Entrevista/ “Capacitar as pessoas com competências digitais é uma emergência”

Susana Teixeira, diretora da Cegid Academy na Ibéria e África

“A Inteligência Artificial está a transformar a forma como as empresas operam, inovam e se diferenciam. Já não se trata de uma promessa vaga do futuro, mas sim de uma realidade que se transformou num catalisador de crescimento para os negócios”, alerta Susana Teixeira, diretora da Cegid Academy na Ibéria e África.

A Cegid Academy é a unidade responsável por entregar formação a todo o ecossistema da Cegid, empresa de soluções de gestão empresarial na cloud para profissionais dos setores financeiro, de recursos humanos, contabilidade, retalhista, para empreendedores e pequenas empresas. No ano passado, e no que respeita ao número de inscritos em formações, cresceu cerca de 54% entre Portugal, Angola, Cabo Verde e Moçambique. Desde o início deste ano, a oferta formativa da Cegid Academy passou também a estar disponível em Espanha.

Também no começo de 2024, a Cegid abriu um centro de IA em Portugal acerca do qual Susana Teixeira revelou que as soluções de gestão que estão a ser desenvolvidas “serão comercializadas em todos os mercados em que a empresa está presente”. Desta forma, o talento português chegará a vários países europeus. A diretora da Cegid Academy na Ibéria e África lembra ainda que a “aposta em formação ou programas de mentoring é, sem dúvida, um ponto muito importante para motivar e reter os colaboradores nas organizações, sobretudo quando falamos das gerações mais recentes”.

Qual é neste momento o foco de atuação da Cegid Academy?
Atualmente, o nosso foco principal é disponibilizar formação em todos os produtos do portefólio de soluções da Cegid para a Ibéria e África. Com o crescimento exponencial da empresa, nomeadamente em termos de aquisições na região, há vários produtos cuja formação necessita ser criada ou estruturada, de modo que se possa enquadrar nos mais elevados standards de qualidade da Cegid. Continuamos, também, a apostar em áreas importantes para a generalidade das empresas, nomeadamente em formações na área tecnológica e digital – por exemplo, os cursos de Inteligência Artificial (IA), em que aproveitamos todo o know-how da Cegid neste âmbito.

“(…) continuamos a ter necessidade de colmatar a falta de profissionais com competências tecnológicas nos nossos clientes e parceiros”.

Quais os vosso planos de expansão geográfica para este ano? E em termos de áreas de especialização chave, quais as apostas?
A principal prioridade em termos de expansão geográfica é Espanha. Existimos há mais de 20 anos em Portugal (anteriormente denominados Primavera Academy) e, por isso, possuímos práticas e modelos de trabalho muito maduros e de sucesso comprovado no mercado. O objetivo agora é aproveitar toda esta experiência e conhecimento na expansão para o mercado espanhol.

Relativamente às áreas de especialização, este ano continuaremos focados em alargar o nosso portefólio de formação no que respeita às soluções de gestão da Cegid, que estão em constante evolução, assim como, na área tecnológica, que é fundamental para o processo de digitalização das empresas. Os programas de reconversão profissional são igualmente uma prioridade, visto que, continuamos a ter necessidade de colmatar a falta de profissionais com competências tecnológicas nos nossos clientes e parceiros.

Portugal, Espanha e África. Quais os mercados prioritários?
Num mundo que é cada vez mais digital e em que a transformação está a acontecer a um ritmo muito acelerado, capacitar as pessoas com competências digitais é uma emergência e essa é a nossa grande missão: preparar os profissionais e dotá-los de competências digitais úteis, que realmente agreguem valor e contribuam para acelerar a digitalização das empresas. Neste contexto, ainda há muito por fazer, tanto em Portugal como em Espanha e África, por isso, estes são mercados importantes para nós, quer pela forte representatividade que possuímos a nível de quota de mercado, quer pelo potencial de crescimento que estes representam, sobretudo, no que diz respeito à adoção de soluções de gestão cloud.

“(…) as empresas com maior dimensão acabam por apresentar uma maior propensão para investir em formação”.

Qual o perfil de empresa que procura as vossas soluções de formação?   
Oferecemos soluções de gestão empresarial para organizações de todos os segmentos (desde as micro às grandes empresas) e setores de atividade (finanças, recursos humanos, contabilidade, retalho, etc.). Nesse sentido, as empresas que nos procuram para formação acabam por ter um perfil bastante diversificado. Ainda assim, verifica-se que as empresas com maior dimensão acabam por apresentar uma maior propensão para investir em formação.

Quais as áreas mais procuradas?
São as formações no âmbito das soluções de gestão e na área tecnológica como, por exemplo, formações em ferramentas de produtividade, bases de dados ou linguagens de programação. Os programas de reconversão profissional estão também no top das mais procuradas e são um enorme caso de sucesso, na medida em que permitem enveredar por uma área onde há inúmeras oportunidades. Estes programas destinam-se a pessoas que procuram uma nova carreira profissional no mundo das Tecnologias de Informação (TI), para desempenharem funções de programador ou consultor das soluções Cegid Primavera, por exemplo. São programas bastante atrativos, uma vez que facilitam a entrada no mercado de trabalho, através de programas de estágio que permitem a integração dos formandos no enorme ecossistema de parceiros e clientes da Cegid.

“A formação em tecnologia (…) é algo absolutamente indispensável nos dias de hoje (…)”.

Qual o impacto da formação tecnológica no quotidiano das empresas?
A formação em tecnologia, quer seja para adquirir as melhores práticas de utilização do software de gestão, quer para aprender uma linguagem de programação ou trazer a IA para o dia a dia dos profissionais, é algo absolutamente indispensável nos dias de hoje, pois só assim será possível promover a digitalização dos processos de gestão das empresas, e, por consequência, aumentar a produtividade, a eficiência e a competitividade dos negócios.

Na sua opinião como é que as empresas – portuguesas e não só – se devem preparar para os desafios da IA? O que não pode faltar nas suas estratégias de transformação digital?
A Inteligência Artificial (IA) está a transformar a forma como as empresas operam, inovam e se diferenciam. Já não se trata de uma promessa vaga do futuro, mas sim de uma realidade que se transformou num catalisador de crescimento para os negócios. Tem inúmeras utilizações possíveis, muitas das quais já fazem parte do nosso quotidiano, ainda que, por vezes, não nos apercebamos disso. Quando “conversamos” com o nosso telemóvel ou quando recebemos sugestões personalizadas de séries ou filmes a partir de uma aplicação de streaming de vídeo, estas interações já são suportadas em IA. Alguns casos de uso mais comuns nas empresas passam, por exemplo, pelas áreas de atendimento ao cliente, com a criação de assistentes virtuais, mas existem muitos mais. As empresas devem começar a familiarizar-se com estas tecnologias e perceber onde é que estas podem ser úteis para efetuar tarefas de menor valor acrescentado e melhorar o serviço que prestam aos clientes.

No início deste ano a abriram um Centro de IA em Portugal. Qual o valor que o centro vai aportar às organizações e à forma como estas trabalham?
Estamos conscientes do poder revolucionário da IA nas operações diárias dos nossos clientes. Por essa razão, abrimos um novo centro de IA em Portugal, que exportará soluções de gestão empresarial cada vez mais inovadoras e úteis para toda a Europa. Este centro de investigação surge com o propóstio de disponibilizar às empresas soluções de gestão úteis e inovadoras, que simplificam o dia a dia dos profissionais, aumentando a produtividade e a competitividade dos seus negócios.

As nossas soluções utilizam a IA para aumentar a eficiência de todos os processos de gestão, acelerando a gestão diária dos negócios e colocando a Inteligência Artificial a trabalhar para os utilizadores (e não o contrário). Desta forma, as empresas conseguem potencializar os pontos fortes, poupar tempo, reduzir erros, melhorar a tomada de decisão e criar mais oportunidades de negócio.

Vão “exportar” talento ou estratégia não passa por aí?
Como referi anteriomente, as soluções de gestão que estão a ser desenvolvidas no centro de IA em Portugal serão comercializadas em todos os mercados em que a empresa está presente. Assim, podemos dizer que iremos “exportar” o nosso talento para várias países da Europa, entre eles Espanha, França e Itália.

“(…) a aposta em formação ou programas de mentoring é (…) um ponto muito importante para motivar e reter os colaboradores nas organizações (…)”.

Na sua opinião, quais as principais lacunas das empresas para fidelizarem os talentos que formam? O que está a falhar?
O tema da retenção de talento tem várias dimensões: desde as mais tradicionais, que passam pelas condições remunerativas e outros benefícios; até às mais recentes, como o “salário emocional”, que inclui o trabalho remoto, a flexibilidade de horário, o ambiente de trabalho colaborativo e inclusivo, bem como, o sentimento de propósito na função. Outro fator que considero que, claramente, pesa na decisão da maioria dos colaboradores em se manter numa organização é a capacidade que esta tem de apoiar a progressão de carreira, com base no desenvolvimento contínuo de competências. Assim, a aposta em formação ou programas de mentoring é, sem dúvida, um ponto muito importante para motivar e reter os colaboradores nas organizações, sobretudo quando falamos das gerações mais recentes.

Quais as metas da Cegid Academy até ao final do ano?
Os principais objetivos para 2024 consistem em continuar a crescer a dois dígitos, alargar o portefólio formativo – quer no âmbito das soluções de gestão, quer em outras áreas tecnológicas – e, acima de tudo, continuar a apoiar o tecido empresarial e os indivíduos que confiam em nós a serem mais produtivos, inovadores e a aumentarem o seu potencial a nível profissional, de forma a serem mais competitivos no mercado.

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