunidade para os europeus. Ou seja, há margem para o estreitamente das relações comerciais e económicas com países tão importantes e dinâmicos.
Mas, para aproveitar estas brechas que se abrem, os europeus precisam de resolver desafios antigos, como os níveis de produtividade e de inovação, especialmente tecnológica. A contínua aposta na internacionalização, que é, aliás, uma das principais bandeiras da atividade da CCIP, deve ser uma das respostas, adaptando o destino das empresas consoante as circunstâncias atuais. A estratégia da CCIP passa por ajudar as empresas a expandirem os seus negócios além fronteiras, a exportarem, a investirem e a criarem parcerias internacionais. Neste sentido, em 2025, tem um plano internacional que prevê 32 Missões Empresariais a 25 mercados em crescimento.
A primazia do Estado e das associações empresarias deve estar no constante apoio a estes processos e na abertura de portas em mercados externos. Tudo isto contribuirá para que, no meio da tempestade que se forma, a Europa consiga navegar.