Opinião
Brasil consolida liderança na América Latina e avança em internacionalização de start-ups

O ecossistema brasileiro de start-ups vem dando passos firmes rumo à consolidação internacional, ao mesmo tempo que fortalece as suas bases estruturais no território nacional.
O mais recente Startup Ecosystem Index 2025, publicado pela StartupBlink, reafirmou o protagonismo do Brasil no cenário latino-americano de inovação. O país manteve sua posição de liderança na região e ocupa agora o 27.º lugar entre mais de 100 nações avaliadas globalmente — um sinal de resiliência e maturidade, mesmo diante de um cenário económico global instável e da crescente competitividade em hubs emergentes como Índia, Turquia e Vietname.
A participação brasileira na Viva Technology (VivaTech) — um dos maiores eventos mundiais de inovação e tecnologia, realizado anualmente em Paris — foi histórica. Pela sétima vez consecutiva, a ApexBrasil, o Sebrae e a Embaixada do Brasil na França organizaram uma delegação nacional. O que chamou a atenção este ano foi o recorde de 40 start-ups participantes, superando as seis do ano passado, e uma presença feminina inédita: 54% das start-ups têm mulheres na liderança.
Entre os setores representados destacam-se: TI e software (9 start-ups), saúde, biotech e wellness (7 start-ups), agtech e foodtech (4 start-ups), além de soluções em educação, finanças, logística, sustentabilidade e energia.
Três start-ups destacaram-se pela proposta de valor alinhada com impacto social e inovação com propósito:
- Muda Meu Mundo (CE), agtech fundada em 2019, conecta pequenos produtores a grandes players do retalho através da tecnologia “farmer first”;
- Preta Porter (RJ), referência em afro luxo e inovação em produtos capilares afrodescendentes;
- Coill (RO), climate tech da Amazónia, que utiliza IA e sensoriamento remoto para monetizar a biodiversidade amazónica de forma sustentável.
O Sebrae Startups firmou uma parceria com o Startup Genome, organização global referência em análises comparativas de ecossistemas. A metodologia, aplicada em 65 países, será usada inicialmente em três ecossistemas brasileiros (cujos nomes ainda não foram revelados) e terá foco especial em bioeconomia na Amazónia. O objetivo é mensurar impactos reais de políticas públicas, criar padrões nacionais de desenvolvimento e integrar o Brasil nos benchmarks internacionais de maturidade de ecossistemas.
Segundo o Observatório Sebrae Startups, o Brasil conta com mais de 19 mil start-ups mapeadas, mas apenas 26,76% estão em fase de tração — indicando uma lacuna crítica no funil de crescimento e escalabilidade. A grande maioria ainda opera em fases iniciais ou de validação de mercado.
A próxima grande vitrine do ecossistema será a 8.ª edição do Startup Summit, marcada para os dias 27 a 29 de agosto em Florianópolis — cidade que há anos figura entre os principais hubs de inovação do país. O evento reunirá 200 palestrantes, 20 trilhas de conteúdo, 9 palcos simultâneos e uma plenária principal, 150 expositores, e a presença robusta de 250 fundos de venture capital nacionais e internacionais.
Entre os nomes já confirmados, destaque para Tom Gruber, cocriador da Siri e defensor da IA com propósito; Werner Vogels, CTO global da Amazon; Mois Navon, cofundador da Mobileye, vendida por US$ 15 bilhões à Intel; Benedict Evans, referência de Silicon Valley; Claudia Rosa, business angel reconhecida pela sua atuação em start-ups lideradas por mulheres.
A presença brasileira em eventos internacionais segue crescendo, especialmente no Web Summit Lisboa, onde a delegação nacional tem aumentado ano após ano. As missões internacionais não apenas posicionam as start-ups brasileiras no radar de investidores e parceiros globais, como também oferecem acesso direto a mercados estratégicos, soft landing, capital intelectual e networking internacional.
O que se observa é um movimento consistente: start-ups brasileiras estão a tornar-se globais mais cedo, com propósito definido, soluções escaláveis e diversidade nas suas lideranças. A internacionalização já não é um plano de longo prazo — é uma necessidade estratégica para 2025.
O Brasil vem se consolidando como o principal polo de inovação da América Latina, e isso deve acender o radar de investidores, fundadores, aceleradoras e agentes de inovação não só em Portugal como no mundo todo. O progresso brasileiro é um convite a colaboração estratégica.
Eis o que o caro leitor deve considerar com atenção:
- Start-ups brasileiras estão maduras para a internacionalização e buscam parceiros estratégicos na Europa. Seja por meio de missões, soft landing ou alianças comerciais, Portugal é um ponto de entrada natural — pela língua, cultura de inovação e proximidade com hubs como Lisboa, Porto e Braga.
- Ecossistemas complementares: Portugal tem forte capital intelectual e uma rede europeia de acesso ao mercado. O Brasil, por sua vez, traz escalabilidade, diversidade de soluções e acesso a mercados emergentes. Parcerias bilaterais fazem ainda mais sentido agora.
- A bioeconomia da Amazónia, a tecnologia com impacto social e o avanço de lideranças femininas no Brasil são tendências de valor global. Há espaço real para investimento de impacto, colaborações académicas e inovação aberta.
- Eventos como a VivaTech, Web Summit Lisboa, Web Summit Rio e o Startup Summit em Florianópolis são pontos de encontro estratégicos para aproximar os dois ecossistemas. Esteja presente, não apenas como espectador, mas como ator ativo.
Em resumo: o ecossistema brasileiro está em crescente expansão— e Portugal pode ser tanto um aliado quanto um beneficiário direto desse movimento.
Se é empreendedor, investidor, acelerador ou ator institucional, esta é a hora de se conectar ao Brasil e fazer essa ponte. Está pronto (a)?