Entrevista/ “Com a ajuda dos nossos robôs, o nosso staff consegue dar mais atenção aos clientes”

Manoel Junior, CEO da Estação Menina Bonita

Manoel Junior transformou um armazém de pneus abandonado há mais de 10 anos num restaurante tecnológico que proporciona uma viagem gastronómica por 15 países. Em entrevista ao Link To Leaders, o CEO do Estação Menina Bonita, como é chamado o novo restaurante de Lisboa, fala do projeto que implicou um investimento de 2 milhões de euros e do que o levou a trazer a tecnologia para o centro do negócio.

Robôs a servir às mesas, casas de banho inteligentes e cascatas luminosas. É assim o novo e mais tecnológico restaurante de Lisboa. Chama-se Estação Menina Bonita, abriu em soft-opening no final de outubro e promete não só uma viagem gastronómica por 15 países, como também uma verdadeira experiência tecnológica. A começar pela entrada, os clientes são recebidos por uma escultura de três metros de altura, a Tupi, uma guerreira mitológica, do artista plástico brasileiro Braga Tepi. Já o serviço de mesa e a receção dos clientes é assegurado por dez robôs. Por isso, não estranhe se não for um humano a trazer-lhe o seu pedido.

Também o design e o entretenimento do espaço têm como base a tecnologia, com uma cascata luminosa e kinetic balls para espetáculos de luzes, enquanto se desfruta da refeição.

Como refere Manoel Junior, CEO da Estação Menina Bonita, ao Link To Leaders, esta não é uma viagem de sabores como qualquer outra. “Quem visita a Estação Menina Bonita, para além de experimentar gastronomia diversa e de elevada qualidade, embarca numa experiência sensorial, com espetáculos de luzes e música que não se encontra em mais nenhum restaurante em Portugal, diria mesmo, na Europa”, conta.

Como surgiu a ideia de criar o restaurante Estação Menina Bonita? Qual o objetivo?
Desde há muito que tenho o sonho de abrir um restaurante, mas não queria que fosse apenas mais um no mercado com tantos outros. Boa comida na restauração portuguesa é a mesma coisa que pleonasmo – em cada tasca da esquina temos um exemplo.  Assim, decidi tirar partido da minha experiência nas áreas mais tecnológicas e criar um espaço completamente inovador.

A tecnologia não funciona apenas como adereço estético ou auxílio no funcionamento normal do restaurante, como as janelas falsas e os nossos robôs, traz também a vertente de entretenimento que eu sempre quis ver aliado a uma boa refeição. Quem visita a Estação Menina Bonita, para além de experimentar gastronomia diversa e de elevada qualidade, embarca numa experiência sensorial, com espetáculos de luzes e música que não se encontra em mais nenhum restaurante em Portugal, diria mesmo, na Europa.

Quais foram os maiores desafios na renovação do espaço?
Quando este projeto começou, o espaço era nada mais do que um armazém de pneus abandonado há mais de 10 anos e foi necessário muito trabalho árduo para o transformar no nosso restaurante de sonho. As obras foram diárias, de domingo a domingo, com muito suor e lágrimas. Aos poucos o restaurante foi ganhando a cara e atingindo os contornos que queríamos. Todo o projeto foi idealizado por mim, sem nenhuma sugestão seja de arquiteto ou de engenheiro.

Quanto tempo levou a criar o espaço?
O projeto demorou três anos, desde a sua conceção até a conclusão. Já as obras, demoraram 11 meses até a sua conclusão.

“Até ao momento, toda a renovação do espaço e o investimento em tecnologia rondam os 2 milhões de euros. Quase todo o investimento foi com capitais próprios”.

Qual o investimento realizado? Capitais próprios ou teve o envolvimento de investidores?
Até ao momento, toda a renovação do espaço e o investimento em tecnologia rondam os 2 milhões de euros. Quase todo o investimento foi com capitais próprios. Contudo, tivemos que recorrer a dois pequenos empréstimos.

Que tipo de experiência diferenciadora traz a Estação Menina Bonita?
A experiência que nós proporcionamos é única no país. Inaugurámos o conceito “Immersive Restaurant Experiences” em Portugal. Todo o espaço é completamente inovador, com uma dinâmica futurista e elegante. Temos um sistema de “Kinetic Leds” e uma “Cascata Digital” que criam espetáculos de luzes e água todas as noites, para que uma visita à Estação Menina Bonita seja muito mais do que uma simples refeição.

No fundo, quem vem ao Estação Menina Bonita vem a uma estação de comboio. Vem fazer uma viagem que vai muito além gastronomia.

Porquê uma forte aposta na tecnologia?
Atualmente, a tecnologia está enraizada na nossa rotina e cada vez mais estamos conectados. Algo que eu tenho observado durante toda a minha carreira, a trabalhar no meio tecnológico, é que podemos sempre ir mais longe no que diz respeito à inovação e o meu maior objetivo é conseguir inovar para proporcionar momentos inesquecíveis. O mundo hoje é tecnológico e apenas temos que aprender a tirar proveito disso. E é isso que estamos a fazer.

“No fundo, a tecnologia deve estar a nosso favor. Os robôs são elementos auxiliares dos nossos colaboradores. Nunca serão elementos principais”.

Com os robôs a serem uma peça fundamental no serviço oferecido, não teme que se perca a relação de proximidade entre cliente e empregado, inclusive no aconselhamento e nas sugestões de pratos a experimentar?
Penso que isso não será um problema, uma vez que a principal função dos robôs é darem apoio ao nosso staff. A sua existência não significa que não haja funcionários a acompanhar as mesas, simplesmente trabalham em conjunto com os robôs que facilitam alguns dos processos mais difíceis do seu trabalho, como andar a carregar bandejas de uma ponta à outra do restaurante, que é um espaço grande e com muitas mesas. Com a ajuda dos nossos robôs, o nosso staff consegue dar mais atenção aos clientes, com mais qualidade nas suas rotinas de trabalho e conseguimos evitar situações indesejáveis no serviço.

No fundo, a tecnologia deve estar a nosso favor. Os robôs são elementos auxiliares dos nossos colaboradores. Nunca serão elementos principais. São eles que permitem que nosso atendimento seja personalizado, como nunca foi visto antes num restaurante.

Como caracteriza a carta do Estação Menina Bonita?
Com pratos de 15 países do mundo, de todos os continentes, a principal característica da nossa carta é a sua diversidade. Utilizamos produtos de alta qualidade para levar os nossos cliente numa viagem de sabores pelas gastronomias do mundo, começando, por exemplo, no Peru, passando por vários outros países da América do Sul e do Norte. Temos também vários pratos europeus, de França, Itália e, claro, Portugal, e também oferecemos opções de pratos africanos, com sabores da Tunísia e Marrocos, acabando a viagem gastronómica no Japão.

Como tem sido a aceitação?
Estamos em regime de soft-opening, por isso o crescimento tem acontecido aos poucos, mas o feedback que temos recebido tem sido bastante positivo e estamos muito orgulhosos.

Com uma carreira profissional na construção, porquê a restauração? O que o motivou a lançar-se nesta área?
Tinha investimento em diversas áreas, como uma empresa que desenvolve equipamentos para trabalhos em altura para prédios em todo o mundo ou outra de importação de equipamentos tecnológicos. Mas resolvi investir na área de maior projeção em Portugal, o Turismo. Desta forma juntei os conhecimentos que adquiri nas diversas áreas que trabalho e criei algo único. O Restaurante Estação Menina Bonita surgiu da necessidade de criar algo que nunca tinha sido criado antes. De oferecer a todos os que vêm visitar a nossa bela Lisboa algo de singular, único e incomparável.

Queremos proporcionar experiências nunca vividas; não só pela degustação de sabores, cheiros e cores, provenientes das misturas mais exóticas do mundo culinário, mas também pelo prazer do bom serviço, da boa conversa e da boa música. Somos muito mais do que apenas um lugar onde pode ter uma excelente refeição. Somos um lugar onde se criam memórias, onde se vive uma experiência. Quem nos visita verá o que de especial temos para oferecer!

“Ter as pessoas certas do meu lado foi um dos trunfos para conseguir abrir as portas da nossa Estação… isso e muita dedicação e persistência. Não basta querer”.

Face a esta experiência, que conselhos pode partilhar com jovens empreendedores que queiram lançar-se no setor da restauração?
Estar rodeados das pessoas certas, pessoas com know-how diferente do seu, dispostas a partilhar e pessoas nas quais confiem e que lhes possam dizer a verdade, mesmo que nalguns pontos do caminho seja difícil ouvir certos feedbacks. Ter as pessoas certas do meu lado foi um dos trunfos para conseguir abrir as portas da nossa Estação… isso e muita dedicação e persistência. Não basta querer. Eu e a minha família trabalhámos muito para concretizar este sonho. A minha mulher, a minha irmã, os meus filhos, todos pusemos “as mãos na massa”.

Numa frase, como define esta sua aventura empreendedora?
A Estação Menina Bonita é um projeto de amor. Nasce para celebrar o amor, mas que pretendo que seja uma viagem prazerosa para todos aqueles que nos visitam.

Projetos para o futuro?
De momento, o nosso foco é inaugurar e estabilizar a Estação Menina Bonita, e fazê-la crescer, e tencionamos esforçar-nos para isso. Depois queremos ser reconhecidos como um “destination restaurant”, que vale a pena. E quando chegarmos a esse ponto, logo pensamos numa próxima aventura!

Como vê o restaurante dentro de um ano?
Vejo a nossa Estação cheia de movimento, com pessoas de todos os cantos do mundo a divertirem-se e a levarem daqui uma experiência a repetir!

Respostas rápidas:
O maior risco: 
Estação Menina Bonita.
O maior erro: Acreditar que as pessoas nos ajudam de coração aberto.
A maior lição: Tudo o que parece ser fácil não é. É muito mais difícil do que possamos imaginar.
A maior conquista: Reencontrar e reconquistar a Ana, minha esposa e alma-gêmea. Minha Menina Bonita.

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