Começou a programar num Nokia e acabou a trabalhar numa start-up do MIT

Conheça a história inspiradora de Elvis Chidera, um jovem de 19 anos nascido numa aldeia da Nigéria que, com um telemóvel antigo, resiliência e curiosidade conseguiu ultrapassar barreiras e atingir os seus objetivos.

A história de sucesso de Elvis Chidera começou com uma curiosidade: como construir um website. O interesse pelo tema nasceu do facto de Elvis passar grande parte do seu tempo livre online, a descarregar jogos e a ler artigos na Society of Robots.

Sem acesso fácil à internet na zona onde habitava, Chidera juntava dinheiro durante semanas para poder comprar um pack de 10 megabytes que, em 2012, custava cerca de 100 naira (0,23€). Apesar de parecer pouco, esta tarifa dava para navegar um mês na internet.

De forma a perceber como é que podia construir um website, Elvis fez uma pesquisa rápida no Google e clicou no primeiro resultado da pesquisa. Nisto, surgiu um artigo que explicava que era preciso aprender duas linguagens informáticas: HTML e CSS. Depois de confirmar com outras fontes que era preciso aprender estas duas terminologias, começou a aprender a programar através da plataforma da W3CSchools.

O jovem aspirante a programador teve dificuldades na escola, tanto a ler, como a escrever, e só conseguiu chegar ao patamar dos seus colegas através de um treino e estudo contínuos. Esta resiliência foi-lhe especialmente útil quando se deparou com as dificuldades das duas linguagens informáticas que, ao princípio, não lhe faziam qualquer sentido. Quando se sentia “encalhado”, Chidera recorria a tutoriais de outras fontes que lhe dessem as respostas para poder continuar.

Meses de estudo intenso levaram o jovem a conseguir familiarizar-se com as linguagens de HTML, CSS e JavaScript. O primeiro clique de empreendedorismo na sua vida deu-se quando um amigo lhe mostrou o filme “Social Network” (A Rede Social), que caracteriza a história de Mark Zuckerberg no caminho para a construção do Facebook.

Deste filme nasceu a ideia de criar uma versão melhorada do Facebook. Nesta altura ainda não era possível ver os amigos que estavam online e a rede social estava construída para interagir com pessoas que conhecesse na vida real.

Sem capacidades financeiras para comprar um computador, um amigo ofereceu-lhe um Nokia 2690 – um telemóvel básico (por básico entenda-se que não é um smartphone) -, dando-lhe, assim, a possibilidade de programar, algo que, futuramente, viria a mudar a sua vida.

Nokia 2690, o telemóvel utilizado pelo jovem nigeriano.

A ideia da rede social revelou-se um fracasso, tendo conseguido apenas 200 utilizadores. Independentemente do insucesso, o jovem empreendedor retirou
duas lições importantes: a dificuldade por que passam as novas plataformas e a necessidade de testar o mercado antes de conceber um produto/serviço que demora a ser feito (aplicar a metodologia lean startup poderia ter resolvido o problema).

Deu um passo em frente, desistiu da rede social, depois de meses de trabalho, e  focou-se em conceber algo de que a sua comunidade precisasse e que os seus potenciais clientes estivessem dispostos a pagar.

Com isto em mente, teve a ideia de tornar as SMS mais baratas, criando uma espécie de plataforma parecida com o Whatsapp, mas para mensagens de texto. Para conseguir montar esta nova ideia teve de aprender Java, algo a que se refere como um dos maiores desafios que encontrou no seu percurso.

Depois de alguns cursos online de Java, e de meses de trabalho, o projeto – intitulado Xmx Me – ganhou vida. Refira-se que a grande diferença entre Elvis e qualquer universitário que esteja a aprender programação é que o jovem nigeriano concebeu o seu projeto no Nokia.

A Xmx me foi relativamente bem-sucedida. Em pouco tempo, e depois de ter tido cobertura mediática, a aplicação mobile cresceu rapidamente para quase cinco mil utilizadores.

A falta de experiência na gestão de um negócio fez com que Chidera fizesse alguns erros:

  1. Não havia nenhuma maneira fácil de cobrar aos utilizadores do serviço porque grande parte dos nigerianos não tinha cartão de débito. Para contornar esta barreira havia a possibilidade de pagar com crédito das operadoras dos telefones. O problema deste método de pagamento é que não havia nenhuma maneira oficial de converter o crédito em dinheiro, o que fazia com que Chidera tivesse de vender o crédito acumulado a preços bastante mais baixos.
  2. Com a falta de experiência houve falhas em alguns departamentos fulcrais ao bom funcionamento de qualquer projeto. Neste caso a maior foi na contabilidade. Elvis estava a perder dinheiro e não teve em conta os custos de manutenção do serviço.

Depois de pedir dinheiro emprestado algumas vezes, para manter o negócio em funcionamento, o jovem empreendedor acabou por desistir.

Nesta altura, o objetivo era conseguir juntar dinheiro para comprar um portátil. Como não tinha fundos para o conseguir decidiu aceitar um trabalho em regime de freelancer para construir um website, o que acabou por fazer totalmente através do Nokia. Sem conseguir ter acesso ao visual do website através do telemóvel contava com o feedback constante de um amigo que lhe ia apontando as falhas.

Finalmente foi capaz de comprar um portátil e começou a trabalhar em aplicações mobile para o sistema operativo Android. Depois de meses de trabalhos bem-sucedidos, e de clientes satisfeitos, conseguiu um trabalho em full-time numa das grandes cidades da Nigéria, Lagos. O emprego acabou por não durar muito, visto que apareceu a oportunidade de trabalhar para a Dot Learn, uma start-up do MIT (Massachusetts Institute of Technology) que queria revolucionar a educação.

A paixão por revolucionar a educação em África falou mais alto e Elvis acabou por aceitar o novo desafio. Atualmente o jovem nigeriano está a trabalhar na Dot Learn e, ainda este ano, espera poder entrar numa universidade para dar continuidade à sua aprendizagem.

Este artigo foi feito com base no texto publicado por Elvis Chidera na plataforma Medium.

Comentários

Artigos Relacionados