Opinião

Bons ventos para o mercado empreendedor brasileiro

Daniella Meirelles, fundadora da DBRAND e Yuppy

Já são quatro meses de distanciamento social e impacto da pandemia global na economia do Brasil e o que notamos é que, apesar da crise económica gerada, estudos apontam que o Brasil este ano deve atingir uma marca histórica de empreendedorismo com um quarto da população adulta envolvida com seu próprio negócio.

Os grupos que mais costumam ser afetados pelo crescimento do desemprego, como mulheres e pessoas negras, deverão impulsionar esse crescimento. De acordo com pesquisa realizada pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM), estima-se um total de 53,4 milhões de brasileiros estejam à frente de alguma atividade empreendedora.

A Covid-19 exarcebou os problemas sociais no Brasil, trazendo urgência na procura de soluções de combate à desigualdade e pobreza no país. Vimos surgir negócios com resposta imediata ao coronavírus, mitigação dos efeitos do isolamento social e apoio na recuperação económica.

Na área de saúde, a TNH Health desenvolveu um chatbot (conversas de texto automatizadas com inteligência artificial) que oferece informação e triagem da população sobre a Covid-19. A ferramenta facilita o acesso da população à informação confiável e segura e reduz a pressão sobre o sistema de saúde. Já a Pickcells utiliza a visão computacional para tornar o diagnóstico de doenças negligenciadas mais barato, preciso e acessível. O seu algoritmo consegue reconhecer padrões associados à Covid-19 em radiografias de pulmão, apoiando no diagnóstico da doença.

Há também negócios que apresentam soluções digitais em educação. A Redação Online é uma plataforma digital que conecta alunos que estão a preparar-se para o Enem com professores que corrigem as suas redações e os ajudam a melhorar a escrita.

Já a Geekie disponibilizou 20 mil bolsas para estudantes de escolas públicas se prepararem para o Enem usando a sua plataforma adotada pelo Ministério da Educação.
A Fofuu utiliza jogos digitais para melhorar o engagement no tratamento de crianças que têm dificuldade de fala. Com a pandemia, a empresa desenvolveu novas funcionalidades que permitem aos profissionais de fonoaudiologia realizar atendimento remoto e programar o tratamento com jogos.

A IOUU viabiliza o acesso a crédito para micro, pequenas e médias empresas, conectando-as diretamente com investidores. Com a crise, a empresa passou a permitir que pequenos negócios captem empréstimos diretamente com os seus clientes, reforçando o movimento de consumo local e fortalecimento do pequeno empreendedor.

Antes da pandemia, o movimento dos investimentos e negócios de impacto já vinham a ganhar força nos últimos anos no Brasil. Aceleradoras como a Artemisia, a Quintessa e a Din4mo vem apoiando os empreendedores que procuram construir negócios que resolvem problemas sociais e ambientais. Somente a Artemísia conta com mais de 180 negócios de impacto social no país.

Devido ao isolamento, o comércio foi forçado a procurar alternativas, enquanto o consumidor adquire novos hábitos, o que levou ao aumento significativo do e-commerce.
Outro mercado em contínuo crescimento no Brasil que merece destaque é o mercado pet. Hoje, existem mais lares brasileiros com animais domésticos do que com crianças. Com isso, tem crescido a quantidade de serviços e produtos para pets como hotéis, cuidados específicos, treino, comidas especiais, roupas, brinquedos, veterinários entre outros.

Quanto à tendências no mercado, este ano além do trabalho home office e teletrabalho, temos visto negócios voltados para economia compartilhada, foco em nicho, otimização de logística  e geolocalização.
O ecossistema de start-ups, apesar de ter sofrido com a pandemia, deve se recuperar até o final de ano. De acordo com levantamento da empresa de inovação Distrito, os investimentos em start-ups no Brasil somaram US$ 516 milhões entre janeiro e maio, enquanto que no ano passado os aportes nesse período foram menores, somando apenas US$ 431 milhões. A expetativa é de que os investimentos no segundo semestre continuem crescendo em start-ups que atuam em áreas como saúde, educação à distância, e-commerce, agronegócio e tecnologias governamentais.

Vamos por aqui seguindo em frente, criando soluções para os desafios que se apresentam nos negócios, inovando e aproveitando as oportunidades que tem surgido em meio a pandemia. Algumas portas se fecharam, outras se abriram. É preciso ter flexibilidade como o bambu que no meio de um vendaval balança, mas no final mantem-se firme, de pé. Reinvente-se,  se for preciso, pois o que pode parecer o fim, pode ser na realidade um grande começo.

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Daniela Meirelles

Daniela Meirelles

Daniela Meirelles é empreendedora, business advisor, mentora de start-ups e palestrante (Branding, Empreendedorismo e Liderança). Foi fundadora da DBRAND, consultora de branding, marketing e inovação; fundadora/CEO da Yuppy, start-up de media, marketing e eventos; mentora nos programas Startup Rio, Startup Weekend e Founder’s Institute; palestrante; e também atua na organização do II Chapter da Singularity University, no Rio de Janeiro. Tem 15 anos de experiência em marketing, branding e desenvolvimento de novos negócios. Desenvolveu inúmeros projetos para pequenas, médias e... Ler Mais..

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